A desvalorização da arroba do gado e consequente redução do valor pago por tonelada, resulta em impacto negativo sobre as exportações de carne bovina em Mato Grosso do Sul. No acumulado dos nove meses do ano foi registrada queda de 21,52%, na comparação com o mesmo período do ano passado, conforme indicam dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

De janeiro a setembro de 2022 foram negociados US$ 892  milhões, enquanto no mesmo período deste ano o montante chegou a US$ 700 milhões. Além da retração no faturamento, também houve decréscimo de 7% no volume exportado nos nove meses de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado. O volume saiu de 167,7 mil toneladas para 155,6 mil toneladas no período.

Ao Correio do Estado, a consultora técnica do Sistema Famasul, Eliamar Oliveira pontua que a queda mais expressiva na receita é reflexo dos preços da carne bovina brasileira no mercado externo.

“No ano de 2022 o preço médio pago pela tonelada da carne bovina foi US$ 6 mil, nos nove meses de 2023 o valor médio foi US$ 4,8 mil por tonelada, representou queda de 19% no período. Em 2022 o real estava 2,5% mais desvalorizado e favoreceu a competitividade do produto brasileiro”.

Para o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo a relação de queda nas atividades de comércio exterior para a carne bovina de MS vão além da queda na arroba. “É reflexo de fatores internos e externos que afetam este mercado que começou aquecido no início deste ano”, pondera.

 

CHINA

O economista ainda aponta o embargo chinês influenciou na mudança do mercado. “Primeiramente, a queda aconteceu por conta das mudanças nas perspectivas dos bovinocultores em relação aos preços. Os embargos feitos pela China desenharam um cenário muito negativo para o bovinocultor, que se viu obrigado antecipar as vendas em função da mudança na conjuntura”, explica Melo.

Melo evidencia ainda a queda no preço dos alimentos ao redor do mundo, não apenas pela maior oferta, mas também por muitas economias restringirem as importações por conta da queda no poder de compra de suas moedas.

“Nesse sentido, podemos dizer que se não fossem pelos baixos preços praticados no mercado brasileiro, possivelmente veríamos resultados ainda piores nas exportações deste setor. Afinal, a queda nos preços da arroba manteve estimulada a demanda externa”, analisa.

A China segue como o maior comprador dos produtos e commodities sul-mato-grossenses, sendo responsável 26% das importações de carne bovina de Mato Grosso do Sul.

O economista do SRCG, destaca que nesse sentido a contribuição chinesa ficou comprometida principalmente por um fator. “Internamente, tivemos em meados de fevereiro um choque de oferta derivado em um primeiro momento dos embargos feitos pela China à carne bovina brasileira. Este é talvez o principal fator que explica este resultado de queda”, conclui Melo.

No período a redução dos embarques para a China foi 21%, queda expressiva que impactou de forma drástica o resultado para a proteína. No entanto, os ganhos apresentados pelo Chile, Estados Unidos e Arábia Saudita minimizaram os efeitos negativos da redução dos embarques para os chineses.

ARROBA

No início da cadeia produtiva, o produtor rural tem sentido no bolso a queda dos preços pagos. Com o preço da arroba do boi próximo a R$ 200, o setor chegou a registrar alta em meados de abril, quando o gado foi ao preço médio de R$ 270, porém não se manteve e voltou a cair nos meses seguintes.

A partir do meio do ano, de acordo com cotação da Granos Consultora, os preços recuaram ainda mais, com a arroba chegando a R$ 226,50 em junho, R$ 241,63 no mês de julho e em agosto foi a R$ 217,52. Já em setembro, a arroba teve sua maior derrocada do ano, chegando ao menor valor praticado desde julho de 2020, custando R$ 200,29.

No fim de setembro e em todo o mês de outubro, o gado ensaiou novamente uma retomada de preços que logo se dissipou. Já nos primeiros dias de novembro, a arroba do boi gordo foi de R$ 214 a R$ 224 no mercado físico de Mato Grosso do Sul.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO