A forte queda da inflação fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela primeira vez em três anos. Por 5 votos a 4, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado financeiro, que esperava um corte de 0,25 ponto.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
Um dos setores que mais se beneficia com a redução da taxa Selic é o setor produtivo, como explica o economista Eduardo Matos.
“O corte na taxa de juros é algo muito esperado, principalmente pelo setor produtivo, isso porque a atividade econômica já voltou a ser aquecida. No entanto, temos problemas para realizar investimentos, visto que o crédito está caro e é comum empresas buscarem por capital de terceiros para a realização de grandes investimentos, usualmente créditos de instituições financeiras, que se baseiam na taxa referencial de juros (Selic) para precificar o crédito”, destaca.
Com o barateamento do crédito, as empresas vão poder gerar ganho de produtividade, impulsionando também a geração de empregos.
“O nosso maquinário, que está defasado em relação ao resto do mundo, poderá ser aprimorado, e esses possíveis ganhos poderão refletir em outros setores da economia, como emprego, renda e consumo”, pontua Matos.
No Estado, o corte na Selic deve beneficiar principalmente a agroindústria.
“Em Mato Grosso do Sul, a indústria, em especial a agroindústria, que é pujante, se beneficiará caso linhas de crédito empresariais tiverem redução nos juros cobrados, o que fortalecerá a cadeia produtiva que envolve o agro, a indústria e serviços auxiliares, ou seja, é esperado que a redução da SELIC traga bons frutos para a economia sul-mato-grossense”, conclui Matos.
Segundo o mestre em economia, Eugenio Pavão, ainda é difícil prever as consequências para a economia, já que os efeitos da redução só vão se tornar perceptíveis daqui pouco mais de três meses.
“Quando a Selic cai, o período para atingir empresas e consumidores vai de três meses para frente, assim, a queda nesta reunião do Copom irá começar a fazer efeito a partir de novembro”, explica.
Pavão acrescenta que o uso da taxa de juros é a forma mais rápida de resposta para conter a inflação, para esfriar o crescimento econômico.
“Os investimentos retornam com a queda da taxa de juros, os empresários tomam empréstimos, fazem uso dos recursos para montar a loja/comércio serviço. Com o processo de inflação mundial, a utilização do instrumento da taxa de juros serve para esfriar a economia, podendo levar a uma recessão”, conclui.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em junho, o indicador ficou negativo em 0,08% e acumula 3,16% em 12 meses . Nos últimos dois meses, a inflação vem caindo por causa dos alimentos e dos combustíveis.
O índice fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia 2023 em 5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista para baixo na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de setembro.
As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,84%. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,98%.
Crédito mais caro
A redução da taxa Selic ajuda a estimular a economia. Juros mais baixos barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 2% para a economia em 2023.
O mercado projeta crescimento maior, principalmente após a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas) cresceu 1,9% no primeiro trimestre . Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 2,24% do PIB em 2023.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.
FONTE: CORREIO DO ESTADO