Durante coletiva após o evento de lançamento do MS Qualifica, um Plano Estadual de Qualificação Profissional desenvolvido pelo Governo do Estado, Eduardo Riedel defendeu o Novo Ensino Médio, que vem sendo alvo de críticas de alunos e profissionais da educação.
“Eu acho que a gente tem um conceito errado no Brasil de que a Universidade tem que ser absolutamente generalizada”, afirmou o governador. “Claro que é um grande instrumento pra aumentar a renda e oportunidade de emprego, mas para muitas pessoas que não acessam a universidade, um curso profissionalizante e técnico é uma grande alternativa”, acrescentou.
Riedel argumentou ainda que existe um déficit em todo o Estado de conclusão do Ensino Médio, já que muitos estudantes abandonam a escola antes mesmo de terminar os estudos, e os cursos profissionalizantes podem ser uma boa alternativa para manter o aluno.
“Se chegar ao final do ensino médio em um curso profissionalizante, terá muito mais oportunidade de acessar um emprego, uma oportunidade de trabalho”.
No entanto, alunos que sonham em cursar o ensino superior se sentiram prejudicados pelo novo modelo, já que a carga horária de disciplinas básicas foi reduzida em 25% para que as disciplinas eletivas pudessem ser ministradas.
Reportagens publicadas anteriormente pelo Correio do Estado mostram essa insatisfação.
“Somos muito sobrecarregados, e as matérias são sem nexo nesse novo Ensino Médio, inúteis, na verdade. O que eu aprendo não vai cair no vestibular nem em prova nenhuma, e isso nos desmotiva”, revelou Gabriela Pereira Gomes, jovem que estuda na Escola Estadual Padre José Scampini.
Questionado sobre a possibilidade do modelo de educação afastar os alunos das Universidades, Riedel discordou, afirmando que já existem programas que incentivam o ensino superior.
“Eu não vejo (o Novo Ensino Médio) como excludente, pelo contrário, é inclusivo dentro do produtivo. Claro que quem tiver oportunidade, conseguir, buscar a formação superior é altamente louvável. E também temos programas para isso, como o Vale Universidade, as universidades gratuitas… Então, nós temos que ter alternativas para a sociedade, e não excluir alternativas”, concluiu.
A insatisfação não é demonstrada apenas por parte dos alunos. Professores de todo o estado também aderiram à greve nacional realizada no fim de abril, e fizeram críticas ao sistema de ensino brasileiro.
“Esta proposta do novo Ensino Médio não foi discutida com a sociedade, a carga horária das disciplinas básicas foi diminuída em 25%. Isso aconteceu para dar mais horas para as eletivas, que trazem uma diversificação pobre, como, por exemplo, aula que ensina a fazer sabão”, disse o presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira.
De acordo com Teixeira, a reforma do Ensino Médio não teve uma preparação prévia para diretores e professores sobre as novas disciplinas que compõem a formação técnica e profissional.
“A nova grade curricular como está atualmente, leva a uma formação mais pobre do ensino básico dos estudantes com essas aulas eletivas. O formato não capacita a profissionalização dos alunos e nem prepara eles para um vestibular. Por isso precisamos rediscutir os itinerários”, afirmou o presidente da Fetems.
Com diversas matérias eletivas na grade curricular, conforme o professor, várias escolas da Rede Estadual de Ensino (REE) não teriam estrutura adequada para as novas disciplinas do novo Ensino Médio serem ministradas.
“Os direitos dos professores também são atacados com esta reforma, porque na lei até 30% dos docentes que dão aula das disciplinas itinerantes não precisam ser formados em Pedagogia”, relatou.
NOVO ENSINO MÉDIO
A política de implementação do novo Ensino Médio foi aprovada em 2017, durante o governo do ex-presidente Michel Temer.
Todas as mudanças na grade educacional ocorreriam de forma escalonada até 2024, e uma das propostas era ampliar a carga horária diária de cinco horas para sete horas, totalizando 1,4 mil horas anuais.
Com o novo modelo, todos os estudantes terão aulas direcionadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de terem o direito de escolher disciplinas eletivas que aprofundem o aprendizado nas seguintes áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, e Ciências Humanas.
A oferta de disciplinas eletivas depende da capacidade estrutural das redes de ensino e das escolas. Neste ano, a implementação do novo Ensino Médio segue com a oferta dos cursos e itinerários no 1º e 2º ano na maior parte das escolas.
Segundo a Secretaria de Estado de Educação (SED), a implementação do novo Ensino Médio em Mato Grosso do Sul tem 125 novas unidades curriculares, sendo duas obrigatórias, por comporem os itinerários formativos, e 123 eletivas, em que a escola organiza diferentes aprofundamentos em áreas de conhecimento para a escolha dos estudantes.
As 123 unidades eletivas estão assim distribuídas: 38 na área de Linguagens e suas tecnologias; 30 na área de Matemática e suas tecnologias; 26 na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; e 29 na área de Ciências da Natureza e suas tecnologias.
FONTE: CORREIO DO ESTADO