O porto de cargas em Ladário, que já figurou como um dos principais da América do Sul até a década de 1990, passa por perspectiva de reativação para operar na importação e na exportação em Mato Grosso do Sul.

O projeto foi apresentado ao Correio do Estado pelo prefeito da cidade, Iranil Soares, em julho de 2020, mas até o momento não há efetivamente uma retomada do modal.

Na reportagem publicada em 14 de julho de 2020, o atual vice-prefeito, Hedyl Benzi, que era secretário especial na época, detalhou que a intenção era mudar a economia da cidade e triplicar a arrecadação.
Prefeito e vice foram procurados para detalhar o andamento do processo, mas não responderam à reportagem até o fechamento desta edição.

Para criar essa perspectiva econômica, era preciso que a estrutura fosse totalmente cedida para a prefeitura de Ladário, e a gestão passou a ser total da Autarquia Hidrovia e Docas Ladarense (AHDL) desde 6 de outubro deste ano. A cessão provisória foi conquistada em 2019, assim como a atualização das matrículas e o cadastramento no sistema da União se deram naquele período.

Inicialmente, esse porto tem estrutura para atuar diretamente no transporte de cagas. Na região do Pantanal não existe outro porto que permite o embarque e o desembarque de animais. Em Corumbá, há um porto improvisado que funciona na região chamada Praia Vermelha, mas que não atende às exigências e funciona precariamente.

Nesse cenário, o porto de cargas de Ladário já foi uma referência nesse tipo de transporte, com capacidade para movimentação de até 100 mil animais por ano.

Além da carga viva, a estrutura agora é cogitada como potencial modal para que haja importação e exportação de soja, azeite, vinhos, frutas e também veículos vindos da Argentina, principalmente. Por isso a importância do pleno funcionamento do hub logístico.

AVANÇOS

O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, aponta que as perspectivas para a utilização do Rio Paraguai como via de escoamento de produção estão em alta.

A cessão definitiva do porto de cargas de Ladário é o elemento mais recente, que congrega diferentes medidas que vêm ocorrendo na região.

“O maior exportador de minério em Mato Grosso do Sul é Porto Esperança [gerenciado pela J&F Mineração], que é uma operação no município de Corumbá, a mais ou menos 70 km da cidade. A outra é na Granel Química [em Ladário], com minério de ferro e de manganês”.

“Estamos em processo de licenciamento para ampliação do porto de Ladário, que é o da Granel Química, para que ele possa operar no transporte de um maior volume de minério. Esse outro porto estava desativado e era muito utilizado para operações de gado do Pantanal. Atualmente, é no Porto Geral [Corumbá] que acontece, mas lá não está adequado”, detalhou Verruck.

O secretário foi notificado pelas autoridades ladarenses sobre a assinatura do termo de cessão definitiva do porto de cargas. Verruck aponta que, para a completa ativação, ainda será preciso a realização de investimentos e, futuramente, a terceirização, em forma de concessão, por exemplo, para que haja estrutura financeira suficiente para gerir o porto.

“Em um primeiro momento, vai ser preciso investimento e, talvez, a participação de criadores locais para que o porto retome as atividades de gado. São contenções ambientais. Em um segundo momento, a prefeitura deve fazer uma concessão para que haja mais investimentos e, assim, se consolide a operação com barcaças, inclusive para a Bolívia”, completou.

POTENCIAL

O potencial dessa região vem sendo monitorado pela iniciativa privada de forma mais intensa desde outubro de 2019. Na época, a Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) divulgou articulações com o interesse de ampliar as rotas logísticas em Mato Grosso do Sul e inseriu o porto de cargas de Ladário nessa lista.

A prefeitura do município de 22 mil habitantes e a entidade assinaram um termo de cooperação na época para fomentar atividades empresariais e realizar ações de viabilidade do porto.

Apesar de ser um município de pequeno porte em MS, Ladário tem posição geográfica estratégica, por estar na rota bioceânica ferroviária, com fronteira com a Bolívia, além de ter porto e fluxo pelo Rio Paraguai e o modal ferroviário, pela BR-262 – que atualmente se encontra em situação de estresse e defasagem, pelas condições da via no trecho entre Miranda e Corumbá/Ladário.

A ACICG vem acompanhado as etapas de habilitação do modal portuário. Estudos feitos pelas entidades ligadas nesse processo de reativação apontam que há possibilidade de redução em 25% no valor de frete de produtos, como a exportação da soja via Rio Paraguai.

Além disso, câmaras de comércio na Argentina foram contatadas e apontaram que existe interesse em parcerias. (Colaborou Elias Luz)

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO