A proximidade de Porto Murtinho – distante 443 km de Campo Grande – com o Paraguai resultou em tradições compartilhadas ao longo dos anos. Uma delas é a fé em Nossa Senhora de Caacupé, padroeira do país vizinho, mas que também tem seus fiéis espalhados por Mato Grosso do Sul.
No caso de Porto Murtinho, o carinho é tão grande que resultou em uma festa realizada na madrugada do dia 8 de dezembro, que engloba não só as promessas feitas para a padroeira, mas uma mistura com outras tradições, como a do Touro Candil. Para contar todas as histórias por trás do Festival Touro Candil em Porto Murtinho, a documentarista Mara Silvestre lança nesta semana o documentário “Las Promesseras”.
Mara, que esteve à frente da organização do festival em 2015 e 2018, realizou entrevistas com mulheres devotas de Nossa Senhora de Caacupé em busca de informações que desvendassem o caminho percorrido pela cultura ao longo dos anos na fronteira entre Brasil e Paraguai. “Em 2015, eu idealizei o Festival de Rua do Touro Candil em Porto Murtinho. Eu resido em Campo Grande, mas minha família atua em Porto Murtinho profissionalmente. Meu pai é militar, eu nasci em Corumbá e meu irmão em Porto Murtinho, mas tenho conhecimento dessas festas fronteiriças, estão na minha memória também”, explica.
De acordo com Mara, as mulheres paraguaias foram as grandes responsáveis pela preservação e pelo fortalecimento da cultura e de costumes ancestrais, até mesmo da própria língua originária, o guarani.
“As mulheres são 95% protagonistas dessa história, elas fazem promessa e vão tornando seus filhos promesseiros”, conta a documentarista.
Entrevistas
Mara explica que o festival realizado em 2015 foi feito com o apoio da prefeitura municipal de Porto Murtinho e em 2018 com recursos do Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul (FIC), da Fundação de Cultura do Estado (FCMS).
“Durante as gravações, eu comecei a passar nas casas e comecei a ver que os preparativos são feitos pelas promesseiras. Eu convivi com todo esse adorno, com toda essa tradicionalidade da fé que essas promesseiras têm. E são inúmeras promesseiras em Porto Murtinho. Elas preparam a sua comunidade, seus vizinhos para rezar, fazer o terço e fazer a festa do Touro Candil. E essa festa muitas vezes se inicia uma semana antes do dia 8, eu passei pelas casas entrevistando essas senhoras”, frisa Mara.
No documentário há depoimentos das promesseiras, além de especialistas na área. “As mulheres são viventes de Porto Murtinho, 90% delas são paraguaias, e elas contam que chegaram aqui na infância, porque no pós-guerra do Paraguai as famílias migraram na época do apogeu econômico, do charqueado, da erva-mate”, pontua.
A proposta de Mara é realizar mais dois curtas-metragens sobre outros aspectos e detalhes culturais da fronteira de Porto Murtinho e o Paraguai.
O lançamento do filme será no dia 24 deste mês, no Teatro de Arena Astério da Conceição, às 8h30min, em Porto Murtinho. Posteriormente, no mesmo dia, o curta-metragem também será exibido no Mercado Municipal de Camelo Peralta, no Paraguai, às 11h30min.
“Agora estamos pensando no lançamento, depois vamos trabalhar com a visibilidade, disponibilizando para as escolas, auxiliando na construção da nossa história”, acredita.
TOURO
As festas anuais em homenagem ao Touro Candil começaram em 2005, na cidade de Porto Murtinho. Além da celebração, o projeto mantinha um caráter sociocultural, com a participação de cerca de 90 adolescentes com idades entre 12 e 18 anos, que mostram por meio da dança e da encenação traços da cultura murtinhense. Os jovens participavam de todas as etapas de produção do Touro Candil, inclusive da criação do figurino.
Na história, além da fé em Nossa Senhora que vinha das promesseiras, a festa mantinha uma “disputa” entre duas equipes, representadas pelo Touro Bandido e o Touro Encantado, pela paternidade do Touro Candil. Os jurados, formados normalmente por artistas do Estado, eram os responsáveis por escolher qual equipe seria a vencedora.
Posteriormente, o espetáculo, sem os jurados, chegou a abrir o jogo do Brasil contra a Venezuela no Estádio Morenão, em Campo Grande, durante a última etapa das eliminatórias da Copa do Mundo, em outubro de 2009. Já em 2010, o grupo representou Mato Grosso do Sul durante o Salão Internacional de Turismo de São Paulo.
Fonte: Correio do Estado