Alvo de investigação do Ministério Público e de queixas de fazendeiros que tiveram as terras alagadas no município de Batayporã depois da abertura das comportas, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) diz que as inundações possivelmente teriam sido bem piores se não fosse o controle de vazão feito na represa e nas outras usinas rio acima.
A afirmação é do gerente-executivo de geração hidrelétrica da Cesp, Luiz Paschoalotto. O volume máximo de liberação de água, no dia 21 de abril, chegou a 14,7 mil metros cúbicos por segundo na usina de Porto Primavera.
Se não fossem as usinas, acredita ele, a vazão no rio Paraná teria chegado a até 20 mil metros cúbicos em alguns dias, o que teria causado danos bem maiores aos que foram registrados neste ano na região.
Ele diz que o volume de chuvas ficou cerca de 15% acima da média histórica em toda a bacia do Rio Paraná. E, apesar de alguns dias com grandes volumes de chuva, esta água foi represada e liberada aos poucos.
Mesmo assim, três grandes picos de cheia atingiram as fazendas em Batayporã, com o nível da água subindo quase dois metros em menos de 24 horas. A inundação ocorreu porque o Rio Paraná represa o Rio Bahia e este se espalha pela planície de sete fazendas.
Cerca de nove mil hectares foram inundados a partir de 18 de janeiro, quando as comportas foram abertas pela primeira vez. A vazão acima do normal se estendeu até o começo de maio. Depois disso, o nível do Rio Paraná já baixou cerca de cinco metros e voltou ao leito, mas as fazendas seguem parcialmente tomadas pela água, sem pastagens e milhares de bovinos ainda não retornaram às áreas afetadas.
O lago da usina Porto Primavera tem 225 mil hectares e se estende por 230 quilômetros, chegando à usina de Jupiá, em Três Lagoas. Embora não tenha sido projetado para funcionar como reservatório, já que está numa área de grande planície, a capacidade de ajudar na regulação do nível do rio Paraná é fundamental, segundo a assessoria da Cesp.
Em época de chuvas intensas, o nível da água pode subir, no máximo, 30 centímetros. A princípio, isso parece pouco. Porém, num lago de com dimensões gigantescas, a quantidade de água retida é fundamental para regular cheias que seriam prejudiciais a jusante da represa, explica Paschoalotto.
Porto Primavera tem capacidade para produzir 1,5 mil megawatts de energia com as 14 turbinas. Porém, a produção média é de 887, o que é suficiente para abastecer uma cidade com três milhões de habitantes. A usina tem capacidade para instalar mais quatro turbinas, mas não existe previsão para que isso ocorra.
E, ao contrário do que se poderia imaginar, no período de chuvas abundantes, a produção de energia caiu drasticamente em Porto Primavera, pois as demais usinas também geraram volume acima do normal e o consumo em todo o país caiu, já que as temperaturas durante o verão chuvoso foram amenas.
HISTÓRICO
A construção da usina começou ainda na década de 80, mas foi inaugurada somente em fevereiro de 1999. A operação total ocorreu somente três anos depois, mas raramente opera com a capacidade máxima. Atualmente, a hidrelétrica opera com apenas 55 funcionários, incluindo uma dezena deles que são responsáveis por um viveiro que produz 800 mil mudas de espécies nativas da região por ano.
Com barragem de 10,2 quilômetros, a maior do país, a hidrelétrica tem também o maior lago. Dos 225 mil hectares inundados, 85% estão do lado de Mato Grosso do Sul, onde o terreno é mais baixo e plano que do lado paulista.
Para efeito de comparação, o lago tem 25 mil hectares a mais que o de Itaipu e com 14 turbinas pode gerar até 1.540 megawatts. Itaipu tem 20 turbinas e cada uma gera 700 megawatts. Ou seja, apenas duas turbinas de Itaipu equivalem à produção de Porto Primavera inteira.
Em 2018, depois de fechar um acordo judicial que estipulou em R$ 583 milhões o volume de indenizações aos municípios sul-mato-grossenses que tiveram terras engolidas pelo lago (as ações judiciais pediam R$ 2,2 bilhões), a usina foi vendida pela governo paulista e arrematada por um consórcio formado pelo grupo Votorantim e um fundo de investimentos do Canadá.
O valor da outorga (“venda”) foi estipulado em R$ 1,33 bilhão. Quatro anos depois, a empresa obteve direito a uma indenização superior a R$ 4 bilhões (em valores atualizados) por parte do Governo Federal, a ser paga ao longo de sete anos.
Parte desta indenização já foi computada no balanço de 2022 e por isso a Cesp fechou 2022 com lucro líquido de 2,44 bilhões de reais, o que representa mais de um bilhão de reais acima do valor que os compradores pagaram quatro anos antes pelo direito de explorarem a usina por 30 anos.
FONTE: CORREIO DO ESTADO