O Ministério da Saúde alerta para a queda da cobertura vacinal contra o HPV no Brasil. Em Campo Grande, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), o índice de imunização também está abaixo do estipulado pelo ministério, que é de 80% de cobertura.

A vacinação contra o papilomavírus humano, conhecido como HPV, foi incorporada no Programa Nacional de Imunização (PNI) em 2014, e desde 2007 o imunizante é administrado em crianças e adolescentes em mais de 120 países.

Em 2022, a vacinação de meninas de 9 anos atingiu o índice de 64%, sendo esta a maior cobertura vacinal em Campo Grande. Logo em seguida vem o grupo feminino de 10 anos, com 30%; 11 anos, com 25%; e 12 anos, com 13%. Os demais grupos femininos estão abaixo de 10%.

O índice cai ainda mais quando é avaliada a imunização de meninos. O grupo masculino de 9 anos de idade teve apenas 7% de cobertura; aos 10 anos de idade, 9% da população se vacinou; o grupo de 11 anos teve 47% de imunização, sendo o maior índice entre os meninos; o de 12 anos teve 25% de cobertura; e o de 13 anos, 12%.

Em 2023, os índices também estão baixos na Capital. Até o momento, apenas 26% das meninas de 9 anos se vacinaram; 12% das meninas de 10 anos; e as demais faixas etárias estão abaixo de 10%. Em relação aos meninos, 17% dos garotos de 11 anos se imunizaram este ano; 11% dos meninos de 10 anos; e as demais idades estão abaixo de 10% de cobertura.

Em relação ao cenário nacional, o Ministério da Saúde informa que, em 2022, a imunização de meninas caiu para 75,81%, enquanto em 2019 foi alcançado índice de 87,08%, acima da média estipulada.

Entre os meninos, a queda também foi preocupante. O ministério relata que, de 61,55% em 2019, o índice foi para 52,16% no ano passado. A vacinação contra o HPV é uma das maneiras mais eficazes de evitar a contaminação. Outra medida protetiva é o uso de preservativo.

O pediatra Alberto Costa informa que a vacina é extremamente segura e que prescreve a imunização para os pacientes. O Conselho Regional de Medicina comentou que esta é uma iniciativa normal nos consultórios, pois a vacina contra o HPV está prevista no calendário nacional de imunização para crianças de ambos os sexos, a partir dos nove anos de idade.

“Quanto mais cedo a criança faz [a vacinação completa], mais longa é a proteção no futuro. Então uma criança que faz, por exemplo, com nove anos, ela é mais beneficiada em médio e longo prazo do que uma criança que começa a fazer com 12 anos. E é uma vacina extremamente segura, praticamente desprovida de efeitos colaterais indesejados”, comenta o pediatra.

O médico relata também que a vacina contra o HPV é constantemente alvo de fake news e que é dever do médico repassar as informações verdadeiras para os pais e responsáveis por crianças do público-alvo, indicando a necessidade e a segurança do imunizante.

A Secretaria Municipal de Saúde informa que a vacina quadrivalente está disponível nas 74 unidades de saúde da Capital, para crianças de nove a 14 anos de idade.

Segundo a médica ginecologista Juliana Rabelo, mesmo que o paciente adulto já tenha algum dos tipos de HPV, ele pode se imunizar contra os outros tipos.

A imunização após os 15 anos de idade deve ser feita pela rede privada, mas adultos de até 45 anos, que vivem com o vírus da imunodeficiência humana, HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos também podem se vacinar pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

CÂNCER

O Ministério da Saúde fez um alerta, em fevereiro deste ano, sobre a queda da vacinação contra HPV, o que está diretamente relacionado à incidência de casos de câncer no País, principalmente no colo do útero.

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a vacina quadrivalente tem proteção de 70% contra o câncer do colo de útero, enquanto a nonavalente protege contra 90% dos casos.

Ainda este ano, em março, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicou levantamento que estima que há cerca de 320 casos de câncer do colo do útero em Mato Grosso do Sul, desses, 80 são na Capital.

O instituto comenta que não possui dados de registro de casos, já que o câncer não é uma doença de notificação obrigatória, mas que utiliza estimativas por triênio. De acordo com as projeções, o Brasil deve ter 17.010 novos casos de câncer do colo do útero por ano, de 2023 a 2025.

Quanto aos óbitos, o ano mais recente de que o Inca tem registros é 2020, quando houve 6.620 ocorrências de mortes pela doença no Brasil, sendo 98 no Estado e 20 em Campo Grande. Apenas em 2018, aproximadamente, 72 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer do colo do útero, e 34 mil morreram em decorrência da doença nas Américas.

O número de óbitos por câncer do colo do útero ultrapassa 300 mil por ano, dos quais 80% ocorrem em países de baixa e média renda. O HPV tem mais de 200 subtipos de vírus, que são capazes de infectar tanto a pele quanto a mucosa oral, genital e anal de mulheres e homens.

Além do câncer do colo de útero, outras doenças estão diretamente relacionadas ao HPV em todo o mundo, entre elas, o câncer de vulva, câncer de vagina, câncer de ânus, câncer de pênis e câncer de orofaringe, mais conhecido como câncer de garganta.

“Em virtude da ocorrência de câncer de pênis, ânus, respiratório e digestivo, o vírus do HPV deve ser uma preocupação também do público masculino. Por isso, é preconizado que os homens também se vacinem”, relatou Juliana Rabelo.

NOVA VACINA

Em março deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a comercialização da Gardasil 9 nas clínicas privadas de todo o País. A nova vacina protege contra nove tipos de HPV, mas o custo das três doses do imunizante pode ultrapassar R$ 3 mil.

Em Campo Grande, há três clínicas particulares que aderiram à vacinação com a Gardasil 9. A clínica Vaccine Care disponibiliza o imunizante por R$ 1.023 no cartão e R$ 990 à vista.

Na Vaccini, cada dose do imunizante custa R$ 1.150, valor da tabela cheia. Há descontos que variam de acordo com o plano de saúde e outras especificidades dos clientes.

Na Imunitá, a vacina está disponível, mas a clínica não especificou o valor, apenas confirmou que está na mesma faixa dos outros locais, pois “o custo do imunizante é alto”.

A vacina nonavalente protege contra os subtipos 31, 33, 45, 52 e 58 do HPV, além de outros quatro subtipos contemplados na vacina quadrivalente, que são: 16, 18, 6 e 11. Esses últimos quatro subtipos do vírus são os mais comuns e de alto risco, podendo causar verrugas nos genitais e na laringe.

O HPV

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, estudos mundiais estimam que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial tenha HPV.

Os dados comprovam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento da vida. Essa estimativa pode ser ainda maior entre os homens.

Segundo a Febrasgo, estima-se que há cerca de 600 milhões de pessoas infectadas por HPV no mundo, e, de acordo com o Ministério da Saúde, apenas no Brasil, cerca de 700 mil novos casos surgem por ano.

SAIBA

A transmissão do vírus ocorre sexualmente, mesmo que não haja a penetração, podendo ocorrer via oral, anal ou até mesmo durante a masturbação. Além de poder ocasionar câncer, o HPV também pode se desenvolver em lesões, como verrugas genitais.

Tipos de HPV

Os tipos de HPV são classificados de acordo com a área que atingem, com o sintoma que causam ou com a possibilidade ou não de causar lesões cancerosas.

Dos 150 tipos de HPV, cerca de 40 infectam o trato genital de homens e mulheres. São 12 os tipos de HPV considerados de alto risco, ou seja, capazes de ocasionar câncer. Esses são denominados HPV tipo 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59.

Os tipos 16 e 18 de HPV são apontados como responsáveis por 70% dos cânceres de colo de útero detectados em todo o mundo, além de também serem causadores de cerca de 90% dos cânceres de cólon e reto diagnosticados em homens e mulheres.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO