Publicado no fim de novembro, o decreto municipal suspendendo o Carnaval de rua de Campo Grande pelo segundo ano consecutivo foi um balde de água fria para quem passou os últimos meses batalhando e torcendo para a realização da festa nos moldes tradicionais.

Mesmo assim, as escolas continuam mobilizadas, sem interromper todos os afazeres que cercam a produção da festa, ainda que o desfile à moda antiga tenha virado miragem.

No sábado passado, uma celebração para marcar a passagem do Dia do Samba (2 de dezembro) reuniu, no Horto Florestal, todas as escolas da Capital, que mostraram seus sambas-enredos, suas rainhas e outros destaques.

Estima-se que 10 mil pessoas atuem direta ou indiretamente no Carnaval apresentado pelas escolas a cada ano.

São artistas, dançarinos, músicos, técnicos, dirigentes, associados, prestadores de serviços, fabricantes de insumos e fornecedores de serviços que garantem o brilho da folia.

A conversa entre a Liga das Escolas de Samba de Campo Grande (Lienca), a prefeitura e o governo do Estado, ainda em andamento, aponta para apresentações on-line em substituição ao desfile no sambódromo da Praça do Papa.

“Fomos pegos de surpresa. O decreto é coisa do prefeito e nós temos que acatar, porque é ele que comanda.”

“Foi um balde de água fria para a gente, porque nós estávamos aguardando para fazer o maior e melhor Carnaval de todos os tempos em Campo Grande”, desabafa Alan Catharinelli, presidente da Lienca.

TRISTEZA  E SOLIDARIEDADE

“Ficamos tristes, mas, ao mesmo tempo, temos de ser solidários, porque a gente não vai colocar em risco a saúde da nossa população e do nosso público, que é muito de famílias, crianças, pessoas idosas.”

“Carnaval é alegria, é folia, emprego e renda. As pessoas ficam chateadas, mas a gente tem a obrigação de manter a calma das nossas comunidades.”

“Somos solidários tanto aos decretos que o governo do Estado fizer quanto aos da prefeitura”, argumenta Catharinelli, embora reconheça que o golpe foi ainda mais forte diante dos eventos de grande porte que vêm ocorrendo na cidade desde o mês passado, com aglomerações de milhares de pessoas, e dos que estão programados até o fim de dezembro.

“É muito difícil, porque nossa cultura é tão grande, tão maravilhosa, e parece que tudo recai em cima do Carnaval.”

“O que a gente sente é que parece que o culpado de tudo é o Carnaval. Não é, é uma cultura. A nossa cultura carnavalesca e os outros meios culturais são os maiores prejudicados.”

“Mas para que a gente não encerre com isso, para que a gente não deixe de realizar, vamos criar outros meios”, declara o presidente da Lienca.

“Estamos tendo um bom diálogo com a prefeitura e com o governo do Estado. Vamos estudar uma maneira para que a gente possa realizar de alguma forma o nosso Carnaval. Estamos dialogando.”

“A gente fica triste, mas tem que seguir normas e ordens. O que a gente pode fazer? Paciência”, completa Catharinelli.

WEB FOLIA

Ao que tudo indica, a alternativa será mesmo um repeteco da celebração limitada às quatro linhas das telas pessoais e domésticas.

Como ocorreu neste ano, quem quiser ficar por dentro de como as agremiações estão materializando seus sambas-enredos para o próximo Carnaval provavelmente vai curtir os batuques e as letras das composições, as cores das fantasias e dos adereços, além dos requebrados dos passistas, por meio de celulares, tablets, notebooks e televisões com acesso à internet.

Tanto o carnavalesco quanto a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur) confirmam essa possibilidade.

“Temos um formato que poderá ser a live on-line. Mas agora temos de sentar com o pessoal da saúde, da defesa civil e de todo o segmento para estruturar de que maneira poderemos fazer o nosso Carnaval, se for possível realmente, de maneira saudável, com as escolas de samba.”

“Temos alguns planos, mas no momento não podemos concretizar nada.  Em 2021 não realizamos nada, apenas pegamos as redes sociais e criamos vídeos.”

“Não fazemos o Carnaval sozinhos, a Liga e as escolas de samba não conseguem fazer. Precisamos do poder público para nos apoiar”, revela Catharinelli.

“Assim que os decretos foram liberando, as escolas puderam voltar à sua normalidade, fazendo seus eventos e lançando seus sambas-enredos”, conta o presidente da Lienca.

“A gente tem prejuízo porque as escolas já estão investindo, já estão gastando para aquele enredo, aquele Carnaval do seu planejamento. Carnaval não é somente em fevereiro, não, começa um quando termina o outro.”

“Nós queremos ressaltar isso muito bem. A Liga das Escolas de Samba e todas as escolas de samba, a gente quer, deseja e pede para que a comunidade se vacine.”

“A vacina é o único meio para que a gente possa ir contra essa pandemia. Quem puder já tomar a terceira dose, tem que tomar. É a maneira que estamos encontrando, graças a Deus, para conter essa pandemia”.

BLOCO DA SAUDADE

A aposta na vacina e a crença de que seja possível “fazer um Carnaval saudável de alguma maneira”, demonstradas pelo presidente da Lienca, talvez tenham origem no que Catharinelli vem acompanhando nos barracões como observador interno.

“As escolas de samba estão com sede de Carnaval, com sede de folia. Todas as escolas estão realizando seus eventos e o pessoal está lá com saudade, saudade do nosso samba, da nossa folia e do nosso Carnaval.”

“[As pesoas] estão ansiosas e colaborando para que a gente possa realizar de alguma maneira [o Carnaval]”, finaliza.

OUTRO LADO

O secretário Max Freitas, da Sectur, afasta, de uma vez por todas, a possibilidade do desfile presencial em Campo Grande.

“Já há uma confirmação do prefeito [Marcos Trad] de que não será realizado nem o desfile das escolas nem o dos blocos”, reforça o titular da Sectur.”

“Freitas adianta que “as tratativas para fazer nos mesmos moldes de 2021” estão em curso, com um aporte previsto de R$ 300 mil, a ser confirmado nos próximos dias e concretizado por meio do repasse à Lienca.

“O resultado dessa história cultural das escolas poderá ser contado de forma reduzida por meio de lives, talvez duas escolas a cada dia, mostrando seu trabalho de figurino, de adereços e de enredos”, diz Max Freitas.”

“Já o governador Reinaldo Azambuja declarou na quarta-feira da semana passada (1/12) que “o Carnaval é uma decisão do ano que vem. Vamos ver como vai estar a questão sanitária lá no Carnaval”.

 

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO