Com a desaceleração da transmissão do coronavírus, Mato Grosso do Sul enfrenta um novo desafio para controlar a pandemia: a baixa procura pelas doses atrelada à estagnação da vacinação.
Para o infectologista e pesquisador Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), existe por parte da população uma baixa sensação de risco por conta do momento de maior tranquilidade na pandemia.
“A falsa percepção de segurança faz com que a população acredite que a transmissão seja menor. E o que observamos no momento é um impacto importante de doenças respiratórias, inclusive influenza, que é prevenível com vacina”, pontuou.
Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que em outubro do ano passado, a cobertura vacinal contra a Covid-19 em adultos era de 76%, apenas 1% a menos dos atuais 77% de imunização, considerando as duas doses ou dose de reforço para o público geral do Estado.
É importante salientar que desde o dia 15 de janeiro deste ano, MS iniciou a vacinação pediátrica contra o coronavírus, e, apesar do incremento de mais de 200 mil doses aplicadas em crianças dos cinco a 11 anos até ontem, a cobertura vacinal geral do Estado custa a avançar.
Atualmente, apenas 16,65% desta faixa etária está protegida com as duas doses.
Para a coordenadora estadual de Vigilância Epidemiológica da SES, Ana Paula Rezende de Oliveira Goldfinger, o negacionismo em relação à eficácia dos imunizantes é mais um obstáculo para o avanço da proteção contra a doença.
“Sabemos que existe uma parcela da população que é antivacina e que não vai receber o imunizante. Em relação à estagnação, quando entendemos que um problema está resolvido, a tendência é de que menos esforço seja empregado, isso é inerente ao ser humano em qualquer situação”, disse.
QUARTA DOSE
Por ora, a SES preconiza que a quarta dose seja aplicada na população com 50 anos ou mais. Para o infectologista Julio Croda, não é indicado para o momento atual da pandemia ampliar o público para esta vacina de reforço.
“O que precisamos é reforçar e aumentar a cobertura vacinal das duas doses, temos como melhorar isso, principalmente para evitarmos novos impactos na pandemia. A quarta dose já está liberada até 50 anos, os dados não mostram benefício substancial maior do que a terceira dose”, explicou o especialista.
CASOS
Apesar de o cenário nacional indicar um aumento de casos de coronavírus após as recentes festas de Carnaval, em Mato Grosso do Sul, os indicadores da pandemia se mantêm estáveis.
A média móvel de mortes por Covid-19 no estado do Rio aumentou 265% em duas semanas, com a média de 34 óbitos por dia, nos últimos sete dias.
Em São Paulo, além do aumento de 48,5% no número de mortes na última semana, o crescimento de casos do coronavírus já foi responsável pela retomada do uso da máscara em escolas e a suspensão das aulas presenciais em diversos colégios.
Conforme o infectologista Julio Croda, em MS não foi observado nenhum aumento específico de crescimento da curva de casos da doença após o Carnaval. “Os números estão baixos, e existem variações que estamos observando. Mas ainda não temos uma tendência de aumento”, disse.
O secretário municipal de saúde em Corumbá e presidente do Conselho Estadual dos Secretários Municipais do Estado (Cosems/MS), Rogério Leite, apontou que o monitoramento constante permite ações de combate aos vírus. Ele ressaltou que o Sars-CoV-2 atualmente não é o vírus que mais tem atingido as pessoas no Estado, principalmente em Corumbá.
“A vigilância em saúde é feita rotineiramente, com levantamento de dados, como consultas e manifestação clínica. A situação epidemiológica da Covid-19 em nosso município continua estável, mas não é uma situação que nos deixa pouco preocupados. Temos acompanhado o aumento de casos de síndrome gripal relacionada a outros vírus e convocamos a população para avançarmos na imunização contra a influenza, o sarampo e a Covid-19”, apontou Leite.
A Fiocruz apontou que o vírus sincicial respiratório (VSR) tem sido o maior motivo de aumento de casos de síndrome respiratória na macrorregião de Corumbá e Campo Grande. Esse vírus atinge, principalmente, crianças e é causador da pneumonia.
Conforme o boletim mais recente divulgado pela SES, entre os dias 26 de abril e 3 de maio, Mato Grosso do Sul registrou mais 963 casos da doença, uma média diária de 137,6 novas contaminações. Neste período, seis pessoas morreram em decorrência da doença.
Levando em consideração o boletim epidemiológico anterior dos dias 19 a 26 de abril, o crescimento de casos em MS foi de 8,4%. Em relação aos óbitos, houve queda de 14%.
INFLUENZA
Em paralelo à pandemia, a campanha de vacinação contra a influenza enfrenta uma adesão ainda menor da população. Segundo a coordenadora estadual de Vigilância Epidemiológica da SES, Ana Paula Goldfinger, a meta ainda está aquém do desejado.
“Atualmente, na vacinação contra a gripe, temos como cobertura 19,4% no Estado, é muito pouco, visto que nossa meta é de 90%”, pontuou.
Na Capital, a mesma tendência de baixa cobertura é seguida. Para a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau), Veruska Lahdo, a procura pela imunização deve ser priorizada pela população, haja vista que o inverno se aproxima, período em que as doenças respiratórias tendem a crescer ainda mais.
“Nós reforçamos a importância de procurar os postos de vacinação. Já tivemos 29 óbitos decorrentes da H3N2, de dezembro do ano passado até agora, dos quais 21 foram idosos, uma criança de três anos e uma gestante”, salientou.
No sábado (30), a SES com as secretarias municipais de Saúde realizaram o dia D de vacinação contra a gripe. No Estado, 15.817 crianças de seis meses a cinco anos de idade foram vacinadas.
Ao todo, 78.085 doses contra a influenza foram aplicadas no dia D em profissionais de saúde, idosos a partir de 60 anos, gestantes e puérperas. Desde o início da campanha, já foram vacinadas mais de 138 mil pessoas em MS.
Na Capital, foram aplicadas 2.686 doses no dia D, sendo 1.124 em crianças, 52 em gestantes, 215 em trabalhadores da saúde, nove em mulheres que deram à luz há até 45 dias e 1.286 em idosos.
No ano passado, foram 197.293 doses aplicadas durante a campanha, quando apenas o grupo das crianças superou essa meta, com 91,79% de cobertura.
SARAMPO
De País livre do vírus a polo de novos surtos, o sarampo voltou a preocupar as autoridades de saúde. Em Mato Grosso do Sul, em quase um mês de campanha contra a doença, 9,6% do público-alvo de seis meses a cinco anos foi imunizado, o equivalente a 25,4 mil das 263,4 mil crianças aptas à vacinação.
A baixa procura pela vacina tríplice viral que também protege contra a caxumba e a rubéola é evidente nas unidades de saúde. Para a campanha deste ano, a Pasta já enviou a Mato Grosso do Sul 120 mil doses da tríplice viral.
No sábado (30), foram aplicadas 17.566 doses em crianças de seis meses a cinco anos, no dia D de vacinação contra o sarampo, em MS. (Colaborou Rodolfo César)
Fonte: Correio do Estado