A ansiedade pela volta das exportações com a China é grande entre os produtores do Estado. Conforme o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, o início deste ano era o momento em que os produtores aguardavam poder finalmente iniciar um momento de recuperação do setor, após o desempenho ruim do ano passado.
“Era o momento em que o setor estava querendo reagir, e não pôde. O ano passado inteiro foi muito ruim, então a expectativa era para agora. Por isso a ansiedade de poder voltar com as comercializações é grande”, comenta Bumlai.
No fim de fevereiro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou o primeiro caso da doença conhecida como mal da vaca louca no Brasil. Desde então, o embargo da China suspendeu as exportações, afetando três frigoríficos em Mato Grosso do Sul.
De acordo com o economista Eugênio Pavão, a expectativa é de que nesta semana o embargo seja levantado.
“Quando ocorrem problemas sanitários, a tendência é a solução por trâmite burocrático, que em 2021 foi de 100 dias de suspensão. Em 2019, o prazo foi de 13 dias. Como temos representação de Mato Grosso do Sul na China, provavelmente a punição seja suspensa em prazo curtíssimo, pois o caso [do mal da vaca louca] ocorreu distante da Região Centro-Oeste”, opina.
Arroba do boi
Segundo o último boletim de pecuária divulgado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), no período de 1 a 16 de fevereiro houve uma recuperação no preço da arroba. O boi gordo foi cotado ao valor médio de R$ 263,67 por arroba no período, com uma alta de 4,51% no valor do início de fevereiro.
A arroba da vaca registrou alta de 4,72% e encerrou o período cotada a R$ 245,17. O próprio boletim também falava em um início de alta para o começo de março. A última cotação, divulgada no dia 10 de março, foi de R$ 258,07 na arroba do boi gordo e de R$ 240,78 na da vaca.
Ainda de acordo com a análise do economista Michel Constantino, os impactos são proporcionais ao tempo do retorno das exportações.
“Os pecuaristas, frigoríficos e toda a cadeia produtiva da carne estão tendo alto prejuízo com o embargo. Todos os custos envolvidos no processo não param, e esse prejuízo vai demorar para ser recuperado no setor. Esse impacto na cadeia produtiva, na economia e na dinâmica logística vai ficar maior ou menor conforme o tempo de retorno das exportações”, avalia.
Impactos
Em entrevista ao Correio do Estado em fevereiro, o presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado do MS (Sicadems), Sérgio Capuci, explicou que os únicos frigoríficos do Estado que exportam para a China são Naturafrig, em Rochedo; FrigoSul, em Aparecida do Taboado; e Agroindustrial, em Iguatemi.
Na ocasião, ele já afirmava que, apesar de ainda ser cedo para mensurar os prejuízos causados pelo embargo, os danos surgiriam sim, e em escala nacional.
Os locais mais prejudicados diretamente são os estados de São Paulo e Mato Grosso, pela grande quantidade de frigoríficos habilitados nesse ramo de comercialização.
Em relação à doença, na ocasião, o sindicalista ressaltou não haver grandes preocupações, uma vez que o caso foi atípico. “Essa doença não é contagiosa para outros animais e atinge aqueles que são mais velhos, então o embargo é mais um protocolo mesmo para conter qualquer tipo de dano”, reforçou. Mato Grosso do Sul continua sem registros da doença.
Mal da vaca louca
O primeiro caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) foi confirmado no estado do Pará em fevereiro deste ano. Em casos como esse, a confirmação final é feita pelo laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), no Canadá. Com a confirmação, o Mapa comunicou o caso à OMSA.
O animal contaminado era criado em pasto, sem ração, e foi abatido, com sua carcaça incinerada no local.
Há dois tipos da doença: típicos, ou clássicos, e atípicos. No primeiro, há chances de transmissão ao homem, enquanto no segundo não há risco de contaminação a humanos ou a outros animais.
O caso no Pará foi confirmado como atípico, porém, a suspensão da comercialização ocorre em função de um protocolo que existe desde 2015, assinado pela China e pelo Brasil, que determina o autoembargo das vendas quando há registro da doença.
Quando atípica, a doença acomete geralmente bovinos mais velhos, que espontaneamente desenvolvem uma proteína defeituosa que atinge o sistema nervoso central.
Mesmo com as evidências de um caso atípico, o protocolo de segurança ainda é adotado, com o objetivo de conter qualquer dano possível ou imprevisto. O mal da vaca louca é considerado uma doença grave e sem cura.
FONTE: CORREIO DO ESTADO