Os indicadores econômicos do primeiro trimestre, apresentados até agora, surpreenderam positivamente os economistas. Com isso, os bancos já começam a revisar para cima suas projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2023.

Após a divulgação do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC), nesta sexta-feira (28), Santander, Bradesco e ABC Brasil mudaram suas previsões para o crescimento do Brasil no ano. O Bradesco é o mais otimista, passando sua projeção de 1,5% para 1,8%.

O BC divulgou nesta sexta-feira o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), que registrou crescimento de 3,32% em fevereiro em relação ao mês anterior, mostrou dado dessazonalizado do indicador que é um sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto).

Foi a taxa de expansão mais elevada desde junho de 2020 (+4,86%), na sequência das quedas intensas provocadas pelas paralisações devido à pandemia de Covid-19.

Em relatório, o Departamento Econômico do Bradesco, comandado por Fernando Honorato, afirma que o mercado de trabalho continua aquecido, o que deve sustentar a renda e o consumo das famílias em 2023. “Ao mesmo tempo, o PIB agropecuário deve ser ainda mais forte do que prevíamos anteriormente”, afirma o Bradesco.

Gabriel Couto, economista do Santander Brasil, colocou em revisão a projeção de crescimento do PIB no primeiro trimestre, atualmente em 0,5% ante o último trimestre de 2022. Para todo o ano de 2023, a previsão é de 0,8%. Como demonstra o número, Couto adota uma cautela maior que o Bradesco sobre a capacidade de crescimento do país em 2023.

“Projetamos uma desaceleração na demanda doméstica e para setores mais cíclicos da economia, por conta da expectativa de recessão global e os efeitos de uma política de juros mais apertada do BC. Mas também esperamos um avanço mais forte do agronegócio, refletindo uma produção recorde de grãos”, afirma Couto.

Outro ponto de preocupação para o economista do Santander é que a taxa de confiança dos empresários, tanto varejistas quanto de serviços, está abaixo do ponto neutro. “Nossos dados de março mostram que houve uma expansão nas vendas do varejo e uma ligeira retração no consumo de serviços pelas famílias”, afirma Couto.

Para o Bradesco, um ponto que pode auxiliar a economia é o câmbio, principalmente no controle da inflação. “Por isso, apesar da revisão positiva do PIB neste ano, mantivemos nossa projeção para o IPCA em 6,2% para 2023 e 4% para 2024”, diz o banco.

Quanto aos juros, o Bradesco acredita que paira, neste momento, uma incerteza sobre a meta de inflação, tema que deve ser discutido na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) de junho.

“Resolvido o impasse, acreditamos que a distância do Focus em relação à meta irá se reduzir, abrindo espaço para algum afrouxamento da política monetária no segundo semestre. Portanto, por ora, mantemos nossa expectativa de que a Selic encerre o ano em 12,25%”, diz o Bradesco.

O banco ABC Brasil também revisou sua projeção de crescimento do PIB em 2023, de 0,1% para 1%. Segundo Daniel Xavier, coordenador do departamento econômico do ABC Brasil, a projeção para o IBC-Br de fevereiro era de crescimento de 1,5%.

“O PIB oficial deve apresentar crescimento entre 1% e 1,2% no primeiro trimestre, na comparação com o final de 2022”, afirma Xavier. Por outro lado, este bom desempenho da economia reduz o espaço para uma queda de juros no curto prazo. “Não esperamos alterações relevantes na postura do Copom na semana que vem”, afirma o economista.

O mercado de trabalho também dá sinais de que a atividade econômica continua aquecida. O Brasil abriu 195.171 vagas formais de trabalho em março, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado nesta quinta-feira (27) pelo Ministério do Trabalho e Emprego. No primeiro trimestre, foram criadas mais de 526 mil vagas de trabalho.

A estimativa do Santander era de geração de 90 mil vagas. “Ainda esperamos uma desaceleração na criação de novos empregos no ano, considerando especialmente a política de juros do BC. Mas reconhecemos que há possibilidade de revisão para baixo nas nossas projeções de desemprego”, diz Gabriel Couto.

CAUTELA PERMANECE

Há economistas que destacam alguns pontos que poderiam distorcer os dados de atividade econômica no primeiro trimestre de 2023. Por isso, estão mais cautelosos em relação ao crescimento no restante do ano.

Fabio Astrauskas, economista e CEO da consultoria Siegen, afirma que os fundamentos da economia sugerem um crescimento muito menor do que o apontado pelo IBC-Br. Segundo ele, a alta dos combustíveis no começo de 2022 pode ter “contaminado” a base de comparação.

Ele afirma que os indicadores deste início de ano ainda não podem ser influenciados pela política mais expansionista do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Se de fato o governo aumentar muito os gastos, veremos o PIB maior, principalmente a partir do segundo trimestre”, diz Astrauskas.

Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo, afirma que os dados de comércio e serviços mostram uma desaceleração em relação ao ano passado.

“Os juros estão altos, a renda está menor, a confiança dos empresários está baixa. Então, infelizmente, teremos que conviver com um crescimento menor que este sugerido pelo IBC-Br de fevereiro”, afirma Gamboa.

Os números de comércio e serviços até fevereiro justificam a cautela no setor. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve uma queda de 0,1% nas vendas do varejo sem contar material de construção, veículos e alimentos, na comparação com janeiro.

O Santander aponta que o desempenho do varejo em fevereiro pode ser considerado misto. “Olhando para frente, apesar dos sinais ainda positivos em março, esperamos que o setor volte a apresentar desempenho morno no decorrer do ano”, diz Gabriel Couto.

No setor de serviços, o banco viu mais pontos positivos. Segundo o IBGE, houve um crescimento de 1,1% no volume de serviços prestados em fevereiro na comparação com janeiro. O avanço anual foi de 5,4%.

No entanto, o Santander chama atenção para a queda no volume de serviços prestados às famílias, de 0,7% na comparação mensal. Em um ano, houve crescimento de 11,5%.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO