A política de incentivo ao uso do gás natural veicular (GNV) foi lançada na quarta-feira pelo governo do Estado e tem como uma das metas incentivar caminhoneiros a trocarem o diesel pelo tipo de combustível mais econômico e menos poluente, o GNV. Contudo, profissionais e representantes da classe ainda não visualizam a ideia como viável.
Sobre a implementação do projeto de incentivo ao uso do GNV, a diretora de administração e finanças da Companhia de Gás de Mato Grosso do Sul (MSGás), Bernadete Martins Gaspar, dá detalhes estratégicos e enfatiza a relevância para o Estado.
“Para a MSGás, é muito importante para o nosso desenvolvimento, mas é um projeto que vai além. Ele vai ao encontro dos pilares do governo de inclusão, prosperidade e verde. Nós vamos retirar do ar muita poluição”, explica.
Quanto à adesão dos caminhões ao uso do combustível, a diretora administrativa revela que o trabalho está sendo realizado em cima da criação de uma rota.
“É um trajeto de São Paulo, passando por Três Lagoas e abastecendo, vindo até Campo Grande. Então, é uma rota que pode atender caminhões de GNV que às vezes não vêm para o Estado justamente por não ter essa sequência. Em Três Lagoas, a gente está implantando um posto com o objetivo de ampliar a rota”, detalha Bernadete.
Em complemento, o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, cita que a substituição do diesel pelo GNV nos caminhões seria um projeto secundário ao plano de incentivo ao uso de gás natural em MS.
“Nós precisamos do posto em Três Lagoas para que os caminhões possam sair de Campo Grande levando carga até São Paulo só com gás natural. Então, com o posto em Três Lagoas, nós já vamos poder fazer isso, o chamado Corredor Azul, que é outro projeto que estamos desenvolvendo com a MSGás”, explica.
CAMINHONEIROS
Caminhoneiro há 15 anos, Haroldo Brito da Silva, 38 anos, relata que muitos empecilhos poderiam inviabilizar a mudança, sobretudo o suporte aos profissionais, que já é precário nos moldes atuais. Esse seria um dos agravantes.
“Não tem gás natural em todos os lugares, e outro ponto é o fato de que o veículo movido a gás não tem uma autonomia grande. A gente precisa de um combustível que nos dê autonomia, pois os percursos são grandes, as distâncias são longas, sem falar da manutenção”, pondera o motorista.
Todavia, o profissional ressalta os pontos positivos do GNV, enfatizando o fato de ele ser uma fonte mais limpa e menos poluente.
“Que é bom, disso não temos dúvidas. Mas, para nós, no momento, acho que não é viável ainda. Na prática, é totalmente diferente, é preciso trabalhar o suporte antes de qualquer coisa. É preciso mudar muitas coisas antes de implementar isso aí [troca de diesel por GNV]”, finaliza.
Dorival de Oliveira, assessor do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas de Mato Grosso do Sul (Setlog-MS), acredita que a falta de estrutura é o maior problema.
“Não existe infraestrutura de GNV nem dentro das cidades, e nas estradas do Estado são muito mais escassos. Em estados grandes, como São Paulo, ainda está em evolução, então, a princípio, não visualizo essa transformação”.
Outro ponto destacado pelo representante da Setlog é o fato de a estrutura dos caminhões não ser compatível com gás natural, o que também impossibilitaria a conversão.
“O caminhão a diesel tem um motor diferente, então, não sei como seria essa mudança na prática. É necessário ver como o governo pretende agir para verificar as possibilidades”, conclui.
O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros em Mato Grosso do Sul (Sindicam-MS), Osni Belinati, reage positivamente à possibilidade, no entanto, também cita a falta da oferta do produto em postos do Estado.
“Quais os postos que vão vender o gás em nossas estradas? Aqui mesmo, em Campo Grande, onde abastecer? Além disso, o preço compensa? Antes de anunciar, tem de procurar as viabilidades do negócio oferecido”, indaga o representante do Sindicam-MS.
CUSTO
Entre as empresas que realizam o serviço de conversão de veículos, os valores variam entre R$ 18 mil e R$ 40 mil para caminhões. No entanto, Dalila Duarte, consultora na loja GNV Tech Serviços Automotivos, explica que os preços podem mudar conforme o modelo do caminhão.
“Para instalar com um cilindro de 100 litros, custa em média R$ 20 mil, porém, se for para um caminhão com motor de quatro cilindros de 120 litros, a pessoa vai gastar, em média, uns R$ 40 mil”, detalha.
Responsável por outra empresa especializada no serviço, na Capital, que preferiu não se identificar, o empresário explica que, por escolha, ainda não trabalha com a conversão de veículos movidos a diesel.
“Ele funciona a diesel e essa mistura de queima ainda não está equilibrada, então, na questão da economia, o GNV é algo que ainda não é garantido, então, exige-se um aperfeiçoamento maior para fazer esse tipo de instalação. Seria mais para a questão de impostos e selo verde”, explica. Conforme ele, em média, o investimento seria de R$ 18 mil.
MEDIDAS
O governo do Estado anunciou uma série de medidas, entre as quais a isenção de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e taxas do Detran, além de concessão de benefícios, como um vale-combustível de R$ 1.000 para as novas conversões de automóveis a gás natural.
Considerando a frota já existente de veículos equipados com gás natural, em Mato Grosso do Sul, serão cerca de 7 mil motoristas impactados pelo plano, com desoneração de cerca de R$ 4,8 milhões em taxas, vistorias e documentações cobradas pelo Detran.
Até então, os motoristas que optavam por GNV precisavam pagar R$ 100,96 na inspeção veicular anual, R$ 93,85 na autorização para mudar as características do veículo, R$ 201,45 na inspeção após a instalação (kit) e R$ 290,08 para emissão do novo Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV). Ao todo, a economia por veículo será de R$ 686,34.
As ações fazem parte de um trabalho conjunto entre Semadesc, Secretaria de Estado de Governo (Segov), Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz), MSGás e Detran-MS.
FONTE: CORREIO DO ESTADO