De acordo com a Marinha do Brasil, o nível do Rio Paraguai na região de Ladário, em Mato Grosso do Sul, está 1,06 neste domingo (25), 33% menor que o registrado no mesmo período em 2020, de 1,60.
Para as famílias que dependem da economia gerada pelo Rio, o período de seca é sempre sinal de preocupação. A artesã Julia Gonzales, de 62 anos, mora na Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra, localizada na Rodovia Estadual MS-480, em Ladário.
Ela conta que, sem as chuvas, os moradores dependem das ajudas de Organizações não Governamentais (ONGs), como a Ecologia e Ação (Ecoa), a Comitiva Esperança, entre outras.
“O Rio está cada dia abaixando mais, aqui não choveu. No entorno deu uma garoa, mas aqui na Baía Negra não chove há mais de 3 meses”, lamentou.
As 38 famílias que residem na APA dependem de atividades econômicas geradas pelo Rio, como a pesca e o arrozal, além dos artesanatos que vendem na cidade.
O arrozal, um campo inundado de terra arável usada para o cultivo de arroz, precisa das águas da chuvas, e com a escassez, Júlia teme pela colheita dos 14 quilômetros de grãos.
“Só tem lama no arrozal, está difícil até para entrar para colher o arroz”, disse. As pescas também estão comprometidas, já que os ouriços, usados como isca, sumiram e os peixes estão cada vez menores.
O Serviço Geológico do Brasil já emitiu comunicado de que os patamares na bacia do Rio Paraguai estão entre os menores já registrados para esta época do ano. Como a seca vai pelo menos até outubro, o nível tende a baixar mais.
Na medição em Ladário feita pela Marinha, o menor nível atingido este ano foi de 0,20 e o maior, 1,88. A previsão é de que o nível chegue a -40 centímetros até 16 de outubro.
Conforme observado pela Marinha nos últimos 5 anos, o rio chega no seu nível mínimo na segunda quinzena de novembro, quando começa a subir, chegando no seu ápice em julho.
Contudo, vai para três anos que o Rio Paraguai não apresenta a tradicional cheia. Nesses períodos mais abundantes, o nível chega a superar 4 metros em Ladário. Em 2018, o pico chegou a 5,35 metros.
A previsão agora é de que para os próximos 28 dias o nível deve baixar para 88 centímetros.
Queimadas
As queimadas que atingiram o Pantanal em 2020 e devastaram mais de 40 mil km² de vegetação, também afetaram a Baía Negra.
“Ano passado o fogo levou tudo não deixou quase nada, alastrou mesmo, só não perdemos as nossas casinhas, deu para ficar molhando para não queimar. Nenhuma pessoa ficou ferida, mas as casas que não tinha ninguém queimaram tudo, o fogo vinha de todo lado”, contou Júlia.
Surpreendidos pelo fogo, a comunidade montou uma brigada de incêndio voluntária, com equipamentos comprados com doação feita pelo programa Caldeirão do Huck, da emissora Globo.
Além disso, os voluntários farão um curso de prevenção do fogo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Ecoa.
“É uma agonia a gente sempre ta prestando atenção. Ano passado o Rio não estava tão seco, mas esse ano pelo menos não tem fogo”, completou a moradora.
Pandemia
Outro problema enfrentado pelos moradores é o desrespeito as normas de biossegurança dos moradores de municípios que ficam no entorno da APA. Ela conta que, para burlar o toque de recolher, as pessoas vão para a beira do Rio aos fins de semana.
“A gente fica até sem descer, fica difícil porque nós estamos na pandemia e o povo vem assar churrasco na beira do rio, eles vêm com carvão e temos que ficar atentos para não causar incêndios. Com o toque de recolher, o povo de Corumba e da região vem ficar escondido aqui na beira do rio”.
Os moradores já tomaram as duas doses da vacina contra a Covid-19, e a moradora explicou que não houve casos graves da doença no local.
Apesar de todos os problemas, Júlia garante que não se muda por nada. “Não troco por lugar nenhum, aqui não tem ladrão, não tem nada, só o som dos passarinhos cantando”.
FONTE: CORREIO DO ESTADO