Em 24 horas, Campo Grande registrou acumulado de 32,4 milímetros de chuva, das 9h de sábado até as 9h deste domingo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Com ventos que chegaram a 73 quilômetros por hora no sábado, árvores caíram, casas foram destelhadas e ruas ficaram alagadas.

Já segundo o meteorologista Natálio Abrahão, da Estação Meteorológica da Uniderp, só ontem, até o fim da tarde, alguns bairros da Capital acumularam 37 mm de chuva, como o Jardim Panorama.

A chuva, porém, veio acompanhada de uma frente fria intensa, que pode derrubar a temperatura da Capital a 5ºC durante esta semana.

A força da enxurrada foi tanta que chegou a levar uma parte do asfalto da Rua 7 de Setembro, no trecho das obras de revitalização da região central – Reviva Centro.

Além disso, telhas de zinco do teto do barracão das Centrais de Abastecimento de Mato Grosso do Sul (Ceasa-MS) foram arrancadas durante a chuva do fim de semana. Por volta das 20h de sábado, os ventos alcançaram 73 km/h.

Nesses primeiros 15 dias, o mês já acumula 74,2 mm de chuva em Campo Grande, segundo Abrahão. O esperado para o mês era de 90 mm.

A chuva também veio acompanhada de raios. Uma criança de 10 anos foi atingida por um deles, na comunidade Mandela, localizada na região norte da Capital.

Segundo a mãe da criança, ele estava no barraco, sentado em uma cadeira, quando foi atingido pelo raio.

“Na hora que o raio caiu e fez um barulho muito forte, eu lembrei do meu filho. Quando eu peguei ele nos braços, as pernas estavam moles e ele dizia: ‘Eu vou morrer, eu vou morrer, meu coração vai explodir’. Depois fui com ele para o hospital e ele ficou em observação”, contou a mulher, que preferiu não se identificar.

Por causa da queda de raios e de árvores, vários bairros ficaram sem energia em Campo Grande desde a noite de sábado.

Até o fim da tarde de ontem, 37 bairros ainda apresentavam queixas de interrupção no fornecimento de energia, porém, a Energisa garante que não havia falta de luz na totalidade dessas regiões.

“A concessionária trabalha com quatro vezes mais equipes em campo e 75% dos clientes já tiveram a energia normalizada. Não há bairros sem energia na totalidade. A Energisa esclarece que o atendimento aos clientes segue por ordem de prioridade em situações que coloquem a segurança da comunidade em risco, bem como hospitais e unidades de saúde, com apoio na logística para abastecimento dos geradores”, diz a empresa em nota à imprensa.

A chuva traz ainda mais problemas na comunidade. “Estamos sobrevivendo com pedaços de lona para tampar a chuva. Ontem [sábado], pedimos abrigo no barraco da vizinha. Os políticos só passam a bola para a frente e ninguém faz nada”, reclamou Deuzélia dos Anjos.

A moradora conta que próximo da casa dela há uma árvore que corre o risco de cair.

“Essa árvore vai desabar, está desterrada, bem à vista. A qualquer momento ela deita e derruba todos os nossos barracos aqui”, afirmou.

FRIO

De acordo com o Inmet, a partir de hoje não há mais previsão de chuva, porém, a frente frio vinda do Polo Sul chega a Mato Grosso do Sul e, em Campo Grande, pode ocasionar até geada esta semana. O frio permanece até o fim de semana.

Conforme o instituto, hoje o céu continua com nuvens, mas sem previsão de chuva, e a mínima será de 15°C. Na quinta-feira, os termômetros devem marcar 5°C, mas a sensação térmica pode ser ainda mais baixa.

Para quem vive com pouco, esses períodos são os mais complicados de se enfrentar.

Com 34 anos, Sandra Micaela mora na comunidade Mandela com seus seis filhos há cinco anos. Com poucos recursos, quando esfria o jeito é dormir todo mundo junto.

“A gente se junta todo mundo, com duas, três ou quatro cobertas, porque venta bastante e não tem nenhum barraco próximo. Buscamos lona com o vizinho e juntamos as camas”, contou a diarista.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO