O preço pago pela arroba do boi gordo caiu R$ 34,47 desde o dia 30 de março no Estado, ou seja, os valores pagos ao pecuarista ficaram menores, já nos açougues e nas casas de carne de Mato Grosso do Sul os valores praticados não acompanham a queda e permanecem em alta.
Nos últimos dois meses, o preço pago ao produtor teve duas retrações, saindo de R$ 305,35, no dia 30 de março, e chegando a R$ 270,88, ontem, segundo dados da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul). Queda de 11,28% em dois meses.
Retração similar é encontrada no preço da vaca gorda. O animal saiu de R$ 280,73 na cotação do dia 30 de março para R$ 253,64, variação negativa de 9,64% no mesmo período. Esses são os patamares mais baixos pagos na arroba desde novembro de 2021, quando o boi gordo atingiu R$ 268,61 no dia 10 daquele mês.
Com isso, a margem de lucro do pecuarista fica apertada, já que o custo da produção de gado de corte saltou 16,91% no sistema de cria, 38,17% no de recria e engorda e de 19,96% no ciclo completo.
Na outra ponta da cadeia produtiva, o mesmo movimento não é percebido. Conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de janeiro a abril deste ano, os cortes bovinos, como patinho, coxão duro e coxão mole, mantiveram-se com os mesmos preços.
Em janeiro, o valor médio do quilo dos cortes era de R$ 40,01, e, em abril, último balanço divulgado, os mesmos cortes custaram R$ 40,78, aumento de R$ 0,77 (1,92%). No intervalo de um ano, o aumento aferido foi de 16%.
Entre açougues, casas de carne e supermercados, o consumidor não percebe nenhuma queda de preços da carne bovina.
Conforme pesquisa da reportagem do Correio do Estado, o quilo da costela, por exemplo, custava em média R$ 17,99 em junho do ano passado e ontem era comercializado a R$ 24,98.
A picanha passou de R$ 64,33 para R$ 79,90, em média, no intervalo de um ano.
PANORAMA
Especialistas apontam que um dos principais motivos para a queda nos preços pagos ao produtor é a entressafra.
Conforme Staney Barbosa Melo, economista do Sindicato Rural de Campo Grande (SCGR), esses valores representam a passagem de um período de chuvas para um período de seca, “é uma questão de oferta e demanda”, pontua.
“Podemos ainda projetar os efeitos a partir da lógica de custos se olharmos para o mercado de reposição. Em épocas de seca, a demanda por reposição diminui, não é o período ideal para engorda. Esta sazonalidade impacta negativamente os preços neste segmento, influenciando na queda de custos para a atividade de engorda”, comenta.
Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto Consultoria, analisa que é uma questão sazonal.
“Entre março, maio e junho, a oferta de animais tende a aumentar mesmo, e isso leva os preços para baixo. No fim do período de chuvas, a oferta é mais alta; ao fim do período de seca, a oferta cai e o preço da arroba pode subir”.
Apesar dessa queda acentuada na arroba paga ao produtor, o mesmo não é visto pelos comerciantes do setor. Maurício Goiaba, proprietário do Mercado Goiaba, comenta que essa redução foi na ordem de 2% a 3% no preço da arroba com osso nos últimos dias, mas esse valor cresceu mais de 40% no último ano.
“Hoje, a rês casada [uma forma de comercialização em que são vendidos os quartos traseiros, os quartos dianteiros e a ponta de agulha] custa R$ 19,50 com osso e imposto. No passado, a costela saía por R$ 9,80, essa é a carne mais barata. Hoje, ela sai por R$ 19,80, praticamente o preço da rês casada”, revela.
A gerente de vendas da Casa de Carnes Excelência, Gabriela Brito Farias, afirma que há uma redução mínima ocorrendo, mas ela comenta que, desde a abertura do estabelecimento, nunca viram a arroba praticada voltar ao patamar anterior.
“Lembro que assim que começamos, uns sete anos atrás, pagávamos R$ 8 a R$ 9 [no quilo], última vez que tive acesso aos valores de compras estavam em R$ 18 e R$ 19”.
A especialista da Agrifatto analisa que o mercado se adapta a essas realidades de preço baixo pago ao produtor, e isso acaba estabilizando de certa forma o preço nos mercados. Segundo ela, com despesas em alta e receitas em baixa, a margem da atividade sofre drasticamente.
“Isso reduz o ímpeto investidor de quem está na atividade, mas essa queda de investimentos cobra preço: reflete menor produção no futuro; e menos [produção] faz os preços mais firmes”.
MERCADO
Conforme publicado no Correio do Estado na terça-feira, a instabilidade da relação comercial com a China preocupa o Estado. O país asiático é o principal parceiro comercial de MS e tem reduzido a compra da produção brasileira de carne bovina e de aves.
O economista Staney Barbosa diz que mesmo com ótimos números de exportação “não dá para esperar grandes estímulos ao aumento da oferta com custos em alta e preços da arroba em queda”.
Dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) apontam que Mato Grosso do Sul apresentou aumento na exportação de carne bovina. De janeiro a abril de 2021, MS registrou US$ 244,391 milhões em negócios contra receita de US$ 371,997 milhões neste ano.
Foram 58.283 toneladas exportadas no ano passado, e neste ano 72.842 toneladas foram enviadas ao exterior no mesmo período.
Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck , explicou ao Correio do Estado que algumas atitudes têm dificultado o comércio de carne.
“A gente vê que o mercado tem tomado atitudes que têm prejudicado principalmente a exportação de carne bovina e de frango para a China”.
“Nós sempre ficamos preocupados, não sei se por uma questão de lockdown ou mercado, é com o descredenciamento de frigoríficos no mercado de carnes. Isso tem prejudicado a pecuária brasileira. Então essa instabilidade e descredenciamento de plantas têm criado uma situação ruim”, disse.
A China descredenciou pelo menos seis plantas frigoríficas neste ano, nenhuma sul-mato-grossense até o momento.
38,17% de aumento de custos
O custo da produção de gado de corte saltou 16,91% no sistema de cria, 38,17% no de recria e engorda e de 19,96% no ciclo completo.
FONTE: CORREIO DO ESTADO