A deflação em Campo Grande atinge 0,95%, puxada por queda nos combustíveis e na energia elétrica. Esta é a primeira retração desde maio de 2020, quando o indicador atingiu -0,38%.
Quando analisados todos os meses da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em janeiro de 2014 em Campo Grande, é o maior recuo da taxa já registrado.
Economistas apontam que este mês o indicador pode cair novamente, mas a injeção dos benefícios sociais pode impactar a formação da taxa.
A queda do índice no mês passado foi motivada pelos grupos transportes (-5,84%) e comunicação (-0,16%), e os demais indicadores foram positivos, inclusive o grupo habitação, que teve queda de 1,05% no âmbito nacional e alta na Capital de 0,53%.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho foi de -0,68% na média nacional, ante 0,67% em junho. Foi a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980 no Brasil.
Este ano, o IPCA acumula alta de 4,65% em Campo Grande, e nos últimos 12 meses a taxa é de 10,13%, abaixo dos 12,06% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
ICMS
Com a entrada em vigor da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o preço médio da gasolina em MS caiu R$ 1,70, fator que influenciou – e muito – no IPCA de julho. Além da gasolina, o etanol também registrou queda no mês passado, também com a redução de impostos.
Segundo o doutor em Economia Michel Constantino, a redução dos impostos foi fundamental para a queda dos preços, mas este não foi o único efeito.
“Temos a influência da alta na taxa de juros Selic, a retração do preço do barril do petróleo e uma estabilidade no valor do dólar”, analisa.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa de juros básica da economia, a Selic, teve alta de 0,50 ponto porcentual, atingindo 13,75%. O relatório ainda abre possibilidade para uma pequena alta nas próximas reuniões.
O aumento dos juros é uma estratégia do Banco Central para frear a inflação.
Como o grupo transportes foi o que mais contribuiu para a diminuição do índice aferido pelo IBGE, é natural que uma queda forte também contivesse a inflação. De acordo com o economista Fábio Nogueira, é isso que foi notado no medidor de julho.
“Assim como um valor mais alto do combustível provoca inflação de custo, uma redução provoca uma diminuição da inflação”, afirma.
Contudo, o economista vê a taxa Selic como a outra variável para manter a tendência de queda da inflação.
“A Selic conteve a inflação de demanda, portanto, o aumento inflacionário nos últimos dias estava mais ligado ao custo do que à demanda”, explica.
FUTURO
Com os benefícios sociais concedidos pelo governo federal a mais de 200 mil famílias só em Mato Grosso do Sul – e a mais de 17 milhões no Brasil todo –, a expectativa é ver o impacto destes auxílios (Auxílio Brasil, bolsa caminhoneiro e auxílio-taxista) nas próximas medições da inflação.
Doutor em Economia e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Mateus Abrita avalia que a redução deve prosseguir, se algumas tendências se concretizarem.
“Se o petróleo no mercado internacional continuar caindo, isso pode ser positivo para reduzir ainda mais a inflação. Agora, se isso não acontecer, o cenário vai ser uma certa acomodação dos preços”.
“Embora a taxa Selic esteja em patamares bem elevados, e isso ajuda a frear a atividade econômica, com certeza o pacote de auxílios vai movimentar a situação, mas é muito difícil afirmar qual será o efeito disso”, analisa.
O mestre em Economia Eugênio Pavão estima que a deflação de preços será sentida ainda este mês.
“A desaceleração da inflação em julho de 2022 [ foi motivada] pela queda de arrecadação do ICMS de combustíveis e energia, que têm forte impacto na formação da inflação. Eu acredito que teremos queda em julho e agosto, com retorno do índice positivo a partir de setembro”.
Para Pavão, o impacto do aumento do consumo também deve contribuir para o ligeiro aumento da inflação.
“Isso porque estimulará a aquisição de alimentos, que não sofrem os efeitos da desoneração do ICMS. Assim, os efeitos momentâneos da política fiscal [subsídios e benefícios] e monetária [alta dos juros] terão efeitos positivos no curto prazo e negativos no médio e longo prazo [2023]”.
Constantino não acredita que os auxílios impactarão a inflação. Segundo ele, o que aumenta preços é a diminuição da produção no mundo e o aumento do dólar e dos custos de produção.
“O auxílio terá pouco efeito na inflação, não deveremos sentir aumento de preços pelo consumo a partir dos auxílios, pois a renda já tem uma defasagem alta”, argumenta o economista.
10,13% no acumulado dos últimos 12 meses
Este ano, o IPCA acumula alta de 4,65% em Campo Grande, e nos últimos 12 meses a taxa é de 10,13%.
FONTE: CORREIO DO ESTADO