O ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo (SP), na manhã de ontem, deixou uma professora morta e quatro feridos.

Em Campo Grande, na quinta-feira, um estudante usou um simulacro de arma para ameaçar de morte o diretor da Escola Estadual Teotônio Vilela. Esses dois incidentes alertam para os casos de violência em ambiente escolar.

O presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira, comenta que há uma série de pontos que devem ser mudados para se evitar a violência nas escolas, e um dos principais é a relação com a família.

Para Teixeira, a escola por si só não gera violência, a violência é um reflexo da sociedade na comunidade escolar.

Para a psicóloga Claudia Pinho, quando as crianças testemunham violências, principalmente no ambiente familiar, isso pode causar um sentimento de impotência em que a agressividade compensa essa sensação.

“Essas crianças, quando são expostas à violência, podem ser mais explosivas e, consequentemente, demonstrar a raiva mais rapidamente. É um turbilhão de emoção que acaba explodindo”, explica a psicóloga.

Além disso, a exposição frequente a atos violentos pode resultar em falta de sensibilidade das crianças.

“Independentemente de estar ferindo ou não, elas não têm a empatia”, comenta Claudia.

O presidente da Fetems afirma que ações como a inclusão de psicólogos e assistentes sociais nas escolas, a reformulação do currículo acadêmico, a efetivação dos professores, as ações de combate ao bullying e as salas com baixa ocupação são medidas importantes para combater a violência no ambiente escolar.

Jaime Teixeira alerta que essas ações ajudam a melhorar o vínculo do estudante, não só com o professor, mas com toda a comunidade, e fazem com que os alunos se interessem e gostem de estar no ambiente escolar.

A criação de grêmios estudantis também é uma das diretrizes que podem ser adotadas porque faz com que os estudantes, desde as séries finais do Ensino Fundamental, incluam-se como parte da resolução dos problemas da escola.

PROFESSORES

A violência escolar não ocorre só entre os alunos. Profissionais da educação também são alvos de ameaças e coerções. O presidente da Fetems diz que, nos últimos anos, casos de patrulhamento foram relatados.

“Militantes da extrema direita gravavam professores nas salas de aula e colocavam nas redes sociais, e isso deu muito transtorno. Esperamos avançar nesse sentido, de menos polarização nesses próximos anos”, comentou Teixeira.

A Fetems acompanha os casos de violência contra profissionais da educação de acordo com a intensidade da ação.

A entidade cobra posicionamentos das secretarias de Educação estadual e municipais, pede a participação do Conselho Tutelar em algumas situações, orienta o profissional a fazer o boletim de ocorrência e disponibiliza um advogado para acompanhar o caso, quando há necessidade.

No entanto, Jaime Teixeira relata que muitos professores não conseguem prosseguir nas salas de aula após sofrerem violência. Nesses casos, há uma readaptação e o profissional passa a atuar em outras funções, como, por exemplo, coordenador pedagógico.

AUMENTO DA VIOLÊNCIA

Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de maio de 2022 apontavam um aumento de 127% nos casos de lesão corporal dolosa (quando há intenção de machucar) nas escolas estaduais de Mato Grosso do Sul, em relação a 2021.

Segundo a Sejusp, 50 casos de lesão corporal foram notificados em escolas estaduais até 29 de maio do ano passado, enquanto entre janeiro e dezembro de 2021 foram registradas 28 ocorrências.
Correio do Estado pediu dados atualizados à Sejusp, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta.

CASOS

Em maio do ano passado, alunos da Escola Estadual Professora Ada Teixeira dos Santos receberam uma ameaça anônima de ataque durante o intervalo. Um estudante, que não quis se identificar, comentou que o anúncio do massacre foi feito por uma conta anônima no Instagram.

Na semana passada, um aluno de 15 anos levou uma arma de brinquedo para a escola e usou-a para ameaçar o diretor e outros alunos. Segundo relatos, o diretor da unidade foi separar uma briga e, enquanto os estudantes estavam a caminho da direção, alunos informaram sobre o simulacro de arma.

Nas redes sociais, um vídeo do momento em que o profissional imobilizou e desarmou o estudante viralizou.
Em ambos os casos, a Polícia Militar foi acionada, assim como a família dos estudantes.

AÇÕES

A Secretaria Municipal de Educação da Capital (Semed) informou que tem um Setor de Acompanhamento de Conflitos Relacionados à Evasão e à Violência na Escola (Secoe) que realiza ações periódicas, como palestras preventivas e formação de profissionais.

Há também parcerias com a Guarda Municipal e com a Sejusp para orientações e monitoramento das escolas.

A Secretaria de Estado de Educação (SED) não respondeu sobre o combate à violência escolar.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO