O custo de transportes e fertilizantes já vem impactando as últimas safras de soja, mas, neste ano, o produtor conta com mais um empecilho: a alta dos juros.

Em junho de 2021, a taxa básica de juros, a Selic, estava em 4,25% ao ano, já neste início de mês, a taxa está em 12,75% e pode subir ainda mais na próxima semana.

A Selic é a base das outras taxas na economia brasileira. A partir dela é que as instituições definem as cobranças de juros para empréstimos, por exemplo.

O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, explica que o governo federal terá de ampliar o subsídio para o produtor.

“Não houve ainda a liberação do crédito da política agrícola nacional, dos valores [do Plano Safra]. Porque vai ser uma safra que o governo federal vai ter de subsidiar mais ainda”.

“Como ele subiu a Selic, você tem um tamanho [maior] de recurso que ele tem de alocar. Então pressiona o caixa do governo federal para política agrícola e está pressionado o caixa do produtor também. Então essa é uma preocupação grande para essa safra”, pontua Verruck.

IMPACTO

Cálculo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) aponta alta de 31,60% no custo por hectare para implantação da safra de soja.

“A safra ficou mais cara do que a que nós fizemos no ano passado, isso implica que ele [produtor] vai ter de investir em tecnologia, boa produtividade para que ele tenha uma remuneração adequada”, analisa Verruck. No ciclo 2021/2022, o custo por hectare ficou em R$ 4.826,26 no Estado. Já para a próxima safra, 2022/2023, a associação calcula que será necessário desembolsar R$ 6.351,37.

Com a saca de 60 kg cotada a R$ 170,18 ontem, o custo por hectare revertido em soja chega ao número de 37,32 sacas por hectare. No mesmo período do ano passado, a saca era comercializada a R$ 159, ou seja, o custo chegou a 30,35 sacas por hectare considerando o custo de R$ 4.826,26.

Para se ter uma proporção do estreitamento da margem do agricultor, ou do risco de prejuízos, pode-se destacar a produtividade média da safra 2021/2022 em MS, que chegou a 38,65 sacas por hectare, média baixa por conta de uma estiagem severa.

E mesmo em um ano de safra recorde, como foi 2020/2021, o investimento para o próximo ciclo representaria mais da metade da média colhida, que foi de 62,64 sacas por hectare.

“O que o produtor deve fazer é sempre antecipar suas compras e fazer contas em cima da sua moeda de troca, que é o próprio produto. Antes de plantar a próxima safra de soja, ele tem de travar os custos em soja, trocar toneladas de fertilizantes por sacas de grãos, porque dessa forma ele sabe até onde pode investir”, indicou o presidente da Aprosoja-MS, André Dobashi.

Dobashi indica ainda que os produtores façam as contas para saber até onde ir e o quanto investir.

“Se o custo de produção, ultrapassa o mínimo que o agricultor produz, ele não pode avançar na comercialização, porque o custo estará fora do patamar de preços que ele está acostumado a lidar”.

OUTROS CUSTOS

Além dos custos dos juros, para chegar à conta final considera-se o alto valor dos combustíveis, do frete e dos fertilizantes. Conforme publicado na edição de 30 de maio do Correio do Estado, os fertilizantes triplicaram no intervalo de um ano.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que o cloreto de potássio foi negociado, em abril, a R$ 5.900 por tonelada em Mato Grosso do Sul, alta de 211,34% em relação ao mesmo mês de 2021, quando era negociado a R$ 1.895 a tonelada.

Já a cotação média do MAP (fosfato monoamônico) foi de R$ 4.800 por tonelada, avanço de 79,46% em relação ao mês de abril do ano passado – quando custava R$ 2.675/tonelada.

A uréia subiu 179,54% no período de um ano, saindo de R$ 2.200 a tonelada para R$ 6.150 em abril deste ano.

“Temos de lembrar o seguinte: óleo diesel, nós estamos com preço histórico dos mais elevados, fertilizante, em função da falta, tivemos aumento. Então essa próxima safra de soja vai ter uma pressão de custos. O produtor ainda vai ter margem, mas é uma safra já que ele vai fazer com custos elevados, por isso que também ele precisa de alteração no nível de crédito”, finaliza Verruck.

De acordo com a Aprosoja-MS, fertilizantes e herbicidas passaram de 140% de valorização e foram os itens que mais contribuíram para os avanços dos custos. Tratamento de sementes, correção de solo e as operações com máquinas e implementos subiram acima da casa dos 50%.

“Estamos experimentando preços que encareceram mais que 100% nas últimas safras. E a soja, por mais que tenha tido uma valorização, não teve esse reajuste, como está ocorrendo com os insumos”.

“Então, seja pela pandemia, seja pela guerra, os insumos tiveram um reajuste muito maior do que o produto que a gente comercializa: a soja e o milho. E isso faz com que a gente tenha de trocar os insumos, pela nossa moeda, que são essas commodities”, pontua Dobashi.

Ainda não há projeção oficial para a produtividade da próxima safra de soja no Estado.

Na safra 2021/2022, os produtores enfrentaram problemas climáticos que fizeram o resultado ser o menor dos últimos cinco ciclos. Foram retiradas do solo 8,6 milhões de toneladas da oleaginosa ante projeção de 12,7 milhões de toneladas.

211% de aumento no cloreto de potássio

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que o cloreto de potássio foi negociado, em abril, a R$ 5.900 por tonelada em Mato Grosso do Sul, alta de 211,34% em relação ao mesmo mês de 2021, quando era negociado a R$ 1.895 a tonelada.

Já a cotação média do MAP (fosfato monoamônico) foi de R$ 4.800 por tonelada, avanço de  79,46% em relação ao mês de abril do ano passado – quando custava R$ 2.675/tonelada.

 

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO