Apesar do predominante pessimismo com o desempenho da economia brasileira em 2023, alguns analistas têm apresentado prognósticos otimistas para o primeiro ano do próximo governo.
A Folha ouviu alguns dos economistas que estão com projeções distantes do chamado “consenso de mercado”, representado pela mediana (a estimativa que está no meio da amostra) da pesquisa Focus do Banco Central.
Eles têm em comum a expectativa de que o vencedor das eleições manterá os gastos públicos sob controle e não pedirá uma licença para gastar sem limites. Também esperam queda dos juros e da inflação e descartam a hipótese de recessão global.
Nesses cenários, o PIB (Produto Interno Bruto) pode crescer até 2,5%, com o BC cumprindo (ou quase) a meta de inflação e cortando os juros para até 9% no final do próximo ano.
“Acho muito difícil um cenário de PIB próximo a zero. Se o Lula for responsável fiscalmente, tenho muita convicção de que o cenário vai ser mais construtivo. Se for irresponsável, tenho certeza de que o PIB vai cair”, afirma Alexandre de Ázara, economista chefe do UBS BB, banco de investimento que é uma parceria entre as duas instituições financeiras.
Com projeção de crescimento de 1,7% para o próximo ano, ele afirma que o mesmo raciocínio vale para o caso de reeleição do atual mandatário: o cenário mais positivo depende de o país ter uma regra fiscal crível, seja ela ou não o teto de gastos.
“A liberdade que gostariam de ter [para gastar sem limites] não será dada. Não com um resultado bom”, diz Ázara, que projeta queda da inflação para 4%, abrindo espaço para os juros caírem dos atuais 13,75% para 9,25% ao ano no fim de 2023.
Rafaela Vitória, do banco Inter, também espera juros de um dígito (9,5% ao ano), com o BC entregando uma inflação abaixo do limite da meta (4,7%). A projeção de crescimento de 0,7% é o dobro da mediana do Focus, e ela deve rever o número para cima, com base nos bons resultados vistos nos investimentos e no mercado de trabalho recentemente.
Um cenário mais positivo, afirma a economista, depende da questão fiscal, mais do que do ritmo de desaceleração da economia global.
“O ponto de atenção é o que o governo vai fazer. Pode dar uma atrapalhada, com mais risco fiscal, dólar e juros piorando o cenário. Ou a gente pode ter mais previsibilidade no fiscal, o que permite até que o investimento cresça mais.”
Fernando Rocha, economista-chefe da gestora de recursos independente JGP, afirma que os cálculos realizados pelos modelos de projeção tradicionais apontam para uma economia fraca em 2023, com PIB próximo de zero, dado o nível de juros ainda elevado no próximo ano.
Uma análise que vá além dos modelos matemáticos, no entanto, leva a resultados melhores, mesmo com sua previsão de juros de 10,25% no final de 2023.
Ele projeta crescimento de 1,5%, considerando continuidade de recuperação dos serviços, uma normalização das cadeias produtivas que ajude a indústria, e um ano sem problemas climáticos para a agropecuária.
Rocha não descarta um crescimento de até 2,5% com um cenário externo sem recessão e efeitos da normalização pós-pandemia que durem por mais tempo.
“Eu estou fora do consenso. O pessoal está achando que o juro alto vai ter um efeito maior. Outra possibilidade é o mercado financeiro reagir mal às políticas do próximo governo, seja ele quem for, e as condições financeiras piorarem: juro sobe, Bolsa cai, gera efeito riqueza negativo, falta de confiança nas empresas e nas pessoas e pode puxar a atividade mais para baixo”, afirma.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, está entre os economistas que esperam um impacto forte do aperto monetário do próximo ano. Na outra ponta das projeções do Focus, ela estima retração do PIB de 0,7%, apesar de estar alinhada com o “consenso de mercado” em relação a juros (11%) e inflação (5,2%).
A economista afirma que os principais fatores que empurram o crescimento de 2022 para algo próximo de 3% -Victal sempre esteve entre os mais otimistas em relação ao ano corrente- não vão ajudar no ano que vem. Apenas um mercado de trabalho que continue surpreendendo para cima pode levar a uma queda menor do PIB.
“O grande motivador da maior cautela com 2023 é a política monetária muito mais restritiva, mas tem esse vetor que pode ajudar um pouco no ano que vem, que é o mercado de trabalho.”
Sobre o fiscal, ela coloca na conta a continuidade dos R$ 600 no Auxílio Brasil e das desonerações de PIS/Cofins e do ICMS nos combustíveis, mas com alguma regra que limite outros gastos. “Se a gente começar a discutir ausência de modelo fiscal, aí é outro jogo.”
FONTE: CORREIO DO ESTADO