Somados todos os gastos de produção, o custo para colocar a safrinha no solo chega a R$ 4.987,21 por hectare. Com o preço da saca do milho a R$ 96,46, nesta segunda-feira, cada hectare custaria ao produtor 51 sacas. Esse cenário pode tornar a segunda safra inviável nos próximos anos.

Conforme o boletim da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), na safra 2020/2021, os gastos variáveis chegaram à média de R$ 2.035 por hectare.

Em um ano, os insumos saltaram pelo menos 50%, chegando à média de R$ 3 mil por hectare na safra 2021/2022.

Se inserirmos na conta a média histórica da colheita nos últimos cinco anos, a situação para o produtor começa a se tornar complicada.

De 2017 até 2021, Mato Grosso do Sul colheu, em média, 64,39 sacas/ha. Ou seja, considerando as 51 sacas de custo, o lucro do produtor seria de 13,36 sacas por hectare colhido neste ano.

Para entender melhor o que está em jogo, o Correio do Estado fez um levantamento com os principais gastos enfrentados pelo produtor na hora da preparação e da execução da safra.

O gasto é dividido em dois grandes grupos: varáveis e fixos. Na primeira categoria, é elencada a maior parte dos custos.

Sementes, fertilizantes, materiais necessários para a preparação do solo, maquinário a ser utilizado, óleo diesel, mão de obra e outros gastos estão na conta e são indispensáveis.

Analista técnica do Sistema Famasul, Tamiris Azoia afirma que só o grupo dos variáveis corresponde a 91,51% do total, representando a maior parte na formação do custo de produção. Na segunda, os custos referem-se à depreciação de materiais, encargos e seguro de capital fixo.

Tamiris ressalta que o custo desses insumos subiu de forma considerável no último ano, principalmente porque inserem-se vários produtos importados ou com componentes importados.

“Daí a importância do valor do dólar, pois, com a valorização da moeda americana ante o real, estes insumos têm acréscimos consideráveis de valor para o produtor”, analisa.

Ainda segundo ela, durante a safra de soja atual (21/22), os corretivos tiveram acréscimo de 110%, os fertilizantes de 91% e os inseticidas aumentaram 54% em relação à safra passada.

CUSTOS

Para a próxima safra, a estimativa do produtor rural e presidente do Sindicato Rural de Dourados, Angelo Ximenes, é de que a tendência continue. “Os custos se elevaram bastante e a previsão climática não é nem um pouco boa”.

Predominantes nos meses de outono e inverno, o frio e a seca seguem como os principais percalços da produção de grãos no centro-sul do Estado.

Conforme o agrônomo Éverton Tiago Bortoloto, representante de insumos para a lavoura, os produtores estão pagando R$ 740 pela saca de sementes de milho, valor que no último ano era adquirido por R$ 520.

Aumento de 40% no custo por hectare, tendo em vista que é necessário uma saca por hectare para ser feita a semeadura. O número é o mesmo apresentado por Ximenes. Ele ainda insere nesta conta os fertilizantes a serem usados para o preparo da terra.

Bortoloto relata que o fertilizante composto por nitrogênio, fósforo e potássio foi comprado em agosto de 2021, por R$ 4.332 a tonelada.

“Levando em conta que você joga 200 quilos por hectare. Só a semente e o fertilizante dão pelo menos R$ 1.600 de custo. Isso se o produtor não quiser ou precisar de mais, como o gasto é variável, ele pode aplicar 250 quilos ou até mais”, considera.

Ao juntar todos os gastos variáveis, o número atingindo pelo representante chega a R$ 3 mil por hectare.

“Se inserirmos os gastos fixos, que são seguro, depreciação de maquinário, mão de obra, muita coisa que o produtor não põe na ponta do lápis, o custo pode chegar à faixa de R$ 5 mil”, pondera Bortoloto.

Outro ponto importante que comporia o valor aproximado apresentado pelo agrônomo são os gastos para aquisição de fungicidas, herbicidas e inseticidas, corretivo de solo e adjuvantes. Conforme o boletim da Famasul, isso representou 14,37% do custo na safra passada.

Vilson Brusamarello, ex-presidente do sindicato rural de São Gabriel do Oeste e produtor rural, também acredita em um cenário complexo para a segunda safra.

Ele explica que nesta safrinha, que está em pleno vapor, os insumos foram comprados no meio de 2021, então os valores não foram tão altos para o agricultor.

“Na próxima, veremos valores bem assustadores. Temos fertilizantes que vêm da Rússia, China e Índia que aumentaram 300% em um ano”, revela Brusamarello.

Tiago Bortoloto concorda e afirma que “se adicionarmos o aumento [dos fertilizantes] para esse ano o valor só tende a aumentar na próxima safra”.

ESTRATÉGIA

De acordo com a ministra  da Agricultura, Tereza Cristina Dias, os produtores rurais de MS precisam estar atentos às previsões meteorológicas para, se preciso, mudar de estratégia na segunda safra.

Para evitar mais prejuízos “e buscar culturas mais rústicas, como, de repente, em vez do milho plantar sorgo ou alguma outra cultura de inverno que seja mais segura”, afirmou em entrevista ao Correio do Estado.

Angelo Ximenes considera a proposta interessante, mas não é tão simples assim de ser colocada em prática. Ele diz que o mercado é mais comprador e o produtor está mais preparado para o milho.

“A produção é mais acostumada com essa cultura. A sugestão é boa, mas nem sempre é viável, pois o sistema de armazenamento deveria passar por uma adequação para poder receber sorgo e trigo”, explica.

Fonte: Correio do Estado