Ainda conforme Paiva, o aluguel acaba sendo uma estratégia a que muitos preferem recorrer, em vez do investimento na casa própria.
“Muitas pessoas deixam de comprar um imóvel e vão para o aluguel. O aluguel possibilita flutuar melhor com as condições econômicas, porque, caso suba, a pessoa pode ir para outro lugar mais barato”, comenta.
O cenário do Estado segue o nacional. Conforme a Abecip, os financiamentos imobiliários com recursos do SBPE somaram R$ 11,9 bilhões em janeiro deste ano, um recuo de 18,4% quando comparado a janeiro do ano passado.
No acumulado de 12 meses até janeiro deste ano, o volume financiado somou R$ 176,5 bilhões, o que representa uma redução de 15% em relação ao período anterior.
Juros
O Correio do Estado fez uma simulação de crédito imobiliário levando em consideração dois cenários, o atual, com o crédito custando mais de dois dígitos de juros (pelo menos no custo efetivo total da operação), e de 12 meses atrás, quando os juros eram, em média, de 8% ao ano pelas instituições financeiras.
Como os juros variam conforme a renda do contratante, a localidade em que o empréstimo será tomado, o prazo e o valor do imóvel, além do relacionamento do contratante com o banco, a renda padrão das simulações foi de R$ 10 mil por mês para a compra de um imóvel de R$ 400 mil.
No Banco Santander, por exemplo, foi exigida uma entrada de R$ 130 mil. A taxa efetiva anual foi de 10,49%, e o custo efetivo total (CET), de 11,43% ao ano. Em 35 anos (420 meses), os R$ 270 mil financiados pelo contratante teriam se tornado, na realidade, R$ 846.229,26.
Só de juros, a operação, que começaria com parcelas em torno de R$ 3 mil e terminaria com pouco menos de R$ 700 ao mês, teria cobrado do cliente mais de R$ 0,5 milhão – para ser mais preciso: R$ 534.595,26.
Na Caixa Econômica Federal, banco campeão na concessão de crédito imobiliário, a situação é bem parecida. Nas mesmas condições de renda, prazo e valor do imóvel, para a cidade de Campo Grande, o banco aceitaria uma entrada menor (R$ 117.714,92) e financiaria um valor um pouco maior (R$ 282.285,08).
A primeira parcela seria de R$ 2,9 mil, e o financiamento terminaria com algo em torno de R$ 700. Ao longo do período, o banco público teria ficado com R$ 811.321,65, dos quais R$ 529.036,57 em juros e custos da operação.
Há um ano, uma mesma operação sairia um pouco mais em conta, com as parcelas começando em R$ 2.533,33 e terminando em R$ 359,56, para os mesmos padrões de renda e valor do imóvel.
Peso dos juros
O economista Michel Constantino exemplifica o peso dos juros ao se adquirir um imóvel. “De 60% a 70% das compras de imóveis são financiadas, e a taxa de juros impacta diretamente a dinâmica desse mercado.
Hoje é em média 12% ao ano, é elevada e está seguindo a ideia do Copom [Comitê de Política Monetária] de desestimular o uso de crédito no presente e deixar para comprar no futuro”, diz.
Ainda de acordo com o economista, a expectativa é de que a situação melhore apenas de médio a longo prazo, com possível redução nos juros a partir do segundo semestre deste ano.
“Na economia chamamos essa taxa de juros de custo da impaciência, e essa impaciência está bem cara, reduzindo as transações imobiliárias e da construção civil em geral. As expectativas para os próximos anos de 2024 e 2025 é de que a taxa Selic reduza para algo próximo de 10% e de que os financiamentos voltem a um dígito”, opina.
Dicas
Para Constantino, a melhor dica para quem pensa em comprar um imóvel usando crédito bancário é esperar. Se a pessoa tiver um pouco de dinheiro em caixa, pode ser melhor deixar o dinheiro no banco, com aplicações de renda fixa com rendimentos superiores a 1% ao mês.
Segundo a avaliação de Constantino, essa é uma boa estratégia diante das atuais circunstâncias. “As pessoas já estão deixando para comprar no futuro e aproveitando o rendimento”, explica.
“E mesmo que tenha 50% para pagar, nesse momento é melhor esperar, pois as expectativas são de redução nas taxas de juros a partir de agosto a novembro deste ano”, acrescenta.