No início da tarde de ontem, um adolescente de 15 anos, estudante da Rede Estadual de Ensino (REE), esfaqueou a mãe de um aluno dentro da Escola Municipal Bernardo Franco Baís, localizada na Avenida Calógeras, em Campo Grande.
O jovem foi barrado logo depois do ocorrido, quando tentava entrar no pátio do colégio para chegar até outros alunos, que seriam os verdadeiros alvos. Este foi o primeiro ataque em uma instituição de ensino registrado em Mato Grosso do Sul.
A ação ocorreu na secretaria da escola e, conforme o relato do instrutor de badminton Willian Silva, que presenciou o fato, a vítima havia ido levar o filho de 10 anos para a aula e depois estava conversando com ele, quando o adolescente a esfaqueou nas costas.
O guarda patrimonial Jocsa Conceição Silva disse que viu o momento do ataque e que, após o ocorrido, o garoto tentou passar pelo portão que dava acesso ao pátio da escola, onde ficam as salas e onde os outros alunos estavam. Nesse momento, o guarda e um professor conseguiram imobilizar o estudante.
De acordo com o guarda, o jovem não resistiu à contenção nem falou nada a respeito da ação. “Ele estava com a faca, mas ele estava em choque, ele não falava nada”, disse.
O autor do ataque já foi aluno da Escola Municipal Bernardo Franco Baís e concluiu o Ensino Fundamental no ano passado na instituição. Neste ano, o adolescente foi para a uma escola estadual, onde cursa o 1° ano do Ensino Médio.
“Segundo ele [o autor], ele iria se direcionar para alguns alunos, onde ele vai citar lá [no depoimento] quais seriam e os problemas que tinham para ter esse ódio, para vir a atacar esses alunos”, disse o titular da Secretaria Municipal de Segurança e Defesa Social (Sesdes), Anderson Gonzaga, a respeito da motivação do ataque.
O secretário municipal de Educação, Lucas Bitencourt, também esteve na unidade onde o crime ocorreu e comentou que não há registros de incidentes com o jovem, como bullying ou alguma situação de ata de suspensão que possam ter motivado o fato.
“Aparentemente, era um aluno que tinha uma tranquilidade na vida escolar, então, realmente, agora a gente vai fazer todo levantamento possível para identificar, com o núcleo de inteligência nosso, para saber o real motivo”, comentou o secretário.
Com o adolescente, foram encontradas quatro facas e uma marreta. O guarda patrimonial disse ainda que, no momento da ação, o jovem estava com duas facas e os outros itens foram encontrados na mochila dele.
Após o ocorrido, o estudante foi levado à Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij), local onde ele e outras testemunhas do fato prestaram depoimento.
A Polícia Civil está investigando o caso e emitiu uma nota informando que assim que os trabalhos de polícia judiciária forem concluídos o adolescente será encaminhado para uma Unidade Educacional de Internação (Unei), onde permanecerá à disposição da Justiça.
“O local foi submetido a exame pericial e os instrumentos foram apreendidos. As circunstâncias do fato e suas motivações estão sendo esclarecidas”, diz trecho da nota da Polícia Civil sobre o caso.
RONDAS
Em relação à ação da Guarda Civil Municipal (GCM), o secretário Anderson Gonzaga, responsável pela corporação, relatou que, logo após serem acionados, os agentes chegaram ao local em 4 minutos.
A GCM trabalha com um sistema de localização por GPS que, ao ser acionada, direciona a viatura que está mais próxima do ocorrido.
Em abril, em decorrência de uma série de ameaças de ataques a escolas em todo o País, as forças de segurança do Estado e da Capital se uniram para reforçar a fiscalização e o bem-estar dos alunos, principalmente no dia 20 de abril, data em que estavam programados ataques às instituições de ensino.
Na ocasião, nada foi relatado. Após alguns dias, as rondas e os acompanhamentos de alunos, pais e professores nos horários de entrada e saída das escolas municipais voltaram à normalidade.
Segundo guardas municipais que estavam na escola, mas não se identificaram, tudo estava normal e as únicas ocorrências eram brigas em colégios, mas eles nunca haviam recebido um chamado de ataque real.
O secretário de Educação relatou também que há um núcleo específico que acompanhará os professores, os servidores, os alunos e verificará como está a parte emocional da escola que passou pelo ataque.
Além disso, Bitencourt falou também sobre a importância do acompanhamento dos pais não apenas escolar, mas social dos filhos.
“Onde o meu filho está realmente? Será que ele está na escola? Verificar as mochilas, entender quem é esse aluno, saber quais são os amigos dele, o que está acontecendo na vida social desse aluno, na rede social dele também. Realmente, nós precisamos dessa parceria com as famílias nesse momento”, relatou.
Lucas Bitencourt disse que as aulas na Rede Municipal de Ensino (Reme) continuarão sem interrupções e que medidas como portões fechados e futuramente um botão do pânico e um aplicativo serão implantadas para garantir a segurança nas unidades escolares.
A assessoria da Prefeitura de Campo Grande emitiu uma nota alegando que o “fato aconteceu fora da escola, que é protegida por medidas de segurança que evitam o acesso de pessoas estranhas ao ambiente escolar”.
No entanto, os relatos de pessoas que estavam no local do atentado apontam o contrário.
A nota diz ainda que a prefeita Adriane Lopes (Patriota) suspendeu a sua agenda no período da tarde para coordenar as providências que o caso requer, mas a chefe do Executivo municipal não esteve na escola onde o fato ocorreu.
VIOLÊNCIA
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) apontam que, de janeiro a 17 de maio de 2023, 60 casos de lesão corporal dolosa – quando há intenção de ferir – foram notificados nas escolas de Mato Grosso do Sul.
Esse montante já é maior do que o notificado no mesmo período do ano passado, quando foram registrados 47 casos de lesão corporal dolosa.
Ao todo, em 2022, foram registrados 151 casos de violência nas escolas, e em 2021 foram 22 em todo o Estado. (Colaborou Patrick Rosel)
FONTE: CORREIO DO ESTADO