Em Mato Grosso do Sul, representantes do setor produtivo e especialistas da área econômica reagiram positivamente a possibilidade da antecipação do corte da taxa básica de juros, a Selic, apontando que a especulação já deve gerar um impacto no mercado financeiro e vislumbrando um segundo semestre promissor.
De acordo com o boletim Focus, análise de mercado divulgada pelo Banco Central (BC), a projeção para a Selic e para a inflação seguem em projeção de queda, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) segue em trajetória de crescimento. Para o mercado financeiro, os dados mais otimistas devem levar à primeira redução dos juros em agosto, que antes era prevista para setembro.
Já sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começou ontem e termina hoje, a expectativa é de manutenção da taxa básica a 13,75%. Na próxima reunião, marcada para os dias 1º e 2 de agosto, o indicativo, porém, é de corte de pelo menos 0,25 ponto porcentual. Assim, a projeção é chegar ao fim deste ano a 12,25%, conforme indica o boletim Focus.
Diante dessa perspectiva, a economista Regiane Dedé de Oliveira, do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), representando a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso do Sul (Fecomércio-MS), destaca que as altas taxas de juros interferem no andamento de toda cadeia econômica, que, por sua vez, interfere no crescimento do País.
“Estamos encerrando o primeiro semestre do ano, e essa possibilidade já indica a entrada em um segundo semestre melhor. São alguns detalhes que acabam impactando de forma positiva”, diz.
A economista ainda evidencia outras mudanças que interferem positivamente na economia do Estado e do País, como é o caso do incentivo do governo federal ao setor automobilístico, por exemplo, e da redução da inflação de alguns produtos e serviços.
“Essa movimentação [do corte de juros] trará melhorias significativas para o segundo semestre, tendo em vista que, para o comércio, contribui para o aumento do poder de compra do consumidor”, analisa.
A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) posicionou-se por meio de uma nota, avaliando de forma positiva o adiantamento de uma possível redução de juros.
“Caso se confirme, será positiva à economia, desde que seja realizada dentro das regras de mercado e com responsabilidade, para evitar possíveis impactos da inflação no futuro”, ressalta.
A associação ainda enfatiza que a taxa atual de juros está em um patamar que não auxilia o setor empresarial, pois encarece o crédito e diminui o consumo e a rentabilidade dos negócios.
“Os financiamentos e recursos bancários permanecem caros, e as chances de se fazer novos investimentos para melhorias nas empresas e nos crescimento dos negócios também ficam reduzidas diante do atual cenário”, reforça em nota enviada ao Correio do Estado.
Uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que 73% dos empreendedores não buscaram crédito entre maio e abril. Por isso, o presidente da entidade, Décio Lima, reforça a necessidade de diminuição do juros básico, evidenciando que os pequenos empresários são os mais prejudicados.
“O Brasil precisa voltar a crescer, e o Banco Central precisa ser mais sensível com os micro e pequenos empresários brasileiros. Com esses juros ninguém cresce, talvez nem o sistema financeiro, apenas alguns tubarões que estão ganhando muito. Além disso, tomar crédito nesse ambiente é submetê-los à falência”, argumenta.
AVALIAÇÃO
Reforçando o panorama de boas expectativas perante a probabilidade, o doutor em Economia Michel Constantino explica que o Copom já começa a visualizar com bons olhos os números.
“Podemos confirmar uma alta possibilidade de iniciar a redução das taxas de juros de mercado balizados pela taxa Selic [que é controlada pelo Copom]”, afirma.
Para o profissional do setor econômico, o que os analistas estão considerando nesse momento são os indicadores de juros de longo prazo (2024-2025) e como está a ancoragem das expectativas de consumo.
“Com esses dois comportamentos em queda ou se mantendo em um patamar mais baixo, a lógica é que já deveremos ter sinais de redução ou até da redução real da Selic na próxima reunião”, frisa.
Constantino ainda ressalta que o dólar vem passando por mudanças de investidores na conjuntura mundial com a entrada da moeda na economia local, incentivada pelos juros altos, pelo agronegócio em alta, pela maior previsibilidade do mercado, pelos preços das empresas na bolsa em baixa e pela entrada de recursos a partir dos contratos já firmados de concessão e privatização.
Para o economista Eduardo Matos, a antecipação no corte pode derivar da pressão tanto do núcleo político quanto do empresarial, que existe desde que o novo governo assumiu, visto que uma das promessas de campanha seria reativar a economia, dando margem para debate.
“Agora quanto ao mercado financeiro, os rendimentos, principalmente de renda fixa, poderão sentir com a queda na taxa de juros. Com a possível antecipação no corte dos juros, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia afirmado que haveriam esforços para que houvesse essa redução na Selic no segundo semestre do ano”, explica.
Matos ainda destaca que a classe empresarial está apreensiva, aguardando uma queda na taxa de juros que viabilize os investimentos. “Dessa forma, do ponto de vista da economia real, essa queda na taxa de juros poderá fazer com que novos investimentos em ampliações, modernizações e até implantações de novos empreendimentos ocorram”, acredita.
PROJEÇÕES
O boletim Focus aponta ainda que, para 2024, a expectativa é que a Selic esteja em 9,50%, porcentual que até a semana anterior contava com projeção de 10%. Para 2025 e 2026, a aposta segue em 9,0% e 8,75%, respectivamente.
Outro fator importante a ser destacado é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, que contou com revisão, passando de 5,42% para 5,12% neste ano. Em 2024, a estimativa caiu 0,04 ponto porcentual para 4%. Para os próximos dois anos, a projeção é de uma inflação de 3,80%, que antes era de 3,90% (2025) e 3,88% (2026).
O centro da meta para a inflação neste ano é de 3,25%. Nos dois anos seguintes, o alvo é de 3,00%, contando com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou menos.
Em relação à Selic, a projeção para este ano é de 12,25%. Já para 2024 e 2025 os juros permanecem estáveis em 13,03% e 11,13%, respectivamente. No entanto, para 2026, subiu de 10,50% para 10,52%.
Para o crescimento do PIB deste ano, a projeção subiu novamente, de 1,84% para 2,14%, sexta semana seguida de alta. A estimativa para 2024 caiu de 1,27% para 1,20%, enquanto a análise para 2025 foi mantida em 1,80%. Para 2026, subiu de 1,95% para 1,99%.
A estimativa para o dólar neste ano também caiu na semana, de R$ 5,10 para R$ 5,00.
A projeção para 2024 saiu de R$ 5,17 para R$ 5,10, e a para 2025 recuou de R$ 5,20 para R$ 5,18. A projeção para 2026 caiu de R$ 5,26 para R$ 5,25.
FONTE: CORREIO DO ESTADO