Emília Pérez e Oscar tomaram conta da internet essa semana. Após ganhar 13 indicações, a produção francesa ganhou os holofotes após Karla Sofía Gascón, protagonista do longa, acusar a equipe de Fernanda Torres, de Ainda Estou Aqui, de criar campanhas de ódio e desinformação contra ela e o filme. A artista retificou os comentários, mas um dia depois uma nova polêmica surgiu: antigos tweets dela foram desenterrados e uma avalanche de falas preconceituosas sobre George Floyd, COVID, mouros e até o próprio Oscar ganharam o noticiário.

Os tradicionais pedidos de desculpas vieram em duas fases, separadas pela exclusão do perfil no X e comunicados dados à Variety e ao THR. No entanto, o estrago parece irreversível para a temporada de premiações. A mídia estadunidense, que antes não embarcava na rivalidade entre Emília e Ainda Estou Aqui construída pela internet brasileira, não poupou críticas à postura de Karla e deu vazão aos problemas de representação mexicana no filme. Com isso, nada mais natural do que as chances de Oscar diminuírem sensivelmente.

Mas como isso vai impactar a campanha do Ainda Estou Aqui? De várias maneiras, nem todas positivas. Como a discussão está em volta da protagonista, que também foi acusada de quebrar regras do Oscar ao falar mal do time de Fernanda Torres, é complicado imaginar que os votantes colocariam mais lenha nessa fogueira dando o prêmio para a brasileira – o que, consequentemente, favorece a principal candidata desde o início, Demi Moore. A estrela de A Substância é a favorita desde o sucesso do filme em Cannes 2025, mas viu a vitória de Torres no Globo de Ouro e as indicações do filme de Walter Salles aumentarem as chances de uma estrangeira levar a estatueta. A crise, porém, fez Moore, que segue em silêncio no meio de todo o furdúncio, disparar na dianteira do favoritismo – o site de “apostas” Gold Derby a coloca com 80% de chances de levar a estatueta dourada.

Por outro lado, um prêmio que parecia garantido para Emília Pérez se torna mais palpável para Ainda Estou Aqui. A categoria de Melhor Filme Estrangeiro foi dominada pelo filme em outras cerimônias, e com as 13 indicações no Oscar era complicado ver chances para os concorrentes neste prêmio – de novo, a crise muda tudo. Por mais que a Academia não seja tão influenciada pela internet, vide a distância e dificuldade que a cerimônia tem para conversar com o ambiente digital, o teor dos tweets de Gascón extrapolam a bolha a partir do momento que cita temas fortes como racismo, xenofobia e religião. Diante deste cenário, a produção estrelada por Fernanda Torres pode ter um caminho muito mais favorável para sair com a vitória na premiação.

Hoje, é seguro dizer que quaisquer chances que Emília Pérez tinha nas disputas principais foram reduzidas drasticamente, o que abre novas possibilidades em algumas categorias e revela outra vez como as redes sociais, por mais nichadas que sejam, influenciam até em quem não liga tanto para elas.

Fonte: Omelete