A maior rede de supermercados do mundo, a Walmart, chegou a ter quatro grandes lojas em Campo Grande, porém, após quase 10 anos de funcionamento, fechou as portas em 2019.

Embora com outros nomes, o grupo continua em pelo menos outros 18 estados, mas da Capital a rede desistiu, não suportando a concorrência dos supermercados locais.

Na avaliação do presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados (Amas), Denyson Prado,
o consumidor campo-grandense não se adaptou ao sistema de funcionamento dos norte-americanos.

“As pessoas daqui gostam de promoções, e essa rede não trabalhava com ofertas. O Makro, na saída para Cuiabá, também não se criou por aqui, e acho que a explicação é parecida”, diz Denyson.

Ele ressalta, inclusive, que o endereço onde estava o Makro deu lugar a uma loja do grupo Comper. De acordo com ele, as vendas estão satisfatórias, indicando que o local é apropriado para esse tipo de empreendimento.

A “expulsão” dessas multinacionais pode ter um outro ingrediente, como revela Denyson. Para ele, o consumidor daqui dá preferência mesmo para supermercados locais.

Prova disso, segundo ele, é o crescimento de redes como Pires (22 lojas) Mister Júnior (4), Duarte (5), Soares (6), Pag Poko (7), Nunes (9), Gaúcho (2), entre outras.

A rede Comper/Fort Atacadista (21 unidades), embora tenha lojas em outros estados, também é vista como um supermercado local, na avaliação de Denyson.

“O proprietário mora em Campo Grande, tem um centro de distribuição aqui e todo o crescimento foi em decorrência das vendas locais”, explica o presidente da Amas, acrescentando que, mesmo tendo o mesmo nome, as administrações de outros estados são totalmente separadas.

Fenômeno parecido ocorre com o Atacadão, que está em Campo Grande há quatro décadas e que hoje pertence à multinacional Carrefour.

No começo, porém, era um atacarejo (junção entre atacado e varejo) brasileiro. Pioneiro nesse segmento específico, o Atacadão foi imitado por todas as grandes redes.

Contudo, é facilmente perceptível que as grandes filas e o grande movimento nessas lojas sumiram. A explicação disso, segundo o presidente da Amas, é que esses grupos, para não ficarem para trás, tiveram de se curvar e começaram a aceitar cartão de crédito e vale-alimentação.

Com esse “pacote de maldades”, termo usado por Denyson Prado, as despesas deles aumentaram de 3% a 4%.

Com isso, de acordo com ele, tiveram de aumentar os preços, perdendo competitividade com os supermercados locais. Isso ajuda a entender, portanto, por que tantos supermercados menores cresceram nos últimos anos na Capital.

Mão de obra

Independentemente se o supermercado é local, multinacional, pequeno ou grande, o que todos têm em comum é a dificuldade em conseguir gente para trabalhar.

“Parece que os jovens de hoje só querem trabalhar home office ou no computador. Está cada vez mais difícil encontrar gente disposta a trabalhar como caixa, repositor, açougueiro, padeiro ou em outras funções de um supermercado”, lamenta Prado.

Questionado se uma saída não seria melhorar os salários, ele garante que praticamente todos os empresários pagam acima do mínimo comercial, que é de R$ 1.462, além de outros benefícios. Em cidades como Chapadão do Sul e São Gabriel do Oeste, esse mínimo é quase R$ 200 maior.

Um dos principais gargalos, segundo o presidente da Amas, é para a função de açougueiro, uma das mais bem pagas nos supermercados.

“Tem vezes que pessoas são submetidas a treinamento na frente dos clientes, pois não dá tempo para preparar os profissionais”, expõe.

Entretanto, além dos salários pouco satisfatórios, a dificuldade em conseguir trabalhadores pode ter uma explicação macro. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a taxa de desocupação em Campo Grande, neste segundo semestre, foi estimada em 3,0%.

Com esse resultado, a Capital tem a menor taxa de desocupação entre as capitais do País, seguida por Porto Velho (RO), com 3,1%, e Cuiabá (MT), com 3,6%.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO