No final de 1977, o ano de seu lançamento e do Jubileu de Prata da Rainha Elizabeth II, os Sex Pistols haviam passado por uma sucessão aparentemente interminável de batalhas. Não apenas na televisão, nos jornais e no rádio, mas também nos shows ao vivo. A razão para grande parte dessa turbulência foi o controverso single da banda “God Save The Queen”.
Originalmente chamada de ‘No Future’, a música é conduzida pelo baixo marcante de Glen Matlock – membro da banda que foi expulso do grupo antes mesmo do lançamento do single e substituído por Sid Vicious. Esse segundo single da banda, e um momento marcante em seu único álbum de estúdio, “Never Mind The Bollocks Here’s The Sex Pistols”, alimentaria um ataque à banda que não diminuiria até sua separação em 1978.
A música acabou sendo homônima ao hino do Reino Unido. Na primeira estrofe Johnny Rotten já envia o seu “cortejo”: “God save the Queen/A fascist regime/They made you a moron/Potential H-bomb” (Deus salve a rainha/Um regime fascista/Eles fizeram de você um idiota/Potencial bomba H). A carta com o galanteio segue dizendo: “God save the Queen/She ain’t no human being/There is no future/In England’s dreaming” (Deus salve a rainha/Ela não é nenhum ser humano/Não há futuro/No sonho da Inglaterra).
Rotten mais tarde minimizou o impacto causado dizendo “Para mim, a letra em si era uma coisa divertida. Estava expressando meu ponto de vista sobre a Monarquia em geral e sobre qualquer um que implore sua obrigação sem pensar. Isso é inaceitável para mim. Você tem que ganhar o direito de invocar minha amizade e minha lealdade. E você precisa ter pontos de valor comprovado para que eu o apoie. É assim que é.”
Quinta faixa de “Never Mind the Bollocks”, que viria a ser lançado em outubro de 1977, a música foi lançada como single em 27 de maio de 1977. O maroto produtor da banda, Malcolm McLaren, sabia bem do potencial de polêmica (e consequentemente vendas) do single às vésperas do aniversário de 25 anos de reinado de Elizabeth II, que trazia a que possivelmente é uma das capas de singles mais controversas de todos os tempos – apresentando uma imagem projetada por James Reid da rainha com o nome da banda cobrindo sua boca e o da música vendando os olhos.
Em 7 de junho, o feriado oficial do Jubileu de Prata, McLaren planejou uma provocativa viagem de barco com a banda tocando a música pelo Tâmisa com a intenção de passar pela pompa cerimonial que estava ocorrendo em Westminster. No entanto, após uma briga envolvendo o futuro membro da Public Image Ltd. (banda que Rotten formaria após o fim dos Sex Pistols) Jah Wobble e um cinegrafista, a polícia foi chamada e vários membros do grupo da banda foram presos quando atracaram.
Comercialmente o episódio foi benéfico, ajudando a disparar as vendas, que já tinham grande potencial. O single alcançou o segundo lugar na parada britânica, ficando atrás apenas de “The First Cut Is The Deepest”, de Rod Stewart. Isso, no entanto, é um contínuo ponto de discórdia.
Em meio à escalada de ‘God Save The Queen’, a BBC baniu a música, assim como a Independent Broadcasting Authority, que ditava o que era tocado no rádio. Mas a coisa foi ainda mais longe. Especulou-se que para evitar que o single chegasse ao primeiro lugar da semana, “foi decretado que as lojas que vendiam seus próprios discos não poderiam ter esses discos representados no gráfico”, e assim o registro das vendas do selo da banda, a Virgin, em suas próprias Megastores, foi eliminado.
Mas isso não impediu que a música se tornasse um dos principais hinos do punk (e do rock), nem que os Sex Pistols se firmassem como um dos pilares do gênero. God Save The Queen está em completo alinhamento com os ideais punk, de expor o descontentamento da classe operária com injustiças do sistema, representados de forma latente pela opulência da elite.
45 anos depois, o single foi relançado para “comemorar” o Jubileu de Platina da Rainha Elizabeth II, que está tendo suas festividades ao longo desse final de semana. O relançamento dessa que é uma versão revisitada do clipe foi no mesmo 27 de Maio.
Ainda sobre os Sex Pistols, estreou em 31 de maio nos EUA, pelo Hulu, a série Pistol, baseada no livro de memórias do guitarrista Steve Jones, intitulado Lonely Boy: Tales From a Sex Pistol. No Brasil estreará no Star+ em breve.
Fonte: Ambrosia