A guerra entre a Rússia e a Ucrânia causou um descontrole nos preços dos fertilizantes em 2022. Para este ano, o custo dos produtos utilizados nas plantações do Estado registrou queda de 48% no primeiro semestre, conforme balanço da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS).

Contudo, apesar de ainda não haver dados concretos para os custos de produção da safra de soja 2023/2024, economistas do setor agropecuário alertam para um alto custo na cultura da próxima safra em MS.

De acordo com os especialistas, a compra tardia dos insumos refletirá nos custos para implantação da cultura.

“O custo desses insumos deve impactar, sim, a produção, porém, menos quando comparado com o aumento de 27% observado na safra 2022/2023, quando os preços estavam elevados em virtude do receio de não se conseguir importar, provocado pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia”, compara a coordenadora econômica da Aprosoja-MS, Renata Farias.

Para o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, a oscilação dos preços dos insumos é um velho problema que o produtor rural enfrenta nos meses que antecedem o início da safra de verão.

“A primeira questão que precisamos pontuar é o fato de muitos produtores estarem se preparando para a nova safra, que deve começar a ser plantada em meados de setembro, com o fim do vazio sanitário. Toda essa preparação, somada aos atrasos nas aquisições dos fertilizantes, corroboram para um quadro de elevação nos preços dos insumos”, explica.

O economista ainda contextualiza que ao longo do ano muitos produtores tiveram receio de adquirir os insumos, mesmo com valores reduzidos.

Seja pela descapitalização, seja pelo temor de repetir o mesmo erro que cometeram no início da guerra na Ucrânia, em que as tensões forçaram uma falsa perspectiva de escassez de fertilizantes no mundo.

“Há um risco muito grande quando o mercado está instável. Esses insumos são, em sua maioria, dolarizados e têm impactos muito significativos nos custos finais da safra”, diz Melo.

Ele ainda frisa que o produtor rural preferiu esperar desta vez e se capitalizar para a compra, o que reduziu os seus riscos, mas reduziu também a janela de meses que antecedem o início da safra verão, ocasionando uma concentração das compras a partir deste segundo semestre.

“O grande problema está na logística dos fertilizantes. Quanto mais perto da safra, maior é o risco logístico na entrega dos insumos. Dado que a perda da janela ótima de plantio pode acarretar perda de produtividade, caberá ao produtor rural agora competir pelos insumos que estão disponíveis no mercado”, conclui Melo.

O custo da produção de soja em Mato Grosso do Sul para a safra 2023/2024 ainda está sendo calculado pela Aprosoja-MS. Nos últimos dois anos, o valor gasto para produzir aumentou 42,14%. Na safra 2020/2021, o valor investido por hectare era de R$ 4.826,26, já em 2022/2023 o investimento foi de R$ 6.860,08.

PREÇOS

O relatório da Aprosoja-MS aponta uma queda significativa para os principais fertilizantes importados por Mato Grosso do Sul. Com destaque para o NPK (sigla que designa a relação dos três nutrientes, nitrogênio, fósforo e potássio), com redução de 58% no primeiro semestre.

Em 2022, a média por tonelada do produto era negociada a R$ 6.900, e em 2023 o preço caiu para R$ 2.900 por tonelada.

O cloreto de potássio (KCL) é comercializado, em média, por R$ 2.700 em 2023, enquanto no ano passado era vendido a R$ 6.200, gerando variação negativa de 56%.

Já o fosfato monoamônico (MAP) registrou redução de 30% na comparação com média praticada em 2022. No primeiro semestre do ano passado, o insumo era comercializado a R$ 5.200, enquanto no primeiro semestre de 2023 a tonelada foi vendida por R$ 3.625.

No total, a Aprosoja-MS destaca um decréscimo médio de 48% no preço dos fertilizantes em junho de 2023, no comparativo com o mesmo mês do ano anterior.

IMPORTAÇÃO

No primeiro semestre de 2023, a importação de fertilizantes em Mato Grosso do Sul apresentou retração de 15,3%. De acordo com o boletim da Aprosoja-MS, a queda ocorre no comparativo com o ano anterior.

Em 2022, foi registrado o volume de 745,49 mil toneladas de fertilizantes importados, já de janeiro a junho de 2023 foram movimentadas 631,54 mil toneladas.

Os fertilizantes nitrogenados (N) somaram 162,62 mil toneladas nos primeiros seis meses de 2022. Enquanto em 2023 foram 160,22 mil toneladas importadas do adubo, o que resultou em um recuo de 1,48% no semestre.

Os fertilizantes de potássio (K) corresponderam a um total de 268,24 mil toneladas importadas em Mato Grosso do Sul. Entretanto, no ano passado o volume que entrou no Estado chegou a 287,51 mil toneladas, ou seja, queda de 6,70% no acumulado do ano.

Com menor contribuição, os fertilizantes fosfatados (P) apresentaram a maior retração na atividade comercial para MS, com -79,6%. Acumulando 17,67 mil toneladas no intervalo de janeiro a junho deste ano, ao passo que o resultado de 2022 foi de 86,59 mil toneladas do aditivo para terra.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO