A Casas Bahia registrou prejuízo líquido de R$ 1 bilhão no quarto trimestre de 2023, segundo resultados financeiros divulgados na noite de segunda-feira (25). A perda é a maior da história da varejista em um trimestre, e representa seis vezes o prejuízo de R$ 163 milhões apresentado no último trimestre de 2022.
A receita líquida da companhia no período foi de R$ 7,4 bilhões, uma queda de 16,2% em relação ao quarto trimestre do ano anterior.
Em todo o ano de 2023, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 2,6 bilhões –um salto de quase oito vezes em relação às perdas de 2022, da ordem de R$ 342 milhões. A receita líquida no ano foi de R$ 28,8 bilhões, 6,6% menor que a do ano anterior.
De acordo com a empresa, o resultado reflete “o desempenho do mercado e, também, impactos não recorrentes de fatores ligados ao Plano de Transformação que se referem à reestruturação, otimização de quadro de pessoas e fechamento de lojas.”
Na apresentação dos resultados, a administração da varejista afirma que reduziu o número de funcionários em 8.600 entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Houve também redução de 42% no número de cargos de alta liderança.
A Casas Bahia ainda fechou 55 lojas no ano passado, sendo 17 só no quatro trimestre. Já os estoques foram reduzidos em R$ 1,2 bilhão.
Na divisão por canais, a empresa registrou quedas de 12,4% nas receitas brutas de lojas físicas, e de 20,8% nas vendas virtuais.
Em contrapartida, a empresa afirma ter apresentado em 2023 o melhor fluxo de caixa dos últimos quatro anos, da ordem de R$ 648 milhões, frente a R$ 582 milhões negativos de 2022. O fluxo de caixa livre é o saldo em caixa depois que todas as obrigações foram pagas. No quarto trimestre, o fluxo de caixa livre foi de R$ 721 milhões (frente aos R$ 2,5 bilhões negativos do mesmo período do ano anterior).
‘PERSPECTIVA DESAFIADORA’
Em relatório, o banco BTG afirma que a Casas Bahia “reportou resultados fracos no quarto trimestre, marcados por vários eventos pontuais, principalmente devido à recuperação em curso”. De acordo com a instituição, a varejista tem uma “perspectiva desafiadora”.
“Ainda estamos cautelosos sobre o caso devido às perspectivas competitivas do comércio eletrônico, aos altos custos de financiamento da Casas Bahia e à incerteza sobre a monetização de créditos fiscais, o que pode prejudicar sua capacidade de investir no crescimento de suas operações e continuar a impactar sua estrutura de capital”, escreveram os analistas do banco, chefiados por Luiz Guanais.
Já a equipe de análise de varejo da XP, chefiada por Danniela Eiger, afirmou que “as iniciativas de reestruturação prejudicaram a rentabilidade” da varejista. “O GMV total [vendas brutas] diminuiu 12% em relação ao ano anterior, impactado pelo cenário macroeconômico ainda desafiador, pela base de comparação difícil da Copa do Mundo e pelo encerramento de 55 lojas em 2023”, diz a XP em relatório.
Para a companhia, “a evolução das iniciativas do plano de transformação em 2023 ocorreu dentro do cronograma”. “Após as reestruturações necessárias durante o exercício, esperamos colher benefícios de maneira gradual ao longo de 2024, o que nos deixará em posição fortalecida para crescermos de maneira estrutural a partir de 2025”, diz a mensagem da administração que acompanha os resultados.
Fundada em 1952 em São Caetano do Sul, no ABC paulista, pelo imigrante polonês Samuel Klein, a empresa decidiu no ano passado voltar às suas origens na tentativa de superar a crise financeira que atravessa.
“Nós estávamos gastando muito para sermos generalistas, tentando atrair clientes de outras categorias, como uísque, sendo que o nosso cliente de móveis e eletro já é muito fiel”, disse à Folha em setembro Renato Franklin, presidente do grupo Casas Bahia.
A Casas Bahia decidiu voltar a comprar e vender apenas móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Várias outras itens que estavam presentes no site da companhia —como artigos para festa, decoração, perfumaria e cosméticos, pet shop, alimentos e bebidas— deixaram de ser comprados e vendidos pela empresa. Eles continuam no site, mas apenas com a venda de terceiros, os “sellers”.
O grupo Casas Bahia é formado também pela rede Ponto, pelo site Extra.com, pela fabricante de móveis Bartira, pelo banco digital Banqi e pela empresa de logística Asaplog.
FONTE: CORREIO DO ESTADO