Especialistas consultados pelo Correio do Estado avaliam que o caos na saúde pública de Campo Grande, que enfrenta aumento de internações, está relacionado com a baixa cobertura vacinal contra a influenza em 2022. No ano passado, apenas 43,40% dos públicos-alvo se imunizaram contra a gripe, entre eles, crianças de seis meses a cinco anos de idade.
As crianças são as mais acometidas pela síndrome respiratória aguda grave (SRAG). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), 211 bebês menores de um ano de idade foram notificados com SRAG neste ano. Logo depois vêm 162 casos em crianças de um a quatro anos de idade.
É justamente até os três anos de idade que o sistema imunológico ainda não está completo, conforme explica o médico pediatra Alberto Costa.
Segundo ele, é em razão desse fator que a população infantil está mais suscetível a doenças, principalmente as infecções das vias aéreas, tanto inferiores quanto superiores, como resfriados, bronquiolites e pneumonias.
No total, Campo Grande já registrou 772 casos de SRAG nos três primeiros meses deste ano. Desses, 373 são em crianças menores de quatro anos.
De acordo com a Sesau, das 57,4 mil crianças na faixa etária da vacinação contra a influenza, apenas 19,67% foram imunizadas, o que representa 11.295 doses aplicadas contra a gripe no ano passado.
Ao Correio do Estado, o médico infectologista Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), relata que a adesão à vacinação, tanto da gripe quanto da Covid-19, está diretamente relacionada ao aumento do número de casos de síndromes respiratórias este ano.
“No momento, temos três vírus respiratórios que são responsáveis pela maioria das internações, VSR, Covid-19 e influenza. Para dois deles temos vacinas”, comentou o infectologista.
O pediatra Alberto Costa também confirmou a relação da cobertura vacinal com os casos de influenza.
“As crianças a partir dos seis meses devem se vacinar, porque a Covid-19 também é uma das doenças muito prevalentes nas crianças ainda na nossa região, no nosso país, e são doenças que causam internações, problemas respiratórios e até óbitos”, comentou o médico.
SUPERLOTAÇÃO
O aumento dos casos de SRAG em Campo Grande causou uma superlotação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), e a prefeitura da Capital informou por meio de nota que realizará uma chamada pública para a contratualização de leitos na rede particular de Campo Grande.
Porém, dois hospitais particulares da Capital já sinalizaram que também estão passando por um aumento significativo de internações. A assessoria de comunicação do Hospital Cassems informou que está com 95% de ocupação.
A Unimed Campo Grande relatou um aumento significativo no número de atendimentos nos prontos atendimentos adulto e pediátrico nas últimas semanas. De acordo com a assessoria do hospital, a maioria dos casos é decorrente de doenças respiratórias.
Na rede pública, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) informou que opera com 100% de ocupação na UTI pediátrica e uma vaga disponível na UTI adulto. Já o Hospital Universitário (HU) relatou que os 232 leitos, entre adultos e pediátricos, estão 100% ocupados.
A Santa Casa também opera acima da capacidade. Em atualização, a unidade informou que cinco crianças estão na área vermelha pediátrica, todas elas entubadas. A capacidade técnica da ala é de apenas três leitos.
Na área verde, são 10 pacientes pediátricos, sendo sete internados e três em observação.
No pronto-socorro adulto, a superlotação também é uma realidade. Na área vermelha, 17 pacientes estão internados, sendo a capacidade do local de apenas seis leitos. Desses, 14 aguardam leitos de UTI.
Na área verde há 38 pacientes, sendo 22 internados, e a capacidade total é de sete leitos. A Santa Casa também informa que aguarda a chegada de outros três pacientes graves e 10 para a ala verde.
VACINAÇÃO
O infectologista Julio Croda alertou sobre a importância da vacinação, principalmente na faixa etária das crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas, pois esses grupos têm maior risco de internação.
“Devem se vacinar crianças, principalmente as que não contam com o esquema inicial para a Covid-19 e que não receberam a vacina contra a gripe no ano passado”, disse Croda.
Croda destaca que os grupos de idosos e imunocomprometidos já podem receber a dose bivalente contra o coronavírus e devem ir aos postos de saúde o quanto antes complementar o esquema vacinal com a dose de reforço.
FONTE: CORREIO DO ESTADO