A área de florestas plantadas quase quadruplicou em uma década em Mato Grosso do Sul. Segundo relatório anual da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), MS saltou de uma área plantada de floresta para uso industrial de 307.760 hectares em 2009 para 1,141 milhão de hectares em 2020. A alta é de 270,74% no período.

O presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore-MS), Junior Ramires, explica que o aumento da base florestal se dá porque este é o insumo para abastecer o polo de celulose que está se criando no Estado, por isso o crescimento.

“Face a essa expansão das fábricas, eu costumo brincar que, hoje, a preocupação é que as fábricas em MS crescem mais rápido do que as árvores, então a demanda aumentou bastante, e há escassez da oferta. Para produzir, demora sete anos, e isso acaba pressionando os preços, então, para o produtor acaba ficando mais atrativo”.

O futuro promete para o setor. Somente o Projeto Cerrado da Suzano tem expectativa de aumentar a área plantada da empresa para 600 mil hectares de eucalipto na região de Ribas do Rio Pardo.

A chilena Arauco, que anunciou investimento em uma nova planta na região de Inocência e deve investir R$ 15 bilhões para desenvolver uma planta do mesmo porte, estima ser necessário pelo menos 350 mil hectares de área plantada na região do Bolsão.

Considerando a área plantada em torno de 45 mil hectares, segundo a Secretaria de Meio Ambiente, Produção, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar (Semagro), ainda é necessário a expansão de 300 mil hectares.

Ramires ainda frisa que a área destinada aos eucaliptos deve chegar a 2 milhões de hectares.

“O crescimento garantido na próxima década é positivo, temos uma segunda linha da Eldorado em Três Lagoas, projeto da Suzano pode ser duplicado, projeto da Arauco também, estamos falando de quatro grandes projetos, sendo oito linhas de produção. E vamos precisar chegar à marca de 2 milhões de hectares rapidamente”, avalia.

INTEGRAÇÃO

O setor é uma forma de diversificação da economia de Mato Grosso do Sul. Hoje, esta commodity é o principal produto exportado pelo Estado.

De acordo com o sistema de importações e exportações da Secretaria de Comércio Exterior (Siscomex), o Estado exportou US$ 870.187.471,00 em produtos ligados à celulose entre janeiro e julho deste ano.

Nesta renovação de mercado produtor de MS, a indústria se posiciona como um aliado na captação de carbono na natureza.

Com os planos do governo estadual, pactuados na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021 (COP26), de atingir a meta de Estado carbono neutro até 2030, as florestas e a integração de culturas é o caminho mais indicado, segundo pesquisadores da área.

Gerente de Negócios Florestais da Suzano, Miguel Caldini comenta que a indústria de celulose é superavitária na troca de carbono entre meio ambiente e produção.

“Nossos inventários de carbono, a gente já observou que nós somos carbono negativo. Então, a nossa atividade hoje é uma indústria que gera carbono e consome muito carbono também. O que ela captura no mercado do meio ambiente a área de floresta está conseguindo captar”, comenta.

Como já noticiado pelo Correio do Estado na edição de 29 de agosto, MS tem, atualmente, 6.884.824 hectares agricultáveis. O Estado está em primeiro lugar no ranking de área destinada aos sistemas integrados de produção, são 3.169.987 hectares no levantamento referente à safra 2020/2021.

O resultado, de acordo com o secretário titular da Semagro, Jaime Verruck, é decorrente da política estratégica de desenvolvimento sustentável implementada pelo governo para tornar Mato Grosso do Sul um estado carbono neutro até 2030.

“O investimento em pesquisa e inovação tem permitido a intensificação da pecuária, com a adoção de boas práticas de produção e novas tecnologias”.

DIFICULDADE

O presidente da Reflore-MS ainda diz que a principal limitação para o crescimento ainda mais exponencial é a questão de insumos. Segundo ele, as mudas são importadas de outros países.

“Demanda certo tempo para equalizar isso, vamos esbarrar em alguns obstáculos, equipamentos que não têm uma velocidade tão rápida, então, leva alguns anos para atingir a ter volume de floresta compatível com o polo que se está construindo”, considera.

“O que precisamos agora é trabalhar as demais atividades de base florestal, dar importância também à madeira sólida, à produção de carvão vegetal, estimular a indústria de MDF e imóveis, indústria da energia, de fonte térmica, siderurgia, que são grande geradores de empregos. Então precisa de diversificação industrial e que a árvore seja seccionada em partes menores, dando mais oportunidades para o silvicultor”, conclui Ramires.

Conforme dados da Ibá, dez países são considerados principais produtores mundiais de celulose, sendo juntos responsáveis, em 2020, por cerca de 83% da produção mundial.

Entre os principais produtores do mundo, os Estados Unidos produzem 50,9 milhões de toneladas, figurando no topo do ranking. O Brasil se manteve como segundo maior produtor mundial, atingindo 21 milhões de toneladas. Na sequência estão Canadá (15,4 milhões de toneladas), China (14,9 milhões de toneladas) e Suécia (12,0 milhões de toneladas).

O País é o segundo em produção, mas desponta como o maior exportador do mundo. Dados da Ibá apontam que o Brasil exportou 15,6 milhões de toneladas em 2020, enquanto o Canadá comercializou 9 milhões de toneladas, e os Estados Unidos, 7,8 milhões de toneladas.

Segundo o relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia, “o Brasil é reconhecido pela qualidade e origem sustentável e certificada da sua celulose, e este fato contribuiu para manter a indústria nacional como uma grande referência no mundo”.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO