As câmeras de monitoramento da BR-163 foram fundamentais para que a polícia de Mato Grosso do Sul começasse a desmantelar, na semana passada, uma quadrilha que causava prejuízos milionários a produtores rurais furtando equipamentos de alta tecnologia em tratores e colheitadeiras vários estados brasileiros e até no Paraguai.
Três homens foram presos no dia 9 de fevereiro, no distrito de Anhanduí, quando transitavam pela BR-163 em viagem de retorno ao Paraná. Nos três dias anteriores, invadiram três fazendas em São Gabriel do Oeste e duas em Itiquira (MT), causando prejuízo estimado em R$ 1,65 milhão.
E trio era especializado em furtar aparelhos de GPS, antenas e monitores que são instalados em máquinas agrícolas utilizados na agricultura de alta precisão. Ao serem presos, admitiram que esta era pelo menos a segunda viagem que faziam a viagem ao Estado para fazer o mesmo tipo de roubo.
A primeira vez teria sido no final do ano passado, mas a suspeita é de que tenham participado de vários outros furtos semelhantes tanto em Mato Grosso quanto no Paraná.
Ao serem presos, nenhum dos equipamentos furtados estava na caminhonete usada nas invasões das fazendas. Eles confessaram, porém, que esconderam o material em matagais próximo às áreas invadidas e por isso a polícia conseguiu recuperar os aparelhos e devolver aos proprietários.
Como os furtos aconteceram todos durante a noite e em máquinas que estavam no meio das lavouras, sem videomonitoramento, os investigadores começaram a analisar as imagens capturadas pelas câmeras da CCR MSVia nos locais próximos às fazendas invadidas.
Nestas análises descobriram uma caminhonete com placas do Paraguai que circulou pela BR-163 nas imediações das fazendas tanto nos dias dos furtos do fim de 2023 quanto no começo de fevereiro deste ano.
Perceberam, também, que esta mesma S-10 saiu de São Gabriel do Oeste no dia 7 de fevereiro e percorreu cerca de 300 quilômetros pela BR-163 rumo a Mato Grosso, onde duas fazendas foram atacadas em Itiquira um dia depois dos roubos em São Gabriel do Oeste.
E, com estas informações, as equipes da Polícia Rodoviária Federal e da Deleagro pediram auxílio da CCR para que este veículo fosse identificado caso voltasse a transitar pela rodovia. E, no dia 9 ele foi flagrado cruzando o pedágio entre Campo Grande e Anhanduí, a cerca de 700 quilômetros do local onde ocorreram os últimos furtos.
Imediatamente a PRF foi acionada e conseguiu interceptar o trio alguns quilômetros adiante. Ao serem abordados, os agentes revelaram que tinham imagens do veículo próximo aos locais dos roubos no ano passado e agora.
E, além das imagens das câmeras, os policiais da Deleagro, que comandaram a investigação, também se atentaram para as marcas de pneu deixadas nos locais dos furtos, que coincidiam com o desenho dos pneus da S-10 que acabara de ser interceptada. Com base nisso, o trio acabou confessando os crimes.
Na caminhonete estavam Leonardo Carvalho Ortêncio, Romário Ortêncio de Souza e Kelwin Adriano Back Ludwig, de 30, 25 e 24 anos, respectivamente. Residentes em Itaipulândia, no Paraná, nenhum tinha passagens policiais por furto ou roubo.
Após passarem por audiência de custódia, tiveram a prisão em flagrante transformada em prisão preventiva e por isso seguem na cadeia.
No depoimento, Leonardo, apontado como o chefe dos outros dois, revelou que recebia informações por telefone de um homem que ele identificou como Piá da Globo, que seria de Primavera do Leste (MT), sobre os locais em que os furtos deveriam ocorrer, deixando claro que existe uma quadrilha muito bem estruturada para esse tipo de ataque.
Ele disse que esse Piá da Globo trocava constantemente de número de celular e que ele seria o responsável pelo recolhimento dos aparelhos que haviam sido deixados no meio dos matagais. Mas, alegou que não o conhece pessoalmente e que boa parte das informações que recebia eram de terceiros que estavam a mando desse Piá da Globo.
Kelwin Adriano, por sua vez, informou que parte das pessoas que entravam em contato para dar as orientações falavam espanhol, evidenciando que a quadrilha tem ramificação também no Paraguai e que possivelmente seria esse o destino final dos aparelhos de GPS que eram furtados em fazendas brasileiras.
Agora, os investigadores estão em busca dos outros envolvidos e daqueles que compram esses equipamentos. Combinando o GPS com sistemas de informações geográficas (SIG), é possível adubar o solo conforme a necessidade, o que reduz os custos e aumenta a produtividade..
Primeiramente eles são usados na colheitadeira, quando mostram exatamente em quais locais da lavoura a produtividade é maior ou menor. Depois, na safra seguinte, as semeadeiras dispersam fertilizante na dosagem adequada com basa na produtividade anterior, trazendo uniformidade na produção de soja, milho e algodão, principalmente.
SUBUTILIZAÇÃO
Os 850 quilômetros da BR-163 em Mato Grosso do Sul estão monitorados com cerca de 470 câmeras de videomonitoramento. Todas elas, segundo a CCR, podem ser giradas e são equipadas com sistema de zoom, permitindo que se vigie pelo menos 97% da rodovia.
Mesmo assim, são raros os casos tornados públicos em que esta tecnologia é utilizada para o combate à criminalidade. A reportagem do Correio do Estado procurou a assessoria da Polícia Rodoviária Federal em busca de informações sobre a quantidade de vezes em que estas câmeras foram usadas pela instituição para elucidação ou interrupção de crimes.
A assessoria até foi em busca de algum número ou estatística, mas posteriormente informou que “não é possível realizar essa estimativa”, sem deixar claro se estas imagens são realmente subutilizadas ou se é porque estes dados não são computados.
FONTE: CORREIO DO ESTADO