Pela primeira vez nos últimos três anos, a inflação oficial de Campo Grande caiu por três meses consecutivos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro foi de -0,22% na Capital.

De janeiro a setembro, o índice marcou 4,00% e, nos últimos doze meses, 7,15%, segundo a divulgação feita ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os principais atores da queda do índice neste mês foram os grupos de telecomunicações e transportes. No caso do primeiro, a redução foi de 2,42% em Campo Grande, motivada pelo repasse da redução das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas contas de internet, celulares e planos de TV a cabo.

No segundo grupo, que apresentou retração de -1,32%, as médias de preços vêm caindo depois de duas reduções do preço do diesel feitas pela Petrobras no último mês e um mercado internacional mais favorável nos primeiros dias de setembro.

O doutor em economia Michel Constantino comenta que o período de deflação era esperado após os aumentos das taxas de juros e as reduções de impostos. “[O resultado do] IPCA mostra que a política monetária funcionou muito bem após os choques de preços internacionais”.

O mestre em economia Eugênio Pavão concorda com a análise. “A queda da inflação por causa do efeito ‘recessivo’ da Selic alta, que reduz a tomada de financiamento para investimentos e encarece o crédito, faz com que a economia tenha retração e os preços passem a cair”.

Em um período de um ano e quatro meses, a taxa Selic subiu 11,75 pontos porcentuais desde a mínima histórica de 2,0% – que vigorou até março de 2021. Atualmente, o Banco Central decidiu manter a taxa em 13,75%, apesar de ter dado a entender que, caso a economia não responda ao freio monetário, ainda pode aumentar mais 0,25 p.p. até o fim do ano.

Conforme o coordenador do curso de Economia da faculdade IBS Americas, Flávio Mesquita Saraiva, as projeções para a inflação foram melhorando ao longo do ano. “Neste momento, tem muitas incertezas, mas o relatório Focus indica uma convergência de inflação para 5,71% em 2022”, analisa.

Ele diz que, há um mês, a expectativa era de avanço de 0,28%, e o indicador deste mês veio com o recuo esperado pelo mercado. “Tem um conjunto de variáveis incertas que requerem que as previsões sejam revistas, então é comum quando o indicador vem diferente do projetado”, explica.

Resistência

Apesar de demonstrarem sinais de queda no âmbito nacional, os preços dos alimentos ainda resistem em Mato Grosso do Sul. No IPCA de setembro, o grupo alimentos e bebidas ficou praticamente estagnado, com queda de 0,05%.

Como já noticiado pelo Correio do Estado, segundo a pesquisa da cesta básica do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), os itens da cesta básica voltaram a subir firme em setembro, com alta de 1,82%, isso depois de terem retraído 1,25% em agosto.

De acordo com Flávio Saraiva, o preço dos combustíveis está ligado a vários fatores distintos, e isso, por conta da infraestrutura brasileira, influencia nos preços dos alimentos que chegam à mesa das pessoas.

“O preço está ligado a vários elementos, entre eles o cenário internacional, no qual se inserem as guerras e as tensões internacionais, fatores tributários e a nossa malha viária, que é constituída de estradas, as quais boa parte têm problemas. Isso tudo encarece o custo do frete e interfere na variação do preço”, comenta.

Para Pavão, os preços dos alimentos resistem em reduzir em razão de uma conjuntura complexa que, neste ano, pressiona os preços no mundo todo. “A oferta e a demanda mundiais, reflexo do pós-pandemia e do acirramento da guerra no leste europeu, causam essa resistência”, explica.

Ele cita a oferta de insumos que influenciam a produção agrícola, como fertilizantes, o preço alto do combustível no primeiro semestre e a dificuldade que o mercado internacional tem para equilibrar esse setor.

“Assim, os alimentos vão demorar um tempo maior para responder à política econômica, provavelmente em 2023 ou somente em 2024”, projeta.

Para Michel Constantino, essa resistência tem tudo a ver, também, com a demanda crescente. “Então, é necessária maior oferta para sentir redução de preços, e, como países de que o Brasil importa alimentos estão em crise de produção, como é o caso da Argentina, as reduções de custos internos ainda não conseguiram reduzir os preços finais”, conjectura.

“Se analisarmos os preços em outros países, devemos comemorar, pois já vemos falta de produtos, o que não acontece por aqui”, finaliza.

Nacionalmente, a queda foi um pouco mais ampla, atingindo 0,29% no cômputo geral, mas ainda menos intensa que nos meses anteriores, quando foram registrados índices de -0,68%, em julho, e -0,36%, em agosto. No ano, a inflação acumulada é de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO