pois, a Selic foi mantida em 13,75%, após decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (26).
Com essa expressiva alta na taxa básica de juros, o custo do consumo passou a ficar mais alto para o trabalhador brasileiro. Entre esses custos, o consumo que mais se distancia da realidade de renda é o financiamento da casa própria.
Conforme levantamento feito pelo Correio do Estado, um imóvel avaliado em R$ 200 mil com entrada de R$ 40 mil e os demais R$ 160 mil financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF) sai com parcelas iniciais de R$ 1.673,00 atualmente, com juros anuais de 9,27%.
Isso é 24% a mais do que o preço encontrado na simulação feita na época da Selic a 2%, na qual a parcela do imóvel de mesmo valor saía por R$ 1.349,00.
A renda mínima necessária neste caso também aumentou. Enquanto uma renda familiar de R$ 4,4 mil já colocava uma família na condição de financiamento, atualmente é necessário ter vencimentos de R$ 5,5 mil.
O mestre em Economia Eugênio Pavão comenta que o período de agosto de 2020 a abril de 2021, quando os juros da taxa Selic se mantiveram em 2%, garantiu ao tomador de crédito a poupança de um valor significativo.
“Na modalidade de financiamento imobiliário com a Selic em 2%, com custo efetivo total [CET] de 7% de juros anuais, um imóvel de R$ 250 mil com a taxa a 2% teria um valor final de R$ 354 mil. Enquanto no atual patamar [com a taxa a 13,75%], com CET de 9,8% a.a., o valor é de R$ 422 mil, ou seja, uma diferença de R$ 68 mil”, pontua.
INFLAÇÃO
O doutor em Economia Michel Constantino ressalta que esse patamar da taxa Selic é um “freio de mão puxado” para investimentos e financiamentos.
“Isso porque o custo do dinheiro está alto. Esse é o objetivo, frear o dinheiro em circulação e desincentivar o uso de crédito neste momento, para reduzir a inflação”, explica.
Proprietário da Bacchi Imóveis, Raphael Bacchi comenta que, como a parcela não pode ultrapassar 30% da renda da família, muitas pessoas acabam se deparando com parcelas que não cabem mais no bolso delas.
“Muitas pessoas tiveram o financiamento negado com esse juros altos. Muita gente teve de optar por um valor de imóvel menor, ou agregar um valor de renda para inserir no cálculo, ou até mesmo abater mais na entrada”, revela.
Ele diz que muitos casais fazem todas as etapas de compra de um imóvel, mas acabam desistindo porque não conseguem se livrar do imóvel que possuem.
“A família vem, faz a simulação e encontra um imóvel em que se interessa, mas não faz proposta porque entrega como condição de pegar o financiamento a venda da casa que tem. Então tem muita gente que tenta fazer permuta para baratear a parcela”.
Pavão comenta que o cenário se desenhou de forma que os financiamentos se encareceram neste ano.
“Com a pandemia, a queda do consumo das famílias, o impacto econômico recessivo forçou o governo a elevar a Selic, em razão da inflação crescente. Como o financiamento imobiliário é fortemente ligado às variações da Selic [com o capital investido em caderneta de poupança], o volume para financiamentos é proporcional à taxa de juros, financiando saneamento e habitação”, explica.
O economista Fábio Nogueira complementa dizendo que essa política monetária da Selic em alta, além de perder arrecadação com a diminuição do consumo das famílias, o governo ainda vê uma queda de emprego e renda.
“Para a parte habitacional, a estabilidade ou a redução do financiamento dos produtos de habitação impacta diretamente no emprego e na renda, pois a construção civil tem impacto imediato na geração de emprego, renda e impostos”, comenta.
ESTABILIZAÇÃO
Com os últimos três meses apresentando deflação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mercado já se posiciona para uma possível redução da taxa básica em 2023, como já informaram as últimas atas das reuniões do Copom.
De acordo com os documentos, a Selic deve ficar estabilizada até o fim deste ano, com previsão de revisão para 14%, mas com maior chance de fechar este ciclo de alta nos 13,75% atuais.
Pavão diz que a expectativa do mercado é de que os juros permaneçam nesse patamar. “Pelo menos até a implantação da política econômica do governo eleito”, finaliza.
A análise vem no sentido de que ainda falta uma reunião em 2022. Caso o Copom decida aumentar para 14%, o Comitê ainda tem o encontro dos dias 6 e 7 de dezembro para isso.
Para o economista Fábio Nogueira, a manutenção da taxa é o mais provável. “Visto que, mesmo com deflação, a prudência seria uma grande aliada. Logo, o normal seria manter até o fim do ano”, diz.
Analista da Safra Invest, Eliseu Nantes comenta que, como essa precificação já havia sido feita pelo mercado, a tendência agora é de que isso se mantenha por mais algum tempo, até a resolução do processo eleitoral.
“Essa Selic, no mínimo, deve continuar nesses patamares por um bom tempo, visto que já existe uma gordura. Então, independentemente se Lula ou Bolsonaro ganhar, basicamente, já existe uma gordurinha aí na taxa Selic para poder segurar a inflação”.
Para ele, ficam algumas respostas que precisam ser respondidas pela economia, como se a deflação dos últimos meses consegue perdurar mais tempo.
“A inflação está conseguindo ser controlada principalmente com [a redução do] o combustível. A pergunta que fica no ar agora é se essa inflação se manterá após a eleição”, indaga.
Em resumo, Nantes acredita que essa incerteza é a baliza para a manutenção dos patamares da taxa básica. “O cenário base hoje é esse: manutenção dessa taxa Selic durante alguns bons meses”.
Constantino diz que a previsão do governo atual é de que a taxa Selic deve continuar em 13,75% até pelo menos o fim do primeiro trimestre de 2023.
No entanto, no relatório prévio de macroeconomia do BTG Pactual da semana passada do banco, a estimativa é de que a taxa se mantenha estabilizada pelo menos no primeiro semestre.
“O Comitê [Copom] continua com um cenário desafiador mesmo com a melhora da inflação local e, em partes, na expectativa. Para 2023, nosso call ainda é de início dos cortes no 2º semestre e com Selic final em 11%, mas com viés altistas”, conclui o comunicado.
FONTE: CORREIO DO ESTADO