Mato Grosso do Sul tem mais de 1 milhão de pessoas inadimplentes, conforme dados da Serasa Experian. Parte desse público que está com o nome sujo em instituições financeiras pode se beneficiar do programa Desenrola Brasil, do governo federal. Com uma nova parcela da população tendo acesso ao crédito, o comércio projeta ter um fôlego e aproveitar esse consumidor de volta ao mercado.
O Desenrola Brasil é um programa emergencial elaborado para equilibrar a crise de inadimplência instaurada no País, principalmente após a pandemia de Covid-19. Desde segunda-feira, oferece a opção de renegociação de algumas dívidas com instituições financeiras e retirou da lista de inadimplentes aqueles que deviam até R$ 100.
O proprietário da Beco Acessórios, Djalma Santos, acredita que será uma oportunidade para que muitas pessoas voltem a consumir. Ele frisa que as condições oferecidas pelo programa devem facilitar a vida de muitas pessoas.
“Muitas vezes a pessoa tem uma situação financeira melhorada a ponto de voltar a consumir, porém, com restrições difíceis de liquidar, sem um parcelamento ou subsídio, fica mais difícil esse retorno”, avalia.
Outra que concorda com a expectativa positiva é a dona da loja de roupas Milua, Camila Gomes. “Esse ano tem sido difícil, então acredito que vai ser ótimo [o programa]. Acho que pode dar sim um fôlego”.
“Acho que será muito positivo, todo crédito e estímulo ao consumo são bem-vindos para o comércio”, corrobora Sueli Padovani, da loja Rosa de Saron.
Patrícia Lima, gerente da loja Magazine Luiza, diz que a parcela impactada pelo programa voltará a comprar. “Nós trabalhamos com um banco que está participando do Desenrola, então acredito que essas renegociações vão ajudar a trazer esses clientes novamente para a loja”.
A gestora ainda explica que muitos dos valores que ficarão para trás são baixos. “Pessoas que têm dívidas há muito tempo, na hora de fazer o acordo, o valor acaba sendo bem menor. Ela vai pagar e isso vai gerar mais crédito para poder comprar novamente”.
Para o gerente da loja Passaletti, na região central de Campo Grande, Leandro Freitas, o retorno será imediato. “Acredito que vai gerar um bom fluxo de novos clientes retornando para realizar compras, como, por exemplo, no crediário, uma das formas de pagamento mais utilizadas aqui na loja”.
A Associação Comercial de Campo Grande (ACICG) reforça o impacto positivo para o setor empresarial. “Principalmente se os débitos forem pagos em dia. Os efeitos benéficos, como o aumento do consumo por conta da sobra de recursos no orçamento familiar, podem não ser percebidos imediatamente, mas de forma gradual pelo comércio”, diz em nota.
CONSUMIDOR
Levantamento da Serasa Experian aponta que, do total de pessoas com o nome sujo no Estado, o ticket médio de dívidas por inadimplente até o mês de maio é de R$ 5,1 mil, sugerindo que grande parte das 1,036 milhão de pessoas poderá usufruir do programa, já que se enquadra em uma das regras anunciadas pelo governo.
Para a maioria dos entrevistados pelo Correio do Estado, o programa Desenrola Brasil ainda é uma novidade pouco conhecida, contudo, há aqueles que já se preparam para aproveitar as condições.
Autônoma, Jéssica Luana relata que é uma das pessoas que se encontra inadimplente e que pretende usufruir do programa. Porém, ainda não sabe se se enquadra nas normas exigidas. “Eu estou pesquisando faz horas sobre o Desenrola, pois acredito que seja uma grande oportunidade de conseguir regularizar minha situação e voltar a ter crédito na praça”.
Jéssica ainda enfatiza que a possibilidade abrirá caminhos para que ela possa melhorar suas condições no geral, uma vez que é microempresária e vai poder voltar a investir em seu próprio negócio.
Auxiliar hospitalar, Lindalva Pereira da Cruz conta que, entre sua família, o Desenrola chegou como uma ótima notícia, visto que não somente ela como o filho e a irmã também estão com pendências bancárias e vão se beneficiar das condições oferecidas.
“Não me orgulho de dizer, mas infelizmente faço parte desse grupo que está devendo, mas nunca é tarde para tentar mudar essa situação. Vou tratar de ver se o banco que devo está participando e tentar resolver isso”, afirma ela, que ainda revela o sonho de comprar a casa própria.
“Queria saber quem é que tem essa conta de só R$100. Eu estou com nome sujo por bem mais e com certeza quero aproveitar esse projeto aí”, comenta uma empregada do comércio que preferiu não se identificar.
Economista, Andressa Amorim diz que não pertence ao grupo de inadimplentes, mas avalia a novidade como positiva para todo o cenário econômico do País. “É um alívio dizer que não tenho o nome sujo, porém, tenho conhecidos que têm e já estão de olho para ver se vão se enquadrar nas exigências”.
CONDIÇÕES
As cinco maiores instituições financeiras do País – Banco do Brasil, Itaú, Caixa Econômica, Santander e Bradesco – aderiram ao programa. O Banco do Brasil ofertará descontos de até 25% nas taxas de juros de renegociação, descontos de até 96% nas dívidas e prazo de até 120 meses para pagamento
A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, destaca que a instituição entende que o programa vem para facilitar a vida de mais de 70 milhões de brasileiros.
“Apoiamos, desde o início, o governo na construção do programa. O Desenrola facilitará a aproximação entre devedores e credores, gerando um ambiente propício para a renegociação de dívidas, contribuindo para a retomada do crescimento econômico do País, com o retorno dessas pessoas ao mercado de crédito e consumo”.
O Santander informa que é possível renegociar e quitar o débito em até 120 vezes, conjuntura disponibilizada para a Faixa 2 já em andamento. “Teremos ofertas com e sem entrada, taxas flexíveis e descontos de até 90%”, detalha o banco, por meio de nota enviada ao Correio do Estado.
A Caixa Econômica Federal também aderiu ao programa, ofertando prazos que superam 90 meses de parcelamento da dívida. A redução varia de 40% a 90% para quem quitar a dívida à vista. O Bradesco foi consultado, mas até o fechamento da reportagem não houve retorno.
PROGRAMA
Dividido em duas faixas, o programa Desenrola Brasil, do governo federal, teve início na segunda-feira, com a estimativa de beneficiar 70 milhões de brasileiros durante as fases.
Portaria publicada no Diário da União pelo Ministério da Fazenda, na sexta-feira (14), possibilitou a antecipação do programa, que, de início, ficou disponível para a Faixa 2, correspondente aos que têm renda mensal entre dois salários mínimos (R$ 2.640) e R$ 20 mil.
Os pertencentes a essa faixa poderão renegociar dívidas sem limite de valor, com prazo máximo de até 12 meses, a fim de quitar o débito diretamente com os bancos em seus canais de atendimentos. Estima-se que, nessa etapa, aproximadamente 30 milhões de brasileiros sejam impactados. Outro efeito imediato é a extinção de pendências de até R$ 100 com instituições financeiras.
O Ministério da Fazenda ressalta que a ação não se trata de um perdão, e sim de parte do acordo firmado com o governo federal, que deverá ocorrer no máximo até o dia 28. O nome do consumidor saíra do cadastro negativo, mas a dívida ainda existirá. Cerca de 1,5 milhão de pessoas físicas deverão deixar automaticamente a lista do nome sujo.
Previsto para agosto, um leilão de créditos ocorrerá entre as instituições bancárias, que contará com dívidas bancárias, serviços básicos e companhias.
A terceira e última etapa está programada para ocorrer em setembro, sendo destinada à Faixa 1. Isso inclui devedores com renda de até dois salários mínimos ou inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) com dívidas de até R$ 5 mil, contraídas entre 1º de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2022.
FONTE: CORREIO DO ESTADO