O idioma do futebol feminino é o inglês. Quatro vezes campeão olímpico, tetracampeão mundial e único país que nunca ficou fora do pódio de uma Copa do Mundo nas oito edições já realizadas, os Estados Unidos são a referência e o time a ser batido na modalidade.

Desde a primeira edição do Mundial, em 1991, as americanas estão entre as favoritas. Pode mudar o adversário, o grande rival do momento, mas todas as seleções sabem que para conquistar um título relevante será preciso vencer a equipe americana.

A primeira Copa do Mundo feminina aconteceu em 1991, na China, e a primeira edição de Jogos Olímpicos com a presença do futebol feminino como modalidade foi em 1996, em Atlanta.

Desde então, das 16 decisões envolvendo os dois maiores torneios do futebol feminino, os Estados Unidos estiveram presentes em 10 finais e ficaram com o primeiro lugar em oito. Mas como essa dominância é possível durante três décadas?

O método que os americanos fazem com o esporte de uma maneira geral é replicado no futebol feminino. Assim como acontece com o basquete e o futebol americano, a relação entre escola e esporte é fomentada desde o início dos estudos.

Se os meninos podem escolher entre algumas opções, para as meninas o início é, invariavelmente, pelo futebol. Seja de forma lúdica, no início, ou como uma alternativa para bons estudos em ótimas universidades e uma carreira até a Copa do Mundo, a modalidade é praticada por praticamente todas as mulheres do país em determinado momento de sua vida.

“Uma menina nos Estados Unidos começa a treinar futebol feminino com quatro, cinco anos. Às vezes até antes disso. No Brasil, antes desse momento em que as meninas conseguem ter mais acesso, isso só acontecia após os 12, 15 ou até depois disso.

Uma menina que começa tão cedo e é incentivada por conta da parte estudantil faz o esporte crescer. Quantidade de praticante faz ter qualidade”, explicou Júlia Belas, jornalista e pesquisadora da modalidade no mundo.

Quantidade e qualidade não é uma exclusividade do futebol feminino quando o assunto é os Estados Unidos. Segundo dados da federação de futebol do país, mais de um milhão de meninas abaixo de 18 anos estão listadas como praticantes da modalidade.

Os números são parecidos com o que o basquete e o vôlei possuem, mas o futebol tem um diferencial importante para o futuro das jovens.

“Os Estados Unidos são referência na modalidade e as meninas sabem disso. Sabem que se conseguirem sucesso na formação escolar com o esporte, podem ir longe. Se não der certo dentro do país existe a possibilidade de jogar fora, como na Europa. E se não der no esporte, elas terão uma boa formação para seguir em outra área”, explicou Júlia Belas.

NÃO É ESPORTE “DE HOMEM”

Para muitos, o sucesso da seleção americana feminina de futebol sai um pouco da esfera esportiva e passa pela cultura do país. Nos EUA, esportes como futebol americano, basquete e beisebol são mais conhecidos e praticados, de uma maneira geral, pelos meninos.

Com isso, o futebol, ou “soccer” para eles, não possui uma barreira cultural, algo que acontece em outros países, onde é tratado como uma modalidade masculina.

“Acredito que o ponto de partida para o sucesso dos Estados Unidos não é a questão de quantidade e qualidade e, sim, cultural. Pelo fato do país ter outros esportes muito fortes, lá o futebol nunca foi visto como um esporte ‘de homem’ como é visto e falado na Europa e nos países da América Latina. As meninas que começam a jogar lá não sofrem com essa barreira. No Brasil, nós temos uma taxa de evasão muito grande e isso não acontece no esporte americano”, Olga Bagatini, jornalista e consultora da ONU sobre a presença feminina no esporte.

A LIGA É FORTE

Diferente do que acontece com o vôlei, que é uma alternativa de esporte para as mulheres durante sua formação, o futebol feminino tem uma liga profissional nos Estados Unidos desde 2012 Das 23 convocadas para a Copa do Mundo, 22 jogadoras atuam na NWSL (Liga Americana de Futebol Feminino). Dentre elas, Megan Rapinoe e Alex Morgan, que são duas das mais conhecidas jogadoras do planeta e símbolos do período vitorioso recente da seleção americana.

No início de junho deste ano Lionel Messi confirmou sua ida para o futebol dos Estados Unidos. Considerado um dos melhores da história, o astro argentino assinou com o Inter Miami e “parou” a Flórida com sua partida de estreia com gol pela equipe.

No futebol praticado por mulheres não é diferente. Maior nome da história da modalidade, Marta chama a cidade de Orlando de casa desde 2017. Decidindo por uma ida para a liga americana então com 31 anos, a brasileira também mudou a forma como o esporte era visto no país e no mundo do futebol feminino.

Além de Marta, os Estados Unidos também são a casa de Debinha, Ary Borges, Bruninha, Rafaelle, Lauren, Debinha, Andressa Alves, Adriana e Kerolin que estão na Copa do Mundo feminina defendendo a seleção brasileira.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO