As ações consistentes de combate à dengue, a soltura do mosquito com a Wolbachia e a vacinação colocam Campo Grande como destaque na organização dos serviços de saúde para o enfrentamento da doença.

Em meio ao surto nacional de dengue, que já se transformou em epidemia em pelo menos seis estados do País, o sistema de saúde de Mato Grosso do Sul busca controlar o crescimento da dengue no interior, já que na Capital a incidência de casos, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES), está abaixo de 100 para uma população de quase 900 mil pessoas.

Ao Correio do Estado, o enfermeiro e doutor em Infectologia Everton Lemos destacou que, na Capital, há inovações importantes que ajudam no combate à doença.

“Sobretudo, há uma organização dos serviços de saúde e da gestão para o enfrentamento da dengue. Campo Grande tem se destacado também na administração das vacinas, inclusive no feriado de Carnaval, iniciando a vacinação com público-alvo”, afirmou Lemos.

Everton Lemos também frisou que é necessário compreender que o combate deve ser constante dentro das residências.

“Apesar da dificuldade de reduzir o impacto da doença, quando se fala em saúde coletiva, precisamos compreender que a maioria dos focos são intradomiciliares. Dessa forma, para além da incorporação de novas tecnologias, deve haver o empenho de toda a sociedade, identificando e eliminando os focos”, declarou o doutor em Infectologia.

O atual boletim mostra que o Estado tem 2.058 casos prováveis de dengue, sendo 310 casos confirmados e uma morte em investigação. O relatório divulgado na última semana traz um aumento de 119 casos em um período de sete dias em MS.

AÇÕES

Em andamento desde 2020, o projeto de liberação dos mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia espalhou 102 milhões de mosquitos pelas sete regiões da Capital até dezembro de 2023. Neste ano, a pesquisa segue em nova etapa, para analisar os resultados da ação.

De acordo com o World Mosquito Program (WMP), responsável por implementar o método Wolbachia em Campo Grande, a prevalência da bactéria na população de mosquitos aumentou constantemente, e, em algumas áreas, a presença do inseto que impede a fecundação dos ovos do mosquito da dengue variou entre 70% e 100%.

Ao longo das liberações, que ocorreram em seis etapas, mais de 2,5 kg de ovos de mosquitos foram dispersados, segundo a WMP. As fases do projeto atingiram aproximadamente 130 mil pessoas.

Além da liberação dos mosquitos dentro dos tubos que foram realizadas nos bairros, a pesquisa também desenvolveu outros métodos, como a instalação de uma biofábrica na sede do Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen-MS) para produzir milhões de mosquitos com a bactéria Wolbachia, usados para o enfrentamento da dengue, da zika e da chikungunya.

VACINAÇÃO

Mato Grosso do Sul recebeu 41.783 doses da vacina contra a dengue para 34 municípios durante no fim de semana.

O imunizante em questão é o Qdenga, fabricado pela farmacêutica japonesa Takeda. A vacina, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é gratuita e começou a ser aplicada neste domingo em Campo Grande, o público-alvo são crianças de 10 anos e 11 anos.

Em entrevista ao Correio do Estado, Antônio Carlos, de 57 anos, que levou sua neta Yasmin, de 10 anos, para tomar a primeira dose da vacina, falou sobre a importância da imunização das crianças.

“A vacinação é importante, principalmente contra a dengue, já que até então não havia nenhuma vacina contra esta doença e os sintomas são prejudiciais a saúde”, declarou.

Mãe de Gabriel, de 10 anos, a enfermeira Rosilene Rocha acredita que a aplicação da vacina contra a dengue traz uma esperança de diminuição de casos em Campo Grande.

“Apesar das diferentes estratégias que já temos contra a dengue, esperamos que a chegada desta vacina faça com que não tenhamos mais as consequências mais graves desta doença”.

Para a servidora federal Josiane Barbosa Matos, de 41 anos, que esteve no posto de saúde com seu filho Davi, de 10 anos, a vacina da dengue é mais uma aliada para proteger as pessoas de uma doença que pode ser letal. “A gente tem de ter consciência de cuidar da nossa casa e do nosso quintal, para evitar a dengue. Além de levar os nossos filhos para serem vacinados, protegendo, assim, as pessoas que a gente ama”, enfatizou.

SAIBA

A Wolbachia é uma bactéria intracelular presente em 60% dos insetos, mas que não estava no Aedes aegypti. Quando presente nesse mosquito, ela impede que os vírus da dengue, da zika, da chikungunya e da febre amarela se desenvolvam, contribuindo para a redução dessas doenças.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO