O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária de Mato Grosso do Sul sofreu ligeira queda de 6,5% em 2022. Em números, o VBP finalizou o ano em R$ 70,9 bilhões, contra R$ 75,8 bilhões em 2021.
Na subdivisão entre agricultura e pecuária, o faturamento bruto nas lavouras atingiu R$ 49,2 bilhões e da pecuária chegou a R$ 21,7 bilhões.
A estiagem foi a grande vilã na queda do valor bruto da produção do lado da agricultura. Na pecuária, além da estiagem, pesou a queda no preço da arroba do boi no ano passado.
No País, o VBP do ano passado foi de R$ 1,189 trilhão. O valor nacional é R$ 90 milhões inferior ao de 2021, o que representa uma estagnação, provocada pela quebra da soja em parte de Mato Grosso do Sul e na região Sul.
Só a soja foi responsável por R$ 24,5 bilhões e respondeu por 49,7% da agricultura, embora essa grandeza tenha sido diminuída em 22,7% na comparação com 2021, quando registrou VBP de R$ 34,7 bilhões.
Na pecuária, o rebanho bovino representou 72,6% do setor, mas na comparação dos dois últimos anos houve queda de 7%, com R$ 15,7 bilhões em 2022 e R$ 16,9 bilhões em 2021. Agora, o VBP de Mato Grosso do Sul representa 5,9% do Brasil e a 7ª posição no ranking nacional, entre 26 estados e Distrito Federal.
De acordo com nota técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a estiagem prolongada ocorrida em 2021 nas regiões Sul e parte do Centro-Oeste do País resultou em prejuízos causados aos agricultores de Mato Grosso do Sul.
A nota aponta, ainda, que as culturas com maior perda de produção foram soja, milho e feijão.
Por tabela, a pecuária acabou sendo afetada por conta das perdas de suprimento. Segundo a consultora de economia da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), Eliamar Oliveira, a agricultura do Estado sofreu com a seca prolongada.
“A agricultura foi a maior responsável pela retração no VBP em 2022. A safra da soja, cultura com participação mais expressiva no setor, foi diretamente afetada pela estiagem e registrou queda de 35% na produção. Mesmo com a valorização dos preços de 2022, não foi possível reverter a queda no faturamento da atividade. O milho, com desempenho extremamente positivo, cumpriu o papel de minimizar as perdas para o faturamento da agricultura”, detalhou Eliamar Oliveira.
A economista da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), Renata Farias, explicou que – em 2022 – houve redução de produção e preço da soja, porém, o destaque foi para o crescimento do milho.
“O menor VBP para soja não foi visto apenas em Mato Grosso do Sul, mas, sim, em todo o Brasil”, justificou Farias.
Otimismo em 2023
De fato, no Brasil, o VBP caiu 0,1%, ficando estacionado em R$ 1,189 trilhão. No entanto, em nível nacional, a previsão do Mapa aponta que este ano o VBP vai saltar para R$ 1,263 trilhão, com crescimento de 6,3%.
“A projeção para 2023 é otimista, mas devemos ponderar porque ainda estamos em pleno desenvolvimento da soja 2022/2023. A produção de soja prevista para esta safra é de 12,3 milhões de toneladas em Mato Grosso do Sul. A menor inflação impactando o custo de produção propicia uma expectativa positiva para o VBP. A incerteza política econômica, porém, ainda aflige o mercado sobre a cotação da soja permanecer no patamar de R$ 160,00, por saca”, esmiuçou Renata Farias.
Para ela, o ano de 2023 será de impacto pós-pandemia e, por isso, o setor agropecuário deve ter cautela quanto ao excesso de positividade em relação ao crescimento, embora o Estado tenha capacidade produtiva suficiente para alcançar resultados superiores ao ano de 2022.
Hoje, segundo a Aprosoja, cerca de 93% das áreas estão em boas condições e 7% em condições regulares.
A contenção do otimismo pregada e defendida por Renata Farias vem dos resultados do milho sul-mato-grossense, cujo VBP elevou-se em 68,7%, saltando de R$ 9,6 bilhões para R$ 16,2 bilhões. Mesmo assim, não foi suficiente para suprir as perdas com a soja.
Culturas como algodão, amendoim, banana, feijão, laranja, mandioca e tomate tiveram elevação do VBP, mas os números são muitos modestos diante do gigantismo da soja, do milho e até da cana-de-açúcar.
Na avaliação do economista Staney Barbosa, do Sindicato Rural de Campo Grande, esses dados refletem os prejuízos causados pela estiagem e, em especial, na produção de soja, que teve peso de mais de 30% na composição do VBP nacional.
“Olhando para os números, segundo a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], na Safra 2020/21, o País produziu 139 milhões de toneladas de soja, já na Safra 2021/22 essa soma caiu para 125 milhões de toneladas, acumulando queda de quase 10% na produção de soja do País. Toda essa perda agora se reflete nos números do VBP divulgados em dezembro pelo Mapa”, observou o economista.
Como consequência, o valor bruto gerado pela produção de soja do País caiu de R$ 384 bilhões em 2021 para R$ 338 bilhões em 2022.
No caso do Brasil, boa parte desses prejuízos foram compensados pelo excelente desempenho de outras culturas, como café, cana-de-açúcar, feijão, trigo e milho, resultando em uma queda pouco expressiva, de menos de 1%, no valor bruto gerado pela produção brasileira em 2022.
Segundo Staney Barbosa, em Mato Grosso do Sul, essa compensação não aconteceu. Ele revela que o VBP do Estado caiu de R$ 75,9 bilhões em 2021 para 70,9 bilhões em 2022, acumulando queda de 5,9% no período.
“Em que pese termos aumentado a área plantada, houve queda expressiva na produtividade da soja. A estiagem fez a produção de soja do Estado cair de 12,2 milhões de toneladas na safra 2020/21 para 8,9 milhões de toneladas na safra 2021/22, ou seja, uma queda de 26,8% de um ano safra a outro. Por isso, destaco o importante papel que cumpriu o milho safrinha na determinação do valor bruto gerado pela produção do Estado”, arrematou Barbosa.
Em suma, ele explica que as perdas na produção de soja não terem sido compensadas por outras atividades, como se vê nos números nacionais.
Quanto a 2023, Staney Barbosa se mantém cauteloso, porém, concorda coma estimativa do Mapa, levando em conta um crescimento de mais de 20% no VBP gerado pelo complexo nacional da soja nesta safra que se inicia.
Para Mato Grosso do Sul, em especial, a Conab prevê, em virtude do baixo crescimento da safra anterior, um aumento de aproximadamente 49% na produção de soja do Estado na safra 2022/23.
Pecuária
Estudo elaborado pela equipe econômica do Sistema Famasul publicado esta semana mostra que, em 2022, houve desvalorização de 18,04% na cotação da arroba do boi gordo e queda de 19,56% no valor da arroba da vaca entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022.
O estudo destaca que a inflação voltou a subir e pressionou o poder de compra do produtor.
A desvalorização da arroba do boi também pesou na queda do VBP em Mato Grosso do Sul.
As minúcias do estudo revelam, também, que a arroba da vaca sofreu desvalorização mais acentuada porque os preços nominais estão menores em razão do aumento do abate de fêmeas.
Além disso, os preços dos cortes bovinos desvalorizaram ao longo de 2022, com o corte traseiro caindo 10,38% entre janeiro e dezembro, fechando o ano cotado ao valor médio de R$ 23,16/kg.
Já no corte dianteiro com osso, a queda foi de 9,05% no período. A carcaça casada da vaca com preço de R$ 18,29, por quilo, desvalorizou-se em 11% no ano.
A única exceção – segundo o estudo – foi na ponta de agulha, que valorizou 1,73% de janeiro a dezembro de 2022.
FONTE: CORREIO DO ESTADO