Uma análise feita pelo Instituto Jones dos Santos Neves mostrou que as faixas da extrema pobreza e da pobreza tiveram uma queda em Mato Grosso do Sul após o período pandêmico.
De acordo com a pesquisa, no ano passado, o Estado atingiu a terceira menor taxa de pessoas na miséria entre as unidades federativas, com 2,8% da população na linha extrema. Em todo o País, 6,4% dos brasileiros seguem em situação financeira precária.
Mato Grosso do Sul está apenas atrás do Distrito Federal (2%) e de Santa Catarina (1,9%), os quais têm as menores taxas.
Em 2021, ano em que ainda havia restrições sanitárias e alto número de casos de Covid-19, o levantamento registrou que 4,4% da população sul-mato-grossense se encontrava no mesmo recorte. Entre 2021 e 2022, houve uma queda de 1,6% no número de pessoas que estavam em situação de extrema pobreza no Estado.
Conforme informado pelo Instituto Jones dos Santos Neves, a pesquisa levou em conta que a linha da extrema pobreza é formada por pessoas com renda mensal de até R$ 208,73.
Já aquelas que estão na linha da pobreza, segundo os dados registrados no ano passado, têm uma renda mensal de até R$ 665,02. Em Mato Grosso do Sul, 23% da população encontra-se nesta condição. Índice inferior, porém, ao nacional: economicamente, 33% dos brasileiros estavam na linha da pobreza.
Nesse quesito, de acordo com a pesquisa, o Estado teve uma queda no número de pessoas na linha da pobreza para uma taxa de 8%; em 2021, 31% da população sul-mato-grossense tinha renda mensal inferior a R$ 665,02.
Com os dados apresentados, o Correio do Estado entrou em contato com as lideranças da Central Única das Favelas (Cufa) de Mato Grosso do Sul, para saber se a queda nesses recortes chegou às as periferias do Estado por meio de oportunidades no mercado de trabalho.
CAPITAL
Conforme a coordenadora da Cufa de Campo Grande, Letícia Polidorio, a organização observou nos últimos anos um aumento de idosos que moram nas comunidades periféricas da Capital, que recorrem ao trabalho informal para ajudar na renda mensal de suas famílias.
“A gente tem um aumento muito grande dessas pessoas que antes conseguiam se sustentar com a aposentadoria e de mães solo, que estão fazendo artesanato, crochê, e vendendo alimentos para ajudar na renda de casa”, disse.
Apesar da expectativa de que, com o fim da pandemia, as pessoas que vivem em extrema pobreza pudessem sair dessa situação, conforme Letícia, são poucos os que tiveram oportunidades de conseguirem novos empregos.
“Nós vemos um aumento da extrema pobreza em Campo Grande depois da pandemia. Muitos não conseguiram novas oportunidades de emprego formal, e chegamos até a atender famílias de fora das comunidades, que nos procuraram porque estão desempregadas”, afirmou a coordenadora.
Moradora da comunidade da Homex, a autônoma Darline Lima Alves, de 35 anos, também relatou que as mães solo sofrem com o desemprego, por não terem onde deixar os filhos menores, como, por exemplo, em creches.
“Participo de um grupo com 58 mulheres da comunidade. Muitas relatam que estão sem emprego porque a creche mais próxima está lotada e não têm onde deixar os filhos. Na pandemia, a situação estava pior, mas, depois que os casos diminuíram, foram poucas as pessoas que conseguiram emprego”, contou.
INTERIOR
Situação parecida com a da Capital também pode ser encontrada no interior de Mato Grosso do Sul, segundo as coordenadoras da Cufa das cidades de Amambai e Corumbá, Cirley Leandro Farias e Amanda de Paula. Por lá, não houve aumento na geração de emprego nos últimos dois anos para pessoas que se encontram em regiões periféricas das cidades.
“Não percebi o aumento de contratações, pelo contrário, diminuiu o emprego formal e aumentou o informal. Uma das únicas saídas para as famílias conseguirem renda é trabalhando em cuidados domésticos, na reciclagem, como ambulantes e entregadores”, declarou Amanda.
De acordo com o coordenador da Cufa de Três Lagoas, José Leandro Buiu, existe preconceito no município com os moradores de bairros periféricos que se candidatam a empregos.
“Percebemos que só de das pessoas falarem que moram em um bairro periférico, na maioria das vezes, já é o suficiente para não serem contratadas. E quando conseguem, o salário é muito baixo. Porque os empregadores têm aquele estigma [de que] é favelado, pobre, preto, indígena, então qualquer coisa está boa e não são valorizados no ato da contratação”, disse.
Nilda Pereira, coordenadora da Cufa em Ivinhema, relatou que, na cidade, moradores das periferias conseguiram novos empregos depois da pandemia após a chegada de um empreendimento.
“Aqui, muitos perderam seus empregos formais na pandemia, mas, em razão de uma usina que foi instalada no município, moradores das comunidades foram contratados”, informou.
SAIBA
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, em abril, MS gerou 3.631 novos postos formais de trabalho, um crescimento de 0,59% em relação ao mês anterior. Nos últimos 12 meses, de maio de 2022 até abril deste ano, a expansão no número de empregados foi de 39.373.
FONTE: CORREIO DO ESTADO