O terceiro dia do festival Rock Brasil 40 Anos, que reúne os maiores nomes do BRock no Rio de Janeiro, apostou na vertente mais pop. Na noite de sexta-feira, um público com uma faixa etária um pouco mais elevada (a turma dos 50 parecia estar em maior quantidade) tomou conta da Marina da Glória na noite mais dançante dos cinco dias de evento.

O Suingue sangue bom da garota carioca Fernanda Abreu

Fernanda Abreu abriu a noite com seu pop dançante carregado no soul, no funk e no batidão carioca. ‘Brasil é o País do Suingue’, ‘Veneno da Lata’ abriram caminho para uma homenagem aos colegas de geração 80. Da Blitz, banda da qual fez parte como backing vocal junto com Márcia Bulcão na formação clássica, ela cantou ‘A Dois Passos Do Paraíso’, que seria tocada pela própria Blitz horas depois. Os Paralamas do Sucesso (atração de domingo) foram lembrados por conta da canção que Herbert Viana compôs para Fernanda, no álbum “Raio-X” de 1997, ‘Um Amor, Um Lugar ‘. Já Fausto Fawcett foi lembrado em ‘Kátia Flávia, A Godiva do Irajá’.

Do disco mais recente, 30 Anos de Baile, de 2021, a faixa ‘Tambor’, que traz a participação da lenda do Miami Bass (estilo do qual se derivou o funk carioca) Afrika Bambatta. À essa altura a Marina da Glória já havia se convertido em pista de dança, e para não deixar o ritmo cair, com dois dançarinos de passinho, veio Rio 40 Graus e na sequência um medley de funk carioca dos anos 90 e 2000, de ‘Rap da Felicidade’, de Cidinho e Doca, a ‘Ela Só Pensa Em Beijar’, de MC Leozinho. E já que é carnaval, Fernandinha atacou com sua versão de ‘É Hoje’, o clássico samba enredo da União da Ilha de 1978.

Fernanda Abreu continua apostando na dança em cena, com uma dançarina, uma backing vocal, que também dança, e a própria cantora. Foi uma bela abertura para uma noite de puro balanço pop oitentista.

Biquíni faz show maiúsculo digno de headliner

O Biquíni Cavadão (que agora atende apenas como Biquíni) entrou logo depois de Fernanda Abreu e fez o esperado, que era desfilar hits. Mas o fez de forma tão galharda que contagiou a plateia e acabou ganhando ares de headliner.

Abriu com o sucesso oitentista ‘Tédio’, seguido de ‘Impossível’, essa já dos anos 90. Logo depois entrou o cover dos Paralamas do Sucesso ‘Aonde Quer Que Eu Vá’, sucedido por ‘Janaína’. Houve espaço para o novo single, ‘A Vida’, que o guitarrista Carlos Coelho fez quando seu filho nasceu.

Se o clima era de bailão, o Biquíni empreendeu na parte final o desfiladeiro de hits com Vento Ventania, Mundo da lua, com direito a uma fã no palco assumindo microfone e até com uma certa desenvoltura no palco. Em seguida, os covers de ‘Carta Aos Missionários’ (Uns e Outros), ‘Camila’ (Nenhum de Nós) e ‘Chove Chuva’ (Jorge Benjor). Zé Ninguém encerrou a apresentação com uma participação especialíssima: o filho de Carlos tocando com a banda em um kit de bateria mirim. O Biquíni mostrou que está além de uma banda da série B do BRock e pode sim carregar uma noite de festival como atração principal.

Blitz e nostalgia assumida

Desde 1994 quando se reuniu após 8 anos de separação a Blitz promove um show nostálgico assumido. Evandro Mesquita não tem grandes auspícios de trazer algo novo. Afinal de contas, o que os fãs querem mesmo é ouvir ‘Weekend’, que abriu o show, ‘Betty Frígida’ (a segunda), ‘Mais Uma de Amor (Geme, Geme)’.

Evandro lembrou de sua parceria com Frejat, ‘Baile Quente’, que faz parte do álbum de 2017 “Aventuras II”. Daí se sucederam ‘A Verdadeira História de Adão e Eva’‘A Dois Passos do Paraíso’. No segmento covers entraram ‘Aluga-se’ de Raul Seixas – “sempre pedem para tocar Raul”, disse Evandro – e ‘Perdidos na Selva’ da Gang 90 e Bete Balanço do Barão Vermelho com Fernando Magalhães na guitarra e George Israel no sax.

‘Vai Vai Love’, que Evandro lembrou ter sido a primeira música do primeiro show da Blitz no Circo Voador em 1982, ainda no Arpoador. E ‘Você Não Soube Me Amar’ encerrou a apresentação.

Raio laser e BBB

A premissa é literal. Com o show Rádio Pirata 35 Anos, Paulo Ricardo remonta o fenômeno de 1986, o disco ao vivo de sua ex-banda, o RPM. Rádio Pirata Ao Vivo foi responsável por vendas astronômicas e por consolidar os rapazes como o maior fenômeno pop dos anos 80, e Paulo Ricardo como sex symbol.

O show segue exatamente a estrutura do que foi visto nos anos 80, apenas fazendo algumas adaptações técnicas para se encaixar nos recursos modernos de iluminação. Fora isso, tudo segue o que fora imaginado por Ney Matogrosso, diretor do show. O raio laser está ali, nos levando de volta aos anos 80.

O repertório é o mesmo. Abrindo com ‘Revoluções Por Minuto’, seguida de ‘Alvorada Voraz’ (que teve sua letra alterada no trecho em que fala dos escândalos políticos, inserindo o atual “caso das joias”) e ‘Louras Geladas’. Os pontos altos da apresentação sem dúvida foram ‘London London’, em que Paulo Ricardo desceu do palco para um contato bem direto com as fãs no gargarejo e ‘Olhar 43’. No bis, veio Vida Real, o tema do Big Brother Brasil, que obviamente, não estava no setlist original, mas não podia deixar de constar no show. “Terça-feira estaremos lá”, disse, lembrando da final do reality show. Como em 1986 ‘Rádio Pirata’ fechou a apresentação.

Paulo Ricardo foi prejudicado pelo horário, eram quase duas horas da manhã quando o show teve início. Com isso, muitos não resistiram e no meio do show houve um êxodo considerável da plateia, deixando a pista vazia no meio. Apenas os fãs de primeira hora do RPM e do cantor mantiveram-se firme até as 3h10 da manhã, quando a apresentação se encerrou.

Fonte: Ambrosia