Dizem que as águas de março são as responsáveis por fechar o verão, mas este mês o que choveu mesmo foi música boa! Miley Cyrus e Lana Del Rey impressionaram com seus novos álbuns, Endless Summer Vacation e Ocean Blvd., enquanto dois (!) integrantes do BTS, J-Hope e Jimin, lançaram materiais solo de qualidade. Coloque novas canções (ou, em alguns casos, canções velhas reimaginadas) de Taylor Swift, Hozier e Ellie Goulding na mistura e pronto, você tem a receita para uma ótima lista.

Em um momento de realização sem dúvida emocionante, J-Hope lançou a sua última música antes do alistamento no serviço militar obrigatório este mês – e “On the Street” conta com a participação do ídolo do rapper sul-coreano, J. Cole.

Ainda melhor do que isso: a canção é ótima. Começando com um assobio grudento, ela não se apressa para encaixar ritmos pop, deixando o artista se derramar por cima da batida e declamar um refrão que resume a sua carreira até aqui: “Toda vez que me movo, é sempre por nós”.

“Museum” – Matt Maltese

Com seu tom moroso, mas potente, que lembra muito o de Rufus Wainwright, o britânico Matt Maltese lança baladas de piano-e-bateria que passeiam confortalvemente por um território melancólico muito específico, quase único dele.

“Museum”, com sua letra sobre os objetos e lugares que deixamos para trás no andar da vida, é uma introdução perfeita ao artista. Seu novo álbum, Driving Just to Drive, sai em 28 de abril.

“Caramel” – ONEW feat. Giriboy

Depois de se provar um trovador new wave de primeira categoria com o EP Dice (um dos nossos álbuns de k-pop favoritos do ano passado), ONEW, o vocalista principal do icônico grupo SHINee, fez do seu primeiro álbum completo, intitulado Circleuma elaboração pop bem mais descontraída.

A abordagem gera dividendos em “Caramel”, que se aproveita dos vocais estratosféricos de Onew para levantar uma produção simples apoiada no teclado. Tudo se complementa com os versos sincopados do rapper Giriboy, gerando três minutos de deleite pop.

“Neptune” – Handsome Ghost

Na ativa há quase uma década, o duo Handsome Ghost pode não ser muito conhecido do grande público, mas a mistura climática de folk e sintetizadores que eles fazem é capaz de enfeitiçar até os mais descrentes.

“Neptune” é a melhor canção do novo EP do duo, To the Place Where We Met Lastusando as ferramentas de sempre (violão dedilhado, synth grave) para seduzir o ouvinte e envolvê-lo em um mundo de oportunidades perdidas, mas que ainda nos dá muito pelo que ansiar.

“Fix You” – TAN

Do synthpop límpido de “DU DU DU” ao deliciosamente ousado caos sonoro de “Louder“, o TAN ainda não lançou um single ruim na carreira. E não seria com “Fix You”, canção especial para celebrar um ano de carreira, que eles iam quebrar a sequência.

Apostando em melodia melodramática e produção propulsiva, o grupo faz um tributo aos fãs que consegue se aproximar conscientemente do brega sem esbarrar no entediante. Coloque nessa conta um refrão cantado em agudos rasantes, temperado ainda por uma guitarra sintetizada, e é isso: mais um ponto para o TAN.

“Jaded” – Miley Cyrus

Não há som que representa melhor o Endless Summer Vacation, com sua conjugação de influências que perpassaram a carreira de Miley Cyrus, do que o violão carregado de ecos que inicia “Jaded”. É o toque do verão californiano, do country e do rock oitentista, tudo ao mesmo tempo.

Destaque também na minha crítica de Endless Summer Vacation, a canção pode ter repercutido por suas supostas alfinetadas ao ex de Miley, Liam Hemsworth, mas merece mesmo ser reconhecida pelos muitos méritos musicais que possui.

“Falling” – PIXY

Apesar de canções excepcionais como “Bewitched” e “Villain“, o PIXY ainda não conseguiu alcançar o público amplo que merece. Lançado após um período conturbado para o grupo, o álbum Chosen Karma provavelmente não vai mudar isso – mas nada nos impede de tentar, indicando a brilhante “Falling” como um destaque óbvio, especialmente pela forma como empresta chavões do synthpop americano independente em seu refrão etéreo.

“Safe & Sound (Taylor’s Version)” – Taylor Swift

Lançada originalmente para a trilha sonora de Jogos Vorazes, “Safe & Sound” trouxe Taylor Swift para o território do folk muito antes do lançamento do Folklore ou de “Carolina“.

Com sua melodia ascendente no refrão, a canção ficou ainda melhor na versão de instrumental mais orgânico que a cantora relançou este mês, como parte de seu projeto de regravações – mesmo que tenha perdido a participação do The Civil Wars pelo caminho. Vale descobrir ou redescobrir.

“Mysterious” – Nicole

Ela já tem o seu nome gravado na história do k-pop como integrante do KARA, um dos grupos definidores de certa fase da indústria, mas Nicole tampouco costuma errar em seus lançamentos solo. “Mysterious”, com seu astuto refrão em antidrop e sua construção simples de épico de pista de dança – com um toque de jazz adicionado só de sacanagem, é claro – é mais um acerto.

“Dramático” – Nick Bolt

O cantor chileno Nick Bolt nem sempre acerta a dose de suas experimentações pop, mas “Dramático” é definitivamente uma das melhores canções de seu sempre interessante catálogo. Emprestando as viradas sintetizadas da disco music e trocando notas altas por gemidos estilosos, Bolt deixa claro seu interesse em construir um cânone pop queer para a música latina. É uma ideia muito bem-vinda.

“Bomba” – Kai

Se o NCT 127 colaborou com o Topkillaz para trazer algo de brasileiro para o k-pop no seu single mais recente – destacado na nossa lista de janeiro -, o companheiro de gravadora Kai foi além e fez de seu novo álbum, Rover, um tributo quase exclusivo ao som do funk.

“Bomba” é a homenagem mais óbvia ao gênero, e também a faixa mais contagiante deste que é tranquilamente o melhor álbum da carreira solo do artista, mais conhecido como dançarino principal do grupo EXO.

“So Hard So Hot” – Alison Goldfrapp

Desde o comecinho dos anos 2000, Alison Goldfrapp está provendo aos fãs de synthpop alguns dos maiores hinos do gênero (“Oooh La La“, “Rocket“)  como parte do duo Goldfrapp – e não vai ser nem um pouco diferente, ao que parece, na carreira solo.

“So Hard So Hot” se localiza naquele ponto de conforto entre o trabalho etéreo do Goldfrapp e as explorações bem mais terrenas de sensualidade que colegas de gênero como Robyn, Roisín MurphyPeaches costumam fazer. O primeiro álbum de Alison, The Love Invention, sai em 12 de maio.

“Young, Dumb, Stupid” – NMIXX

Quem diria que a melodia da canção de ninar francesa “Frére Jacques” renderia outro hit, décadas depois de inspirar Eliana a gravar a antológica “Os Dedinhos“. Deixe isso nas mãos dos produtores da JYP Entertainment, uma das maiores gravadoras sul-coreanas, que apoiaram uma das novas canções do grupo NMIXX nessa levada atemporal – e comprovadamente viciante.

Vale conferir o novo álbum delas, expérgo, embora nada nele surpreenda tanto quanto esta faixa de abertura.

“Through Me (The Flood)” – Hozier

Missão impossível do mês: escolher só uma das três faixas do econômico mas sensacional Eat Your Young, novo EP de Hozier, para incluir nessa lista.

A canção título tem uma das combinações de batida e melodia pop mais irresistíveis do ano até agora, enquanto “All Things End” mostra (de novo!) que o cantor é um dos maiores e melhores devotos do soul americano em atividade, mas “Through Me (The Flood)” acabou ganhando a disputa simplesmente por ser a composição mais épica do disco – e do ano, talvez.

“Like Crazy” – Jimin

Começando com o clima de R&B contemporâneo que define muito do Face, EP de estreia solo de Jimin, o single “Like Crazy” deságua em uma surpreendentemente criativa produção de pista de dança, completa com riffs de teclado e palminhas sintetizadas oitentistas.

Como o clipe ambientado em uma boate deixa bem claro, esta é uma canção francamente noturna. Já pode colocar na sua playlist de se arrumar para a balada.

“Jon Batiste Interlude” – Lana Del Rey

Na missão de escolher uma canção para destacar do excelente novo álbum de Lana Del Rey, o epicamente intitulado Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvdeu até contemplei “Margaret“, produzida em parceria com os Bleachers, que tem a mesma qualidade suplantadora de gêneros do brilhante single “A&W“.

No fim das contas, no entanto, não deu para escapar de “Jon Batiste Interlude”, uma charmosa faixa de 3:30 que mostra o pianista Jon Batiste improvisando nas teclas e no microfone enquanto Lana se delicia com o talento do colega. Parece brincadeira, mas não é: este é o momento mais épico e fascinante do disco.

Fonte: Omelete