A inadimplência em Mato Grosso do Sul chegou ao número recorde de 1,016 milhão de pessoas com o nome negativado em março deste ano, um aumento de 29,54%, ante os 784 mil registrados em março de 2019. Os dados são do indicador da Serasa de inadimplência do consumidor.
Ainda conforme o levantamento enviado ao Correio do Estado, o valor médio das dívidas é de R$ 5.014, elevação de 20% no comparativo com o mesmo período de 2019.
Já o valor total devido no Estado subiu 55,77% no intervalo de cinco anos: em 2019, os sul-mato-grossenses deviam R$ 3,272 bilhões e, neste ano, o montante passou a R$ 5,097 bilhões – R$ 1,825 bilhão a mais.
A inadimplência é a incapacidade de quitar as dívidas. Levando em conta as condições atuais dos agentes econômicos, o mestre em Economia Eugênio Pavão ressalta que um dos fatores determinantes para a situação é a existência de uma crise econômica no Brasil, influenciando na queda do Produto Interno Bruto (PIB).
“Esse cenário foi alterado no [período] pré-pandemia, com queda nos juros, mas com processo inflacionário, desemprego, etc., levando parcelas da população a se utilizar de dinheiro, cartão de crédito, cheque especial e até agiotas. O resultado foi uma situação de penúria”.
Detalhando a situação que corroborou para elevação da inadimplência, Pavão destaca que a pandemia foi um forte agravante.
“Esse quadro se aprofundou, trazendo queda do PIB, redução da atividade econômica e queda da renda. Isso fez com que o que estava ruim se tornasse pior”, pondera.
O economista relata ainda que famílias tiveram de fazer escolhas. “Optar por sobreviver – pagar dívidas, aluguéis e demais contas mensais que foi deixado para segundo plano. Isso tudo [conjuntura microeconômica e macroeconômica] fez aumentar a inadimplência, que teve como impacto a inflação, com redução da renda real”, avalia Pavão.
Ainda de acordo com o economista, o crescimento econômico ocorre de forma tímida na atividade, sendo o desemprego mais um fator a inflar a inadimplência.
“Atualmente temos juros altos, investimentos ainda em baixa e muitas empresas tentando se adaptar ao ‘novo mercado’, com intenso uso da tecnologia e tímida recuperação dos setores de serviços e comércio”, elenca.
Pavão enfatiza que, no campo das finanças pessoais, a facilidade de uso de dinheiro emprestado, com juros exorbitantes, é um dos principais lubrificantes da inadimplência, movido pelos juros de cartão de crédito, cheque especial, entre outros artifícios que minam a tendência econômica atual e futura.
“A saída para esse problema é a educação financeira desde os primeiros anos da escola. É a conscientização de que dinheiro fácil é a principal armadilha contra o patrimônio”, finaliza.
PERFIL
Entre os estados brasileiros, Mato Grosso do Sul figura entre os maiores níveis de inadimplência do País, com 48,03% da população adulta inadimplente, ocupando o sexto lugar. O Estado está empatado tecnicamente com Roraima (48,02%) e fica atrás do Amapá (52,44%), Amazonas (52,32%), Distrito Federal (51,13%) e o vizinho Mato Grosso (50,22%).
O mais recente levantamento da Serasa, com dados de março deste ano, indica que a inadimplência no Brasil segue crescendo, mas com desaceleração. Com um aumento de 180 mil pessoas, o indicador de inadimplência aponta 70,71 milhões de brasileiros com o nome restrito.
Com relação ao perfil dos inadimplentes, os brasileiros de 26 anos a 40 anos se destacam, representando 34,8% do total de inadimplentes. A faixa etária entre 41 anos e 60 anos representa 34,7%.
Já o valor médio do débito por pessoa indicado pela instituição é de R$ 4,73 mil. O montante total das dívidas é de R$ 334,5 bilhões em todo o Brasil. Atualmente, 43,43% da população adulta está no mapa da inadimplência.
Ainda de acordo com informações da Serasa, o inimigo número um da inadimplência é o cartão de crédito, responsável por 31,03% das dívidas no mês de março.
Em segundo lugar, estão as contas básicas, como água, energia elétrica e gás, com porcentual indicado de 22,02%. O varejo é o terceiro maior causador de inadimplência, com 11,29%.
As mulheres representam a maior parcela inadimplente no País, sendo 50,3%, ao passo que homens são 49,7%. Já no grupo faixa etária, há um empate técnico entre as faixas de 26 anos a 40 anos (34,8%) e de 41 anos a 60 anos (34,7%).
O gerente da Serasa Thiago Ramos ressalta que, quando o consumidor se torna inadimplente, ele não tem acesso a nenhum tipo de crédito, empréstimo e financiamento imobiliário ou de automóvel.
“Há estudos que comprovam queda da autoestima, elevação da ansiedade e depressão. O mesmo estudo destaca que, no caso de quem quitou a dívida, 45% acreditam que vão realizar sonhos de consumo este ano. Entre aqueles que não quitaram os débitos, esse porcentual cai para 28%”, detalha.
Uma das políticas a serem adotadas este ano será o incentivo à educação financeira.
Segundo Ramos, um problema grave acontece com os jovens universitários, que abrem uma conta bancária e, em seguida, recebem o cheque especial e o cartão de crédito sem ter uma renda compatível. “Neste caso, o resultado é um jovem adulto inadimplente”.
FONTE: CORREIO DO ESTADO