Este começo de ano tem se mostrado desafiador para o pecuarista de Mato Grosso do Sul, com a estiagem pegando todos de surpresa em plena estação de chuvas.

Nos primeiros quatro meses de 2022, além do aumento do custo de produção por causa desse período de exceção, na hora da venda do animal formado o produtor ainda se depara com um cenário de preços em queda no Estado, tanto no mercado físico como no mercado futuro.

Em um mês, o produtor viu o preço da arroba do boi gordo cair de R$ 305,35 no dia 30 de março para R$ 290,09 no fechamento desta segunda-feira (2), queda de 4,99%, ou R$ 15,26.

Já a vaca gorda saiu de R$ 280,73 para R$ 266,57 no mesmo período, variação negativa de 5,04% (ou R$ 14,16).

Na média das cotações do mercado físico local, a diferença entre os meses de março e abril é de R$ 13,69. Em março, a arroba do boi gordo ficou cotada ao preço médio de R$ 305,69, já em abril a média mensal foi de R$ 292.

Queda ainda maior foi sentida no preço do boi gordo no mercado futuro. O interessado em travar o animal com preço contratado no futuro viu o preço da arroba derreter cerca de R$ 20, de acordo com o indicador do Centro de Estudos em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP).

No dia 30 de março, o boi futuro era negociado a R$ 347,35, já no fechamento desta segunda-feira o valor chegou a R$ 328,90, uma queda de 5,31% em um mês. Apesar de parecer pouca a retração, pode significar até R$ 400 a menos por cabeça na hora da venda.

Desde o começo do ano essa dinâmica é enfrentada pelo produtor. No mercado físico, a arroba do boi gordo era negociada a R$ 312,90 em 5 de janeiro e chegou ao patamar de R$ 290,09 no fechamento desta segunda-feira (2), diferença de R$ 22,90, conforme levantamento da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul).

PANORAMA

Presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho explica que o cenário se desenha com muita dificuldade há cerca de dois anos.

“A pecuária de Mato Grosso do Sul sofre com o cenário de oferta de animais. As quedas recentes são comuns neste período por conta da sazonalidade da safra do boi de corte. Estamos em período de maior oferta do boi a pasto, mas essa oferta foi pressionada pela estiagem do começo do ano”.

Na mesma linha segue a CEO da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel. Segundo ela, é comum essa queda.

“É uma questão sazonal. Entre março e maio, junho, a oferta de animais tende a aumentar mesmo, e isso leva os preços para baixo. No fim do período de chuvas, a oferta é mais alta; ao fim do período de seca, a oferta cai e o preço da arroba pode subir”.

Conforme Alessandro Coelho, a demanda interna pela carne bovina está muito baixa pela situação vivida no País.

Com altas constantes nos preços dos alimentos e inflação galopante nos itens de necessidade básica, o ano deve ser de dificuldade para os pecuaristas. Segundo ele, apesar de a época pressionar pela alta oferta, a ponta da demanda também tem sido bem fria no último ano.

“Se você perguntar, as cadeias de produção de proteína animal estão sofrendo demais com o aumento de custo de produção, todas elas, desde o ovo de galinha até a carne bovina aqui em MS, e essa queda na arroba demonstra isso”.

EXPORTAÇÕES

Além do cenário interno, o dirigente ainda diz que a situação chinesa não ajuda muito quando se fala em carne para exportação.

“Há um problema de descarga no porto de Hong Kong por causa de surtos de Covid-19 na China. Uma situação que nem eles explicam direito como é. Isso também puxa a oferta para baixo, então muito pecuarista deixa de ofertar o gado para o abate e acaba segurando ele no pasto”.

“Como o momento é de redução na forragem pelo período de seca, tem uma boiada que pode ter dificuldade de colocar peso nos próximos meses”, prossegue.

O presidente do SRCG ainda diz que esse animal para exportação teve dificuldade em ser finalizado, e sem acabamento adequado é difícil ele ser aceito.

“Nos últimos dois anos, todas as commodities tiveram alto custo de produção e os preços subiram. Para quem costumava fazer a fase final em confinamento, essa conta passou a não fechar mais, e com esse preço da arroba em queda a conta continua não fechando”.

Com o preço do milho e da soja em alta, pressionado ainda pelo cenário de guerra no leste europeu, o confinamento pode ficar prejudicado.

“Houve muitos imprevistos nestes últimos anos, e com a instabilidade mundo afora o custo da proteína bovina fica incompatível com a rentabilidade do período”, finaliza.

Apesar dos problemas apontados pelo representante do segmento, Mato Grosso do Sul ainda figura entre os principais estados exportadores de carne bovina.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) indicam que, no primeiro trimestre de 2022, o Estado embarcou 54.304 toneladas de carne bovina, o que representa  US$ 277 milhões em negócios.

O volume foi 29,44% maior do que no mesmo período de 2021. No ano passado, o Estado exportou 41.915 toneladas de carne nos três primeiros meses, resultando em US$ 176 milhões. Em movimentação financeira, o incremento foi de 57,38%.

A China segue como o maior comprador dos produtos sul-mato-grossenses. Mesmo com o produtor recebendo menos pela arroba, no mercado consumidor os preços não caem.

Em um ano, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os cortes bovinos subiram 14% em Campo Grande. Somente em 2022, os cortes aumentaram 5%. (Colaborou Súzan Benites)

R$ 22,90 é a diferença entre janeiro e maio

No mercado físico, a arroba do boi gordo era negociada a R$ 312,90 em 5 de janeiro e chegou ao patamar de R$ 290,09 no fechamento desta segunda-feira (2), diferença de R$ 22,90.