Campo Grande conta com  61,8% dos consumidores endividados, é o que aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de abril deste ano.

De acordo com os números do levantamento, apesar da retração de 0,9 pontos percentuais – de 62,7% para 61,8% entre março e abril -, os campo-grandenses demoram em média 70 dias para quitarem dívidas em atraso e possuem 36 semanas, ou aproximadamente nove meses de renda comprometida por dívidas.

Segundo a pesquisa, 15,4% dos entrevistados com ganhos mensais de até 10 salários mínimos, declararam estar muito endividados.

Entre aqueles com ganhos de mais de 10 salários mínimos, o endividamento atingiu 7,3% dos entrevistados. Entre todos os entrevistados, 61,8% declararam possuir algum nível de endividamento, seja pouco (28,2%), ou “mais ou menos endividado” (19,1%).

Os resultados divulgados hoje (3) pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso do Sul (Fecomércio-MS), elencaram dados de pelo menos 17,8 mil famílias da Capital, coletados nos últimos dez dias de março deste ano.

Segundo a apuração, estima-se que 196 mil campo-grandenses estejam endividados, cerca de 95 mil possuam alguma dívida em atraso, e outros 40 mil moradores da Capital não possuam condições de quitar as contas.

“O ambiente em que se vive contribui para que a população adote posturas não aconselháveis por pressa do indivíduo em comprar logo sua casa, o seu carro, uma roupa, sem planejamento financeiro”, disse ao Correio do Estado o economista Marcio Coutinho.

O cartão de crédito foi apontado como o principal ‘vilão’ pela população – 67,7% entre as famílias com ganhos de até 10 salários e 76% entre aquelas com ganhos superiores; carnês (19,8%) e financiamentos de casa (15,9%), fecham o “pódio” entre os principais motivos das dívidas em Campo Grande.

“Sem planejamento, o consumidor parcela a dívida e joga a responsabilidade para frente”, disse Coutinho. O economista disse que a pandemia pode ser um fator influente nos dados, uma vez que muitas pessoas ficaram desempregadas e tiveram que recorrer a empréstimos e parcelamentos.

“Não tenho dados sobre, mas a pandemia fez muita gente perder o emprego e  mesmo desempregadas, as pessoas continuam vivendo suas vidas e, talvez, as consequências estão sendo sentidas atualmente”, pontuou o economista.

Apesar da média de 70 dias para o pagamento das dívidas, 18% demoram até três meses para quitarem as dívidas e outros 57% disseram pagar com pelo menos três meses de atraso.

“Infelizmente poucas pessoas podem e possuem educação financeira, na maioria dos casos as pessoas gastam mais do que ganham sem pensar e se planejar sobre os gastos. Fazem churrasco e bebem aos fins de semana para compensar as atividades, mas não se planejam”, finaliza Coutinho.

Comprometimento de renda

Para 55% dos campo-grandenses, o comprometimento de renda é de até 50% dos ganhos. Em números, uma pessoa que recebe, por exemplo, R$1 mil reais, repassa R$500 às dívidas. Em média, segundo os dados da Fecomércio-MS, na Capital 30,3% da renda está comprometida pelas contas.

“Temos percebido uma estabilidade nos números de endividamento e inadimplência do consumidor campo-grandense, desde o início do ano, o que é positivo, levando em conta os impostos desse período e a retomada ainda tímida da economia. Ainda assim, o cenário é de alerta, pois temos mais de 60% da população endividada e cerca de 30% com contas em atraso”, relatou no estudo, Regiane Dedé de Oliveira, economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio MS (IPF-MS).

Nacional

Na contramão do recorte local, o levantamento nacional registrou altas. Entre as famílias com renda até dez salários mínimos, o percentual de endividamento chegou a 78,6%.

Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, a proporção de endividados registrou o patamar histórico de 74,5%, alta de 0,8 ponto em abril e 11,4 pontos percentuais no ano, maior crescimento observado nessa base de comparação.

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as parcelas de famílias endividadas (com dívidas em atraso ou não) e inadimplentes (com dívidas e contas em atraso) atingiram os maiores valores em 12 anos, 77,7%, maior nível desde o início da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (Peic), em janeiro de 2010.

Fonte: Correio do Estado