No primeiro dos presumíveis quatro ou cinco dias de julgamento pela morte do então acadêmico de Direito Matheus Xavier, 20, crime ocorrido em 9 abril de 2019, em Campo Grande, iniciado nesta segunda-feira (17) os defensores dos réus, entre os quais Jamil Name Filho, o conhecido Jaimilzinho, um ex-policial civil e um ex-guarda municipal, os advogados dos réus tentaram menosprezar as 15 mil páginas do processo judicial que aponta o trio como os principais suspeitos pelo fuzilamento do rapaz.

Uma das linhas da investigação destaca que quem deveria morrer seria Paulo Xavier, o PX, pai de Matheus, um oficial da Polícia Militar, desafeto de Jamilzinho. Julgamento em questão deve acaber sexta ou sábado, um dos mais longos que se tem notícia em Mato Grosso do Sul.

Dois pistoleiros foram de carro para a frente da casa de PX, bairro nobre da cidade e, lá, dispararam tiros de fuzil contra uma caminhonete que saia da garagem. O pai estava na casa, mas pediu para o filho sair com o carro cumprir uma tarefa, pois ele estaria estudando para concurso público.

Conclusões da apuração apontam que os matadores de aluguel crivaram de bala o veículo sem notarem que quem o guiava era Matheus, o filho, não PX, que é capitão reformado [o mesmo que aposentado] da Polícia Militar de MS.

A partir deste crime, ruiu a organização criminosa supostamente chefiada por Jamilzinho e o pai dele, Jamil Name, que morreu aos 82 anos de idade, de Covid-19. Name pai ficou encarcerado por dois anos, antes de adoecer e morrer em hospital de Mossoró, onde fica a prisão federal que abriga o filho.

Cinco meses depois do assassinato do rapaz, o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Bancos, Assaltos e Sequestros) e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, deflagrou a Omertà, operação que descortinou a máfia.

O bando, sustenta a investigação, teria ligações com crimes de milícia armada a práticas de desobstrução de justiça, corrupção ativa, aquisição de armas de fogo de uso restrito, extorsão e lavagem de dinheiro, entre outros delitos.

Neste primeiro dia de julgamento, que durou ao menos oito horas e foram ouvidos três delegados da Polícia Civil que agiram na investigação e também PX, o pai da vítima, defensores dos réus, por diversas vezes encurralaram os policiais que prestaram depoimento questionado-os sobre a veridicidade do relatório de 15 mil páginas que reclinaram Jamilzinho,  Vladenilson Olmedo, o ex-policial civil e Marcelo Rios, ex-guarda civil, no banco dos réus.

A dupla pistoleira seria, segundo a investigação do Gaeco e Garras, José Moreira Freire, o Zezinho e Juanil Miranda Lima, ligados à família Name, conforme a apuração.

Zezinho foi morto numa suposta troca de tiros em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em dezembro de 2020. Juanil sumiu do mapa desde o crime do rapaz. Nunca se soube o que Zezinho, que morava em Campo Grande, fazia no RN, lugar da prisão de Jamilzinho, quando morto.

Uma filha de Juanil procurou a polícia atrás da notícia do pai, mas ninguém sabe ao certo por onde ele anda.

DEPOIMENTOS

O oficial reformado, PX, ao depor, disse que trabalhou para a família dos Name, como segurança de Jamilzinho.

Um dia depois do crime, afirmou o depoente, Jamilzinho chamou PX para conversar com ele, em sua casa.

O pai do acadêmico morto, que ainda não havia sido sepultado naquele dia, afirmou que Jamilzinho propôs a ele R$ 10 mil e o orientou a sumir.

O militar reformado também contou que deram-lhe uma garrafa d’água para beber, mas, por acreditar que poderia ser vítima de eventual envenenamento, recusou a oferta e foi embora.

PCC NA LISTA

Pela manhã e à tarde, a defesa de Jamilzinho pressupôs a ideia de desassociar a morte do filho de PX com a família Name.

Comentou e questionou os delegados que trabalharam na investigação se em algum período das diligências os policiais suspeitavam que PX pudesse ter algum envolvimento com Sérgio Carvalho, ex-major da PM de MS, hoje encarcerado na Bélgica, por tráfico internacional de drogas.

A defesa exibiu ainda no julgamento uma fotografia de Juanil, que seria um dos pistoleiros, com parte do corpo tatuado com o símbolo do PCC, organização ligada também o tráfico de drogas e organização criminosa.

Os questionamentos ficaram no vazio. Os delegados disseram desconhecer o suposto envolvimento de PX com o major Carvalho e também com o PCC.

Catorze anos atrás, em 2009, Paulo Xavier, o PC, foi  detido sob a acusação de que estava a serviço do major Carvalho na exploração de máquinas caça-níqueis em Campo Grande.

Anos depois, contudo, foi inocentado de 54 acusações que rolavam contra ele, conforme disse Paulo Xavier em entrevista ao Correio do Estado, semana passada.

A única condenação, assegurou PX, foi porque ele tinha empresa particular (de transportes e de material de construções) no mesmo período em que ainda era PM, o que é proibido por regra militar.

Noutras partes do depoimento, os delegados eram severamente questionados quando citavam as ligações de Name pai e filho com a suposta organização criminosa, a dupla suspeita de matar o acadêmico, entre as quais.

Ao depor, o delegado da Polícia Civil Carlos Delano de Souza, narrou um episódio que teria enfrentado 20 dias depois de assumir a chefia de uma delegacia que começou a investigar a organização.

Ele disse que logo depois da morte do acadêmico foi avisado por um colega delegado que não seria mais o chefe da delegacia e que soube, depois, que a “ordem” teria sido determinada por Jamil Name pai. À época, disse ele, o diretor-geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas.

Fora do comando da delegacia que cuidava de casos de homicídio, Delano foi cumprir expediente da Corregedoria da Polícia Civil, segundo o depoimento dele.

NAME x PX

A disputa pela posse de uma fazenda com mais de 19 mil ha, situada aos arredores de Jardim, foi apontada como causa do atentado que teria sido mal sucedido e que resultou na morte de Matheus Teixeira.

Durante os depoimentos desta segunda, o episódio foi comentado. Jamilzinho, o pai, a mãe e um amigo da família, Joenildo de Souza Chaves, que já presidiu a máxima corte de MS, o Tribunal de Justiça, e um advogado paulista, Antônio Augusto de Souza Coelho, jantavam juntos. Houve uma discussão, e Jamilzinho teria partido para cima do advogado, que estaria com o domínio das terras.

O ex-presidente do TJ, separou a briga. O advogado, diabético, passou mal, foi levado para o hotel e, de lá, para o aeroporto e retornou a São Paulo, onde teve de se internar num hospital.

PX teria se aproximado do advogado depois desse episódio e isso irritou Jamilzinho. Este seria o motivo principal da ira do Name contra PX.

Já PX, nega que tenha se juntado ao advogado para defender seus interesses na área disputada pelos Name. Ele disse que aproximou-se do advogado justamente por orientação dos Name.
 

FONTE: CORREIO DO ESTADO