Os cientistas políticos Daniel Miranda e Tércio Albuquerque analisaram como positiva a decisão da senadora Tereza Cristina (PP-MS) de usar as suas mídias sociais para se posicionar a favor da aprovação do texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Tributária pela Câmara dos Deputados.
Na publicação, a parlamentar sul-mato-grossense escreveu que a aprovação da reforma foi o primeiro passo rumo a um sistema tributário mais eficiente e justo, mas que ainda há muito chão pela frente. “Agora, no Senado Federal, que é a casa revisora, vamos analisar com calma e aprimorar o texto da Câmara”, afirmou.
“O agro, que é um setor essencial para a segurança alimentar, foi atendido inicialmente. Como oposição responsável, sempre estarei disposta a votar questões de Estado que melhorem a vida dos brasileiros. Uma reforma que é iniciativa do Congresso Nacional”, reforçou a senadora.
Para os dois cientistas políticos, ao se colocar ao lado do agronegócio em detrimento ao direcionamento do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), contra a aprovação da Reforma Tributária, Tereza Cristina demonstrou que está do lado do desenvolvimento do Brasil e não a favor de uma oposição pautada pelo revanchismo.
Tanto que os senadores do PL já admitem votar a favor da Reforma Tributária na Casa de Leis se forem feitos ajustes e se houver estudos e projeções que comprovem o impacto para o contribuinte. Na Câmara, 20 dos 99 deputados do PL votaram a favor da PEC, apesar das fortes críticas públicas feitas pelo ex-presidente, que fez campanha contra o texto.
O cientista político Daniel Miranda destacou que, em primeiro lugar, com Jair Bolsonaro inelegível – e, ao que tudo indica, isso não deve mudar, pelo menos para 2026 – acarreta uma “vacância” para a chapa presidencial e disputas daí decorrentes que não existiriam, ou seriam atenuadas, se ele pudesse concorrer.
“Então, tensões e atritos vão se tornar mais agudos no interior do bolsonarismo, que nunca foi exatamente um campo pacífico. Para piorar, Bolsonaro não é e nunca foi líder político, ele sempre foi candidato, mesmo quando esteve na Presidência da República. É o tipo de político que sabe muito bem disputar e vencer eleições, mas só isso. Daí sua postura contra a Reforma Tributária ser puramente eleitoral e o atrito decorrente com as alas mais responsáveis do bolsonarismo”, analisou.
A tendência, conforme o cientista político, é ter uma cisão crescente entre o bolsonarismo mais radical e o mais institucionalizado, ou seja, aquele que ocupa cargos e assume responsabilidades. “A senadora Tereza Cristina tem uma posição mais favorável porque tem cargo, mas, no Legislativo, o que lhe permite circular no mundo político e articular, se assim desejar, uma candidatura ou se colocar à disposição”, pontuou.
Ele acrescentou que, como quem decide a composição das chapas é, em última instância, quem efetivamente controla os partidos, a parlamentar sul-mato-grossense terá de controlar um partido ou ter apoio de alguém que controle. “O PL do Valdemar Costa Neto provavelmente vai lançar alguém e tenho dúvidas se o nome dela está na fila de apoios. Seu partido, o PP, é dividido, como bom membro do centrão, portanto, será que a legenda vai querer bancar candidatura própria?”, questionou.
Para Daniel Miranda, a resposta para essa pergunta vai depender muito da relação do PP com o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no momento da eleição de 2026. “Tereza só decola se tiver controle de algum partido ou apoio firme do partido, pois a lógica aí é a seguinte: mulher, conservadora, evangélica supõe-se que dá voto, daí o nome dela. Tereza é conservadora e mulher, mas não sei a religião dela, pois ela não apela a esse tipo de recurso”, argumentou.
O cientista político reforçou que, como Bolsonaro nunca foi líder de nada, só candidato, se ele não pode ser mais disputar a eleição presidencial de 2026, o que lhe restará? “Os bolsonaristas como Tereza Cristina e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Repuclicanos), não vão continuar com ele se isso implicar irresponsabilidade no mandato, pois querem não apenas se reeleger, mas se firmarem como lideranças nacionais, a primeira, do agronegócio, enquanto o segundo da direita. Já os bolsonaristas raízes não querem a responsabilidade do Governo, apenas o conforto da oposição”, destacou.
Já o cientista político Tércio Albuquerque argumentou que a votação da Reforma Tributária escancarou a todos que a união da direita é na verdade um “castelo de cartas”, bastando ver a situação de Tarcísio de Freitas e de Jair Bolsonaro.
“O enfrentamento do governador de São Paulo com o Bolsonaro foi de forma contundente porque ambos estavam em uma reunião do PL discutindo a Reforma Tributária, enquanto o ex-presidente exigia votação contrária, o segundo se posicionava pela aprovação. O desentendimento demonstrou que o governador pretende criar um campo próprio, buscando desenvolver uma política dele de aglutinação em torno de seu nome, desvinculando do nome de Bolsonaro e, principalmente, dos mais radicais”, destacou.
Ele pontou que não é uma situação muito fácil ocupar espaço do Bolsonaro, pois, mesmo estando inelegível, ainda continua acreditando que o que vai acontecer em 2026 será o lançamento de alguém de dentro da sua família para poder continuar no comando.
“Agora, a senadora Tereza Cristina se fortalece sem dúvida nenhuma porque não está confrontando abertamente Bolsonaro como Tarcísio de Freitas faz, ou seja, batendo de frente com todo o grupo da direita mais radical”, analisou.
Tércio Albuquerque acrescentou que a senadora sul-mato-grossense tem toda a chance de atrair bolsonaristas em seu entorno, enquanto Tarcísio terá mais dificuldade pelo peso do PT e companhia no Estado de São Paulo. “Essa é a minha visão. O Jair Bolsonaro é outra coisa, pois, a cada dia que passa deve ficar mais sozinho, correndo o risco de empurrar seus mais fiéis escudeiros para outras paragens. Tereza Cristina deve aglutinar todos, pois muitos são ligados ao agronegócio, que tem a senadora como principal representante, então, ir para o lado dela será o caminho mais natural”, finalizou.
FONTE: CORREIO DO ESTADO