“Desculpe, mas você é um nazista”, diz Helena, personagem de Phoebe Waller-Bridge, enquanto despacha um deles para o inferno em uma cena de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, exibido em sessão de imprensa na manhã de hoje no Festival de Cannes, fora de competição. O longa dirigido por James Mangold, que ocupa o lugar de Steven Spielberg, estreia nos cinemas brasileiros em 29 de junho.
Os nazistas sempre foram os grandes inimigos de Indiana Jones (Harrison Ford) na trilogia original, lançada nos anos 1980. Eles eram os adversários naturais, já que aquelas produções se passavam na década de 1930. Mas quem poderia prever que Indiana Jones e a Relíquia do Destino seria lançado em uma época em que enfrentar o nazismo e o fascismo continua relevante?
A trama aqui acontece em 1969, quando o mundo mudou radicalmente. As mulheres, que até eram atrevidas nos filmes anteriores, mas tinham participação pequena, agora ajudam a carregar a história. Há negros e pessoas de todos os tons povoando a tela mais abertamente – um sinal dos nossos tempos, que procuram refletir de maneira mais realista o mundo à nossa volta.
O nazista da vez é Schmidt (Mads Mikkelsen), que acaba de ajudar os Estados Unidos a colocarem os primeiros homens na Lua e tenta convencer militares da inutilidade do artefato que Adolf Hitler quer para vencer a guerra, nesse ponto já praticamente perdida. Mas ele está em posse de outro, desenvolvido pelo matemático grego Arquimedes, que possibilitaria viagens no tempo, facilitando assim a vitória nazista. No fundo, ele é um ressentido. Pergunta a um garçom negro de onde ele vem originalmente e diz para Indy que “este é um mundo que não se importa com homens como nós dois”, querendo dizer brancos de meia-idade.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino é inteiro dedicado ao tempo. Schmidt quer conquistá-lo, ter domínio sobre ele. E o personagem principal – e seu ator – sabe que o seu está acabando. Mas isso não quer dizer que não possa contribuir, nem que precise ficar preso ao passado, seja da história com H maiúsculo ou de sua trajetória particular.
Indy pode estar cansado, solitário e aposentado como professor, mas não vai deixar os nazistas ganharem essa parada. Pode até precisar da ajuda da afilhada Helena , que reencontra após muitos anos. Arqueóloga como seu padrinho, ela também está atrás da relíquia, mas em princípio por outros motivos que não a preservação da história ou sua reforma.
O filme tem os elementos fundamentais de uma produção com Indiana Jones: enigmas a serem decifrados, diálogos espertinhos, uma certa rabugice do personagem titular e, lógico, insetos e cobras, em uma variação divertida aqui. Mesmo que não haja grandes novidades e o charme não seja o mesmo dos originais, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é uma despedida afetuosa para um dos personagens mais populares do cinema e para o ator na pele do aventureiro. Indy e Ford mereciam, e nós, também.
Fonte: Omelete