Além da falta de alguns insumos e do aumento expressivo de remédios no setor farmacêutico e hospitalar, clínicas e hospitais veterinários em Campo Grande também têm sentido os reflexos da pandemia de Covid-19 e da guerra entre a Rússia e Ucrânia.
A ausência de anestesias, suprimentos e materiais básicos, como agulhas, seringas e luvas, faz os profissionais do setor procurarem alternativas para conseguirem manter o preço ofertado aos clientes.
O anestesista e intensivista Leonardo Salvador, do Centro de Especialidades Médico Veterinário (Cemev) de Campo Grande, revelou que o preço de determinados anestésicos subiu de 80% a 100%, quando comparado com o valor praticado antes da pandemia.
O profissional acrescentou que outro motivo para a ausência dos fármacos é o retorno e o aumento das cirurgias eletivas no País.
“O isoflurano, por exemplo, que é um anestésico que a gente usa muito na veterinária, teve quase 100% de aumento. Outra coisa que pode ter colaborado foi o aumento das cirurgias eletivas da medicina, isso trouxe uma demanda grande dos anestésicos e insumos para anestesia e, consequentemente, faltou no mercado e o preço subiu”, relatou.
Para o médico veterinário, um segundo fator também pode ter contribuído com o cenário: o fechamento dos portos na China, em decorrência do lockdown instituído em janeiro deste ano, para conter uma nova onda de infecção da Covid-19.
“Muita coisa vem de lá e elas acabam subindo. E aí sobe de uma forma que fica difícil repassar isso para o cliente. Eu acredito que para muitos anestesistas veterinários ou clínicas que fazem a compra desses fármacos para o trabalho do anestesista o lucro ficou bem espremido”, finalizou.
O dono da clínica veterinária Totó Company, Antônio Carlos de Abreu, ressaltou que o aumento no valor dos insumos é perceptível.
“A gente tem notado não só a falta, mas também o aumento de preços. A alta vem em virtude dessa falta, até em função da demanda. Isso faz com que a gente seja mais estratégico na compra, para poder manter a qualidade desses produtos”.
De acordo com o representante da empresa e veterinário, na clínica está em falta o soro ringer lactato, medicamento fundamental e utilizado em vários processos de internação, cirurgias e tratamento de doenças.
“Apesar de ser mais utilizada em humanos, a atropina também está em falta. Alguns suprimentos também, e até quimioterápicos. Anestésico a gente usa muito o tenazol, que teve uma variação de 30% a 40%”, pontuou.
Conforme Abreu, a substância ficou “oscilante” no mercado durante os meses de maio, junho e julho.
“Houve esses episódios de falta e volta, hoje eu tenho. Mas, agora, a variação de insumo, de seringas, agulhas, suplementos e soros foi de 100% em comparação com três meses atrás”, finalizou.
A clínica atende, em média, de cinco a sete animais (de pequeno a médio porte), que precisam de sedação.
Diante desta situação, Abreu acrescentou que é necessário muito conhecimento e criatividade para conseguir atender e cuidar dos pacientes.
Além dos insumos citados, também entra na lista de remédios ausentes nas prateleiras da clínica o zoletil, medicação pré-anestésica.
ALIMENTAÇÃO
O preço da alimentação dos animais domésticos pode ter sido ainda mais inflacionado, em virtude da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O preço dos sacos de rações adquiridos em pet-shops e lojas especializadas também sofreu aumento.
A gerente-geral da loja Dog in Box, Renata Toledo de Mattos Gnoatto, ressaltou que a variação no preço das rações é de 20% a 25%, e há falta de alguns produtos. Uma das estratégias encontradas para impedir evasão de clientes foi manter o estoque abastecido.
Fabiana Julião Santos compra ração para a sua gata, Nala, em pet-shops. Ela relatou que prefere comprar sacos fechados de 1 kg ou de 3 kg. “A gente percebeu aumento de uns 5 reais, então pesquisamos muito antes de comprar”, disse.
Mônica de Araújo reafirma a alta dos preços na área. O local onde ela compra ração para os gatos e cachorros informou que o valor dos produtos aumentaria consideravelmente neste mês. A justificativa da empresa foi a crescente no preço dos insumos importados.
“Notei diferença considerável tanto em ração de gatos quanto na de cachorros. Um dos meus animais come uma ração específica e no dia em que eu fui comprá-la as prateleiras estavam praticamente vazias, sem opções, no começo do mês estava praticamente sem nada”, comentou.
A indústria de alimentos para animais de estimação já previa aumento desde março, em decorrência da guerra, uma vez que a Rússia é um dos países que exportam milho para o Brasil, material utilizado nas rações. Houve aumento de 40% de matérias-primas, entre 2021 e 2022.
FONTE: CORREIO DO ESTADO