A pílula anticoncepcional é um dos métodos mais utilizados no mundo para a prevenção da gravidez indesejada e para o tratamento de problemas hormonais da mulher.
Marco da autonomia reprodutiva feminina, o medicamento possui uma série de efeitos colaterais leves e graves.
É, justamente, para mostrar os danos causados no organismo de mulheres em idade reprodutiva que duas enfermeiras do Distrito Federal desenvolveram uma pesquisa científica divulgada recentemente.
O estudo de Ana Beatriz Souza e Maynara Silva, que se conheceram durante a formação acadêmica no Centro Universitário de Brasília (Ceub), aponta os fatores que podem desencadear a trombose, condição que pode ser fatal.
O anticoncepcional oral apresenta uma alta carga hormonal em sua composição farmacológica, o que pode levar à ocorrência de diversos efeitos adversos, tais como: dores de cabeça, aumento do fluxo menstrual e diminuição da libido.
Outros riscos, como a trombose venosa e o acidente vascular cerebral, podem decorrer do uso prolongado.
A trombose é um efeito adverso muito presente em pacientes que utilizam a pílula, em razão das alterações na cascata de coagulação, que intensificam o risco de promover a formação de um trombo.
De acordo com pesquisa realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mulheres que usam pílulas anticoncepcionais têm risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso do que mulheres que não usam contraceptivos orais.
Nesse sentido, o que poucas mulheres sabem é que o uso indiscriminado de anticoncepcional traz riscos graves, que podem até levar a óbito. A maioria compra diretamente as pílulas, sem conhecer outros métodos contraceptivos.
FALTA INFORMAÇÃO
Para a pesquisadora Maynara Silva, muitas mulheres acabam aderindo à pílula, mesmo com tantos riscos, por falta de uma orientação mais qualificada.
“Muitas dessas mulheres não recebem as orientações corretas sobre o uso do fármaco e começam a tomar por conta própria, sem prescrição médica, fazendo o uso do anticoncepcional de forma inadequada e por tempo prolongado”, afirma.
Ao desenvolver o estudo, as pesquisadoras entrevistaram, por meio de questionário eletrônico, mulheres com idade entre 18 e 40 anos, matriculadas em universidades do Distrito Federal. Ao todo, 189 entrevistas foram realizadas e, dessas, 99 mulheres fazem uso de algum método contraceptivo há mais de seis meses.
De acordo com a apuração, 88,9% desse grupo de entrevistadas optaram pelo uso da pílula, alegando fácil acesso. Já 4,4% das mulheres relataram que o método escolhido foi o intramuscular, 2,2% escolheram o DIU e 3,3% responderam utilizar outros métodos contraceptivos.
Danilo Avelar, especialista em farmacologia do Ceub que orientou o projeto científico, alerta que, para além dos efeitos colaterais que podem levar à trombose, a falta de informação e de prescrição médica podem ser agravantes.
“O estudo confirmou ainda que grande parte das mulheres têm conhecimento de que os anticoncepcionais orais podem apresentar risco à saúde da mulher. Isso ocorre por conta da ingestão de hormônios sintéticos, que podem alterar a ação fisiológica de várias substâncias e vias metabólicas do organismo”, explica Avelar.
COMO ESCOLHER
Parceira de Mayara Silva no artigo acadêmico, Ana Beatriz Souza diz que é essencial que a mulher, junto com seu ginecologista, faça uma escolha consciente e adequada às suas condições.
“A pesquisa nos levou a reforçar a necessidade de avaliação do uso dos anticoncepcionais pela população feminina e correlacionar com o risco de trombose, uma vez que a doença é um risco iminente na população feminina”, conta Ana Beatriz.
O orientador do projeto destaca, ainda, a importância de incentivar o ensino e palestras educativas a respeito dos diversos meios contraceptivos, proporcionando, assim, a escolha do método junto ao profissional de saúde devidamente capacitado – médicos, enfermeiros e farmacêuticos – para que melhor se adeque à realidade e ao organismo das mulheres.
“Por meio de campanhas, exames e acesso à saúde e à informação, as mulheres devem optar pelo uso adequado do fármaco, garantindo, assim, o preceito constitucional da dignidade da pessoa humana e da liberdade de escolha individual”, defende Danilo Avelar.
TROMBOSE
De acordo com a pesquisa “Tendências do Uso de Métodos Anticoncepcionais no Mundo”, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), 64% das mulheres utilizam algum tipo de proteção para não engravidar.
No Brasil esse número sobe para 79%, segundo o documento. O estudo aponta que, para cada 100.000 mulheres, pelo menos cinco casos de trombose estão relacionados ao uso de anticoncepcionais orais.
Tabagismo, diabetes, obesidade e hipertensão arterial também podem potencializar riscos à saúde da mulher se associados ao uso de anticoncepcionais, sobretudo na faixa etária a partir dos 35 anos.
FONTE: CORREIO DO ESTADO