Mato Grosso do Sul registrou aumento no índice de inadimplência entre pessoas com mais de 60 anos. A elevação registrada é de 17,35% no intervalo de um ano, com um total de 24.695 indivíduos entrando para a lista de devedores no Estado. A situação está associada a instabilidade financeira do País, indica análise de especialistas.
Conforme o levantamento da Serasa Experian, em abril de 2022, 142.256 idosos estavam com o nome negativado, ao passo que, neste ano, o número saltou para 166.951.
Ao realizar a comparação entre os meses de março e abril de 2023, houve a inclusão de 3.737 pessoas. Em março, foram identificados 163.214, e em abril, 166.951.
Entre os marcadores evidenciados, a pesquisa aponta que, ao considerar a população sul-mato-grossense integrante da parcela inadimplente, os homens são os mais presentes.
Por esse contexto, o economista Marcio Coutinho destaca a importância de se considerar o cenário econômico atual de forma geral.
“Está tudo muito instável. Então, é válido ressaltar que pessoas idosas têm uma maior dificuldade de se readequar a situações adversas, como até mesmo se recolocar no mercado de trabalho. A economia não estando aquecida, fica mais difícil ainda, então, a instabilidade econômica é um dos fatores que mais contribuem para essa inadimplência”, aponta o especialista.
Coutinho pontua que, entre os maiores de 60 anos, o fato de que uma parcela já tem aposentadoria coopera para a prática de realização de empréstimos.
“Elas [pessoas idosas] acabam tomando esse dinheiro emprestado com mais frequência, deixando, em muitas situações, o orçamento ainda mais apertado, o que automaticamente compromete a renda e causa estrangulamento dos ganhos”, analisa.
Para o economista, também é válido destacar que a capacidade produtiva dos idosos é inferior à dos mais jovens. Consequentemente, na maioria das vezes, a remuneração é em função de uma aposentadoria, e não da busca por grandes salários.
Em resumo, ele cita a dificuldade de recolocação no mercado de trabalho, a renda limitada e o alto comprometimento da remuneração em razão de empréstimos bancários consignados.
Conforme adiantado pelo Correio do Estado no mês passado, a antecipação do 13º salário pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) vai impactar mais de 300 mil beneficiários e injetar R$ 582 milhões na economia estadual até o fim deste mês. Para os economistas, esse adiantamento deve ajudar na redução do endividamento.
“A antecipação dos recursos ajuda a gerar mais movimento na economia, seja no pagamento de dívidas, seja na antecipação do consumo”, analisa o doutor em Economia Michel Constantino.
Eugênio Pavão, mestre em Economia, reitera que muitos aposentados são os principais provedores de suas residências. “Com a antecipação, muitos aposentados vão ajudar as famílias, que têm, em locais muito pobres, a renda do INSS como principal fonte”, avalia.
OUTRAS FAIXAS
Entre os principais negativados em Mato Grosso do Sul, estão aqueles com idade entre 26 e 40 anos. Em abril do ano passado, eram 349.900 pessoas com o nome sujo no Estado. Em março, o número chegou a 378.459, ou seja, 28.559 a mais – um aumento de 8,16%.
Para a faixa etária entre 41 e 60 anos, o montante registrado em abril de 2022 foi de 320.993, enquanto neste ano o total já chegou a 352.479.
Já entre as pessoas com até 25 anos, foi identificado um acréscimo de 8.242 pessoas na lista de inadimplentes, passando de 127.825 para 136.067, no mesmo intervalo interanual.
A incapacidade de quitar as dívidas bateu recorde: em abril deste ano, 1,034 milhão de pessoas está com o nome negativado no Estado, um aumento de 10,58% ante os 935 mil com pendências registradas em abril de 2022.
Ainda conforme o levantamento enviado ao Correio do Estado, o valor médio das dívidas é de R$ 5.014. Já o valor total devido no Estado subiu 26,18% no mesmo intervalo de um ano. Em 2022, os sul-mato-grossenses deviam R$ 4,185 bilhões, neste ano, o montante passou a R$ 5,281 bilhões – R$ 1,096 bilhão a mais.
Entre os estados brasileiros, Mato Grosso do Sul figura entre os maiores níveis de inadimplência do País, com 48,82% da população adulta inadimplente, ocupando o sexto lugar.
NACIONAL
Tendo como parâmetro o indicador da Serasa Experian, a fatia da população com mais de 60 anos conta, atualmente, com mais de 15 milhões em dívidas disponíveis no banco de dados da instituição.
Entre estas, estão os segmentos bancário, varejista e de telefonia e ainda as contas consideradas básicas, como água, luz e gás de cozinha.
De acordo com a atualização do último Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil, ao longo do mês de abril deste ano, foram registrados 71,4 milhões de brasileiros com pendências de ordem monetária.
O registro provocou um crescimento de 732 mil novos endividados, quando comparado ao mês anterior. No grupo etário, 18% tem idade superior aos 60 anos.
Outro fator evidenciado pelo levantamento é a elevação identificada nos últimos cinco meses de abril, desde 2019, para os idosos. O crescimento de pessoas mais velhas com o nome sujo foi de 33% em relação às outras faixas etárias em igual período.
“Em geral, nota-se um aumento na proporção de pessoas idosas em relação à população total e, por consequência, um número absoluto maior de pessoas mais velhas em qualquer tipo de situação, inclusive de inadimplência”, analisa Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian.
Detalhando a questão, Luiz Rabi ressalta que, ao mesmo tempo, o cenário de mudanças nos padrões de consumo e aumento do custo de vida, relacionado à saúde e aos cuidados médicos, pode gerar dificuldade de acompanhamento para essa parte da população no quesito gastos e gerenciamento de suas finanças.
Complementando o parecer do economista, o levantamento destaca que, ao contrário das demais faixas etárias, as contas básicas, de água, luz e gás, representam o principal segmento das dívidas, contabilizando 39,7% do total entre pessoas com mais de 60 anos.
FONTE: CORREIO DO ESTADO