produtor pela indústria frigorífica têm caído nos últimos meses, e esse movimento causa mudanças nas estratégias de finalização de gado. Com margens apertadas, o uso de confinamentos no Brasil para engorda intensiva deve diminuir em 2022.

Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon) estima que, neste ano, a população de gado confinado no Brasil deve cair pela primeira vez.

Segundo a entidade, o Brasil deve apresentar redução de 7,7% na quantidade de cabeças finalizadas, reduzindo a população terminada em confinamento de 6,5 milhões em 2021 para 6 milhões neste ano. Em Mato Grosso do Sul, a situação é semelhante ao cenário nacional.

Segundo José Pádua, analista técnico do Sistema Famasul, o confinamento tem uma oscilação própria ano a ano, que é muito influenciada pelo valor dos insumos.

“[Depende] dos ingredientes que compõem as dietas dos confinamentos e também do apetite por risco dos produtores, porque é uma operação que exige alto grau de investimento”, define.

Por se tratar de uma operação que requer curto espaço de tempo e tem altos riscos, essas variáveis influenciam muito a decisão de confinar ou não.

Outro ponto que derrubou as margens para o modelo de produção foi o valor dos animais de reposição, que estiveram em altos níveis nos últimos meses em Mato Grosso do Sul.

RETORNO

Segundo a Scot Consultoria, os preços de reposição do boi magro nelore em MS estão no patamar de R$ 3.700 a cabeça em setembro. Para o produtor que for começar a confinar a partir desses preços, o índice de troca em relação à arroba finalizada está em 1,38.

Ou seja, no caso do confinamento, com investimentos na alimentação por volta de R$ 18,50 por dia no preço da alimentação, além de gastos extras com processos sanitários, o produtor que for vender para o frigorífico no preço da arroba atual no mercado físico vai ficar no zero a zero, ou até mesmo sair no prejuízo, aponta o aplicativo Mais Arroba, da empresa holandesa DSM.

Caso escolha travar a venda do boi finalizado no mercado futuro, o rendimento, em fevereiro, pode chegar a 12%. Em comparação com Crédito de Depósito Interbancário (CDI), que rendeu 10,75% no último ano, a relação é muito pequena.

José Pádua considera a redução não muito significativa. “Haja vista o volume de animais que o Brasil abate, isso é um é um pequeno valor dentro do volume total.”

De acordo com ele, reposição a um preço adequado e boa relação no preço da dieta e dos insumos são os principais fatores a se relativizar.

“Em Mato Grosso do Sul, vemos o contrário. O confinamento tem crescido porque cada vez mais o produtor está atento a essa questão da intensificação, reduzir o tempo de abate e produzir mais dentro de uma mesma área”, finaliza.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo (SRCG), Staney Barbosa, explica que os preços de reposição estão em queda no Brasil, assim como a arroba finalizada. Mas, ao mesmo tempo, a saca de milho se sustenta acima dos R$ 70, mesmo com uma safrinha recorde.

“Essas quedas na arroba do boi gordo têm desincentivado os produtores a adotarem a terminação via confinamento. Paralelamente, os preços da safrinha, que deveriam ser um fator de apoio para a atividade de confinamento, estão se mostrando um desafio”.

Conforme Staney, em anos anteriores esse sistema cresceu a taxas médias de 5% ao ano, mas neste ano desafiador o crescimento deverá ser mais modesto. O economista cita levantamento da holandesa DSM, que estima que ao fim do ano serão 6,8 milhões de animais em confinamento.

“Um aumento de pouco mais de 2%, abaixo da série histórica”, resume.

PRESSÃO

Segundo o presidente da Assocon, Maurício Velloso, o cenário de uma produção com custos esticados e o mercado da arroba para o frigorífico em baixa criam aperto nas margens do produtor.

“O pecuarista de Mato Grosso do Sul está sofrendo bastante, porque ele se abasteceu de animais de reposição com arroba elevada e ele está na posição difícil de conseguir terminar o animal”, comenta.

Ele afirma que o custo final reprimido é resultado de uma política de manipulação da margem das indústrias frigoríficas pelo Brasil.

“Entre as estratégias, há fechamento de indústrias. Com isso, elas acabam conseguindo enxugar os números de compradores, e muitas regiões ficam carentes de agentes, sem falar que isso cria uma escala mais confortável para eles e causam forte desestímulo aos confinadores. Em resumo, a ausência de um horizonte pelo desequilíbrio na cadeia só atrapalha”.

Para os especialistas, os últimos meses serão de demanda aquecida no mercado interno. José Pádua, da Famasul, comenta que o fim do ano traz um incremento de consumo de todas as proteínas, mas, apesar disso, o estímulo não deve impactar diretamente o volume de animais confinados.

“Haverá um incremento [no consumo], sim, mas não a ponto de influenciar essa tomada de decisão em relação ao confinamento”.

Sobre o tema, Velloso vê a economia brasileira aquecida em relação a outros países. “Nosso mercado consumidor melhora, os índices vêm crescendo e se consolidando, e esse último quadrimestre promete. Difícil é ultrapassar o processo de manipulação de preço da indústria, que causa todo o desequilíbrio na cadeia”, sentencia.

R$ 329,10 a arroba no contrato para o ano que vem

No mercado futuro, a arroba do boi gordo é negociada a R$ 306,60 nos contratos para outubro de 2022 e a R$ 329,10 para fevereiro de 2023, conforme dados da Scot Consultoria.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO